Eldorado/Estadão - Quantos agronegócios temos no Brasil?
Publicado em 17/05/2021
Divulgação IBGEPaulo Rabello de Castro no Estadão deste domingo (16) aborda a importância do Censo, e da mesma maneira importantíssimo este Censo para tirarmos uma fotografia atual dos distintos agronegócios que temos no país. Ele não é um só. O de exportação também não é o mesmo, enquanto somente a China responde por 73,2% da aquisição de toda soja grão do país, a fruticultura ainda luta para exportar US$ 1 bilhão de um mercado mundial de cerca de US$ 140 bilhões.
Algodão tem outra constituição e gestão, indústria da madeira outra, cana de açúcar e biocombustíveis é distinto, café cada vez mais menos commodity, carne bovina diferente das integrações de aves e suínos. Leite, arroz e feijão um mundo para crescer, suco de laranja perfeita logística quando comparada, e liderança mundial; trigo e cacau dependência externa, etc.
E se soja e milho significam quase 80% do Valor Bruto da Produção agropecuária do país hoje, puxados pelos preços altos em dólar e por um dólar alto no país, os setores da proteína animal lutam com o drama dos custos altos da ração, e as agroindústrias de aves, suínos, ovos passam a ter margens apertadas. Dos mais de 5 milhões de propriedades rurais, quantas têm acesso à inovação, quantas compram pelo menos fertilizantes, quantas estão acima da linha da pobreza? Um novo Censo é essencial.
Logo são muitos agronegócios, sendo que orgânicos, biodinâmicos e agricultura familiar não assumem estarem dentro da categoria de agronegócio, sua definição, na origem cabe a todos, o nome foi ficando como relativo somente às grandes culturas e grandes produtores. O que da mesma forma não é verdade. No agro cooperativista são mais de 1 milhão de agricultores que fazem 54% de tudo o que é produzido.
Mas há um outro grande drama no agronegócio, são quase 300 entidades, associações, que não se integram para uma só voz nas questões fundamentais e não dialogam. A agropecuária dentro do PIB do agronegócio representa 26% e o restante 74% está na indústria, comércio e serviços impactados e que impactam o dentro da porteira (Fonte: Instituto Millenium). Portanto uma coordenação das cadeias é fundamental, com planejamento estratégico.
E ainda, agora, há uma disputa entre segmentos bolsonaristas dos não bolsonaristas ou dos indiferentes. No último sábado, algumas entidades, ao lado da ministra Teresa Cristina, se uniram na manifestação de apoio a Bolsonaro, que promovia a intervenção militar, o voto no papel e a guerra ao comunismo.
Sem dúvida a categoria dos agricultores é exemplar e inspiradora para o país todo e todos os brasileiros. Mas ela tem dono? Quem deseja se apossar dos mais de 5 milhões de produtores rurais e suas famílias e em nome delas conduzir essa categoria para um lado ou outro da ideologia política?
Dentro da Constituição brasileira existe o papel dos sindicatos patronais e das confederações. Neste caso a Confederação Nacional da Agropecuária (CNA). Isso está escrito na Constituição. Em 1988, na constituinte, participamos e apoiamos Mário Covas, um dos líderes íntegros do país, e deixo aqui meus sentimentos pelo falecimento de Bruno Covas. Quem deseja falar em nome também dos outros 74% do antes e pós porteira das fazendas?
Quem fala em nome do agro? Quem diz que o agro é só dele? O que interessa ao agro, como um todo servir a este lado ou ao outro da política, quando ter como planejamento estratégico dobrar de tamanho e desenvolver segmentos ainda necessitados de prosperidade e diversificar produtos e mercados é o único comando que nos interessa. Ao campo e a cidade. Ao PIB do país. Somos uma só Nação.
Hora de voltar ao básico quando o conceito de agribusiness foi introduzido no país, no início dos anos 90 por Ney Bittencourt de Araújo (in memorian): “isto se trata de um complexo agroindustrial e precisa ser gerenciado como uma cadeia produtiva. Se um elo leva vantagem sobre o outro uma, duas, três vezes, mais cedo ou mais tarde, vai pagar um preço alto no outro lado do ciclo”.
Agronegócio é como a lua, a todos pertence mas não é de ninguém. Precisa de pacificação, bom senso, planejamento e coordenação. E sobre os produtores rurais? Sem dúida o elo mais frágil, gigantescamente numeroso, exposto e precisa, sim, de seguro e proteção. E são obviamente valorosos esta afirmativa vale para todo brasileiro lúcido. E que as ações filantrópicas de doação de alimentos contra a fome no país tenham continuidade em meio a esta dramática crise.
José Luiz Tejon para Eldorado/Estadão.