CABEÇA
DE LÍDER

José Luiz Tejon

Eldorado/Estadão - “Comércio sem regra” virou vitimização mediática

Publicado em 21/07/2025

Divulgação
Pedro de Camargo Neto, ex-secretário da Secretaria de Produção e Comércio

Procurei um sábio brasileiro, aliás um legítimo “guerreiro”, que venceu duas ferozes batalhas na OMC, uma do açúcar na Europa e outra do algodão com Estados Unidos, onde hoje nos transformamos no maior exportador mundial, falei com Pedro de Camargo Neto, que foi presidente da SRB, liderou os contenciosos na OMC quando atuou no Ministério da Agricultura, na Secretaria de Produção e Comércio em 2004. É o único brasileiro mencionado no último livro de Ray Goldberg o criador do fundamento de agribusiness, com o título “Food Citizenship”.

E Pedro revela as sucessões de ataques, respostas e aguçamento, ausência de regras, gerando uma batalha de procurar culpados nos outros, a qual eu batizo de uma “estratégia da vitimização” que assola a polarização política e o comércio mundial.

Visão de Pedro Camargo Neto ⬇

“Comércio é um assunto que eu acompanho há décadas. A primeira vez que eu fui a Genebra foi em 1990 acompanhar regras de comércio agrícola especificamente. Agora o que a gente vive hoje é o oposto, não tem mais regra, tudo que foi acordado, era GATT, virou OMC, tarifas máximas, subsídios máximos, esses acordos, no fundo essas regras são lideradas pelos Estados Unidos, criadas nos pós-guerra com a liderança do país vencedor da guerra, os EUA, e ele se vê de costas para isso e começa a ameaçar com tarifas, é 20% para um, é 30% para outro, é 10% para não sei quem, e põe uma data, e muda a data, então entrou em uma discussão que não tem nada a ver com o período que eu vivi. Então é muito difícil falar o que vai ser amanhã. Antes você podia não gostar da tarifa, do subsídio, mas era o que estava escrito ali, era o que você havia aceito e combinado. Dois contenciosos que eu tive a alegria de iniciar e de liderar, o algodão com os Estados Unidos e o açúcar com a União Europeia era isso, os Estados Unidos não cumpria as regras de subsídios que estavam na OMC. Então você criava um caso em arbitragem e nós ganhamos os dois. Agora não tem onde reclamar porque não tem mais a regra, é muito difícil dizer, depois você tem grandes transformações que estão ocorrendo e o Brasil infelizmente em vez de ser impulsionado aqui no Sul, meio esquecido, fingir de morto, deixa lá os Estados Unidos brigar com a União Europeia, com o Canadá, com o México, com a China, com quem ele quiser, ficamos esquecidos aqui, não, provoca com uma visão terceiro mundista que já passou desafio hoje de você se inserir nessa nova geopolítica, com uma visão moderna, uma visão de novo, que eu não sei nem qual é, mas teremos de construí-la daí ainda por cima vai o filho do ex-presidente Bolsonaro vai lá e fica atiçando, e vem essa carta difícil de responder que se aguça com a resposta do presidente Lula, que se aguça com a resposta do ministro do Supremo, Alexandre de Moraes, que se aguça agora com o governo americano suspendendo o visto. Então a gente vive um momento de imprevisibilidade, muito ruim, é um perde, perde, ninguém ganha. Ganha os políticos, mas empresários, trabalhadores, consumidores certamente vão perder e é uma pena, é uma realidade. Eu não sei o dia de amanhã, espero que não seja pior”.

Quer dizer OMC – Organização Mundial do Comércio virou VMC, vitimização mundial do comércio. Portanto Pedro de Camargo Neto com uma experiência única nas batalhas comerciais, as que travou e venceu do açúcar e do algodão, evidencia a ausência total de regras, e termina enfatizando um “perde perde” para todos, onde só estão ganhando os políticos, afirmou Pedro de Camargo Neto.

A estratégia da vitimização fica evidente, nada novo pois lá mesmo no paraíso Adão colocou a culpa na Eva que colocou a culpa na serpente por terem comido o fruto proibido e Trump se vitimiza dizendo que o mundo usa e abusa sendo desonesto com os Estados Unidos e bota tarifaço.

Alega tarifaço justo para o Brasil porque o ex-presidente da República é vítima. Manda investigação contra o Pix, a 25 de março, o etanol, as vítimas big techs, e até o desmatamento, que vitimizam os Estados Unidos. Em resposta o Brics, vítima dos Estados Unidos, fala da moeda Brics, os Estados Unidos vira vítima dos Brics e responde, e o mundo inteiro vira um planeta de “vítimas” que para se protegerem de “vitimizadores” se antecipam, vitimizam primeiro, e sem dúvida alguma esse campeonato mundial da vitimização só tem um resultado final, o campeão erguerá a taça do perdedor mor, e todos os participantes irão de forma desonrosa ganhar medalhas de alumínio , com taxas de 100% no maior pior jogo perde perde da história humana.

Pedro de Camargo Neto disse só esperar que o dia de amanhã não seja ainda pior que hoje. Eu espero que os setores empresariais, com a sociedade civil organizada e a mídia responsável, tomem conta dessa zona sem regra e sem lei do comércio mundial trazendo juízo e bom senso para todos.

Numa conversa que tive com o Prof. Ray Goldberg, de Harvard, fundador dos fundamentos de agribusiness no mundo a resposta que ele deu para a pergunta da mensagem aos líderes qual seria? Disse: “unir o mundo, que está polarizado e dividido por políticos, o alimento é o único setor que tem a chance de reunir o mundo num só”.

Quem vai ganhar o campeonato mundial da vitimização comercial? Vai para? O artilheiro mor até agora é Donald Trump. Que o Brasil escape desse tenebroso jogo que amedronta, acovarda, e diminui o valor humano na terra.  Um total perde, perde.

José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão.

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