CABEÇA
DE LÍDER

José Luiz Tejon

Eldorado/Estadão - Código Florestal autoriza desmatar 20% da Amazônia, mas o mercado mundial não quer. E agora?

Publicado em 04/05/2022

TCA
Amazônia

Três perguntas:

1- Iremos para uma Amazônia preservada, inteligente, empreendedora e digital?

2- Qual o valor da marca mais valiosa do planeta terra hoje: Amazônia?

3- Qual o Produto Interno Bruto (PIB) que poderíamos obter com inteligência nesse bioma desejado pelos consumidores do mundo todo?

E sobre o valor da Amazônia registro como curiosidade onde a empresa Amazon Book, do Jeff Besos, deverá faturar em 2022 cerca de US$ 729 bilhões, o que significa cerca de 42% do total do PIB do Brasil.

Então com esta provocação incomodante, vamos adiante. Desmatamento, se prosseguir, pode gerar prejuízo de US$ 1 bilhão por ano na agricultura. Este foi um alerta da FAO sobre a situação de florestas mundiais. Mas com certeza isso não deverá ocorrer no Brasil, pois a sensatez aliada ao conhecimento irá prevalecer.

Temos modelos ecossistêmicos prontos que já podemos observar com o cacau na Amazônia, com o assaí, com a palma, a piscicultura, essências, farmacêuticos, ecoturismo, a cosmética, e mesmo com a pecuária sustentável e a madeira trabalhada em modelos de preservação, onde o convívio com a floresta em pé representa a fórmula também da bioeconomia, e através de cooperativas de ribeirinhos, e do povo da floresta. A Embrapa sabe exatamente como e o que fazer nessa integração floresta, ambiente negócios e seres humanos gerando riqueza.

Uma recente iniciativa de um chocolatier nascido como quilombola, o de Mendes, fechou a primeira exportação de chocolates com cacau das comunidades yanomani e paiter surui, lá da região de Santa Bárbara no Pará, tudo produzido sob compliance, rastreabilidade e contratos com as comunidades ribeirinhas, indígenas e quilombolas. Isso significa um dentre muitos exemplos da bioeconomia possível e real amazônica.

A floresta sem o desenvolvimento de ciência, equipamentos e boas práticas, sem a prosperidade econômica dos seus habitantes vira pobreza e, pior, vira uma fonte de recrutamento de seres humanos para o crime e a ilegalidade.

Agora o ministro do meio ambiente, Joaquim Leite, lança o Programa Metano Zero, onde resíduos, dejetos, lixo vira riqueza de gás natural renovável, biofertilizantes, bioeletricidade e biometano para mover todos os veículos. Conversei com agentes do setor financeiro ontem, onde todos esperam a regularização e as métricas para o mercado de carbono e não tem dúvida de que esse mercado será fortemente monetizado nos próximos 3 anos. E ouvi deles: “florestas preservadas e administradas valerão mais do que derrubadas”.

O desmatamento estimado no mundo, de 1990 a 2020, ficou em 420 milhões de hectares segundo a avaliação global de recursos da FAO. Brasil, Canadá e Rússia tem 61% das florestas primárias do mundo.

Com desmatamento afetamos o regime de chuvas como mostram os estudos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), de Viçosa e da Universidade de Bonn, na Alemanha, e isto causaria prejuízos avaliados em mais de “US$ 1 bilhão por ano até 2050”, segundo a FAO, “com a queda na produção da soja e pecuária”.

Geração de renda em florestas conservadas, ao contrário, significariam grande aporte de riqueza para o país e toda população amazônica. Para isso precisamos de uma política com incentivos para agricultores e produtores florestais, além de uma forte ação das forças da lei no combate ao crime e ilegalidade na região.

Mas fica aqui a pergunta: qual o valor de mercado de uma Amazônia preservada? Qual o PIB que conseguiríamos nesse bioma com inteligência, preservação, ciência, cooperativismo e empreendedorismo? Com certeza muito mais faturamento do que Jeff Besos obtém hoje na sua Amazon Book (US$ 729 bilhões, estimado para 2022). Simplesmente somente essa organização com o nome Amazon fatura 42% do total do PIB do Brasil hoje.

Se o PIB do Brasil está na casa de US$ 1.7 trilhão, uma Amazônia inteligente sozinha traria um valor para dobrar o PIB do Brasil de tamanho com dignidade humana para todos. E quando ando por lá, vejo gente boa fazendo muito bem feito o que deve ser feito nas atividades agropecuárias sustentáveis amazônicas. Sabemos fazer.

Amazônia, a marca mais valiosa do planeta terra. Vamos parar de brigar e perguntar quanto isso vale e como podemos monetizar?

José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão.

 

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