Eldorado/Estadão - “Casa onde falta pão todo mundo berra e ninguém tem razão”. Por que podemos dobrar o PIB do Brasil? Hora de subordinar a “egonomia à economia”.
Publicado em 01/07/2024
DivulgaçãoNo Estadão deste domingo (dia 30 – Pág. B7) celebrando 30 anos do Plano Real, Edmar Bacha concluiu: “o que a gente não conseguiu foi colocar essa economia numa trajetória de crescimento sustentado. O Brasil tem patinado. Eu acho que o Brasil continua a ter um problema de crescimento”, um dos artífices do Plano Real. Então precisamos provocar e incomodar, por meio da mídia, uma reunião de governo muito além de polarizações, com a academia e empresários, para termos um plano de crescimento de estado, integrando governo e empresários, pois serão estes que farão o crescimento do PIB. Portanto, por que podemos dobrar o PIB do agro e do país de tamanho?
Em primeiríssimo lugar por termos condições científicas, técnicas, empreendedorismo, cooperativismo e um país único na sua biodiversidade com a realidade de ser a maior potência alimentar, energética e ambiental do mundo. Somos já e agora o maior sequestrador net mundial de carbono da atmosfera. E temos uma civilização tropical criativa e admirável. Não somos perfeitos. Mas aqui neste planeta ninguém é.
Em segundo lugar porque o mundo precisa de nós, exatamente pelas competências que desenvolvemos nos últimos 50 anos face ao que o próprio ministro Roberto Rodrigues configurou como os quatro modernos Cavaleiros do Apocalipse: insegurança alimentar, energética, desigualdade social, mudança climática.
O mundo receberá novos 2 bilhões de pessoas nos próximos 25 anos. Isso vai ocorrer em nove países: Índia, Paquistão, Indonésia, Estados Unidos, Nigéria, Uganda, Tanzânia, Congo e Etiópia. Por si só significa um gigantesco mercado para alimentos, energia, fibras e, exceto Estados Unidos, esses países estão em todo ou boa parte dentro da faixa tropical do planeta, entre os trópicos de Câncer e Capricórnio. O Brasil superou a parábola do semeador que diz: “não semeie em terras fracas”. Aprendemos a criar solos e somos hoje a 4ª maior agricultura da terra e podemos, além de exportar alimentos, fibras, energia, gastronomia, turismo, exportar tecnologias tropicais.
Os países em desenvolvimento como Índia, com cerca de 1.4 bilhão de seres humanos, irão dobrar sua renda per capita. Significa muito mais alimentos. China que em 2024 vai crescer 5% significa crescer neste ano um “meio” Brasil. Em dois anos cresce “um” Brasil. Representa mercado, e nestes dois gigantes, China e Índia, as suas agriculturas são milenares já explorando seus potenciais quase plenos.
Conversei com Paulo Rabello de Castro, economista brilhante, a respeito do nosso PIB, apenas 2% do mundo, e ele expôs: “nossa ineficiência fica mais grave se compararmos quanto à população de cada país acrescenta ano a ano. Somos cerca de 215 milhões, e a China cerca de 1,4 bilhão, ou seja, cerca de 6,5 vezes mais. Entretanto se crescermos 2% no PIB, o Brasil acrescenta apenas US$ 40 bilhões, enquanto a China vai acrescentar mais de US$ 1 trilhão. Portanto, eles têm cerca de 6,5 vezes mais população, mas estão colocando 25 vezes mais produção anual, eis a nossa ineficiência”.
O Brasil tem o único território pleno de biodiversidade em seis distintos biomas, com sub-biomas, e tem prontos à disposição um plano para converter 40 milhões de hectares de áreas de pastagens degradadas em cultivos sustentáveis com agroindustrialização, ciência e tecnologia. E na biodiversidade podemos efetivar uma governança que gere produtos e serviços para os consumidores de alta renda, em mercados sofisticados compondo valor agregado extraordinário em paralelo às nossas commodities, e promovendo dignidade humana para milhões de brasileiros na faixa da desigualdade social.
“Não existe país subdesenvolvido, existe país subadministrado”, escreveu Peter Drucker.
Falta plano estratégico com líderes conscientes onde a “egonomia” fique subordinada à economia da cooperação. Dobrar o PIB de tamanho em 10 anos? Quando me dizem ser algo impossível mais eu creio na sua total possibilidade.
José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão.