CABEÇA
DE LÍDER

José Luiz Tejon

Eldorado/Estadão - Quantos agronegócios temos no Brasil?

Publicado em 17/05/2021

Divulgação IBGE
Censo Agro

Paulo Rabello de Castro no Estadão deste domingo (16) aborda a importância do Censo, e da mesma maneira importantíssimo este Censo para tirarmos uma fotografia atual dos distintos agronegócios que temos no país. Ele não é um só. O de exportação também não é o mesmo, enquanto somente a China responde por 73,2% da aquisição de toda soja grão do país, a fruticultura ainda luta para exportar US$ 1 bilhão de um mercado mundial de cerca de US$ 140 bilhões.

Algodão tem outra constituição e gestão, indústria da madeira outra, cana de açúcar e biocombustíveis é distinto, café cada vez mais menos commodity, carne bovina diferente das integrações de aves e suínos. Leite, arroz e feijão um mundo para crescer, suco de laranja perfeita logística quando comparada, e liderança mundial; trigo e cacau dependência externa, etc.

E se soja e milho significam quase 80% do Valor Bruto da Produção agropecuária do país hoje, puxados pelos preços altos em dólar e por um dólar alto no país, os setores da proteína animal lutam com o drama dos custos altos da ração, e as agroindústrias de aves, suínos, ovos passam a ter margens apertadas. Dos mais de 5 milhões de propriedades rurais, quantas têm acesso à inovação, quantas compram pelo menos fertilizantes, quantas estão acima da linha da pobreza? Um novo Censo é essencial.

Logo são muitos agronegócios, sendo que orgânicos, biodinâmicos e agricultura familiar não assumem estarem dentro da categoria de agronegócio, sua definição, na origem cabe a todos, o nome foi ficando como relativo somente às grandes culturas e grandes produtores. O que da mesma forma não é verdade. No agro cooperativista são mais de 1 milhão de agricultores que fazem 54% de tudo o que é produzido.

Mas há um outro grande drama no agronegócio, são quase 300 entidades, associações, que não se integram para uma só voz nas questões fundamentais e não dialogam. A agropecuária dentro do PIB do agronegócio representa 26% e o restante 74% está na indústria, comércio e serviços impactados e que impactam o dentro da porteira (Fonte: Instituto Millenium). Portanto uma coordenação das cadeias é fundamental, com planejamento estratégico.

E ainda, agora, há uma disputa entre segmentos bolsonaristas dos não bolsonaristas ou dos indiferentes. No último sábado, algumas entidades, ao lado da ministra Teresa Cristina, se uniram na manifestação de apoio a Bolsonaro, que promovia a intervenção militar, o voto no papel e a guerra ao comunismo.

Sem dúvida a categoria dos agricultores é exemplar e inspiradora para o país todo e todos os brasileiros. Mas ela tem dono? Quem deseja se apossar dos mais de 5 milhões de produtores rurais e suas famílias e em nome delas conduzir essa categoria para um lado ou outro da ideologia política?

Dentro da Constituição brasileira existe o papel dos sindicatos patronais e das confederações. Neste caso a Confederação Nacional da Agropecuária (CNA). Isso está escrito na Constituição. Em 1988, na constituinte, participamos e apoiamos Mário Covas, um dos líderes íntegros do país, e deixo aqui meus sentimentos pelo falecimento de Bruno Covas. Quem deseja falar em nome também dos outros 74% do antes e pós porteira das fazendas?

Quem fala em nome do agro? Quem diz que o agro é só dele? O que interessa ao agro, como um todo servir a este lado ou ao outro da política, quando ter como planejamento estratégico dobrar de tamanho e desenvolver segmentos ainda necessitados de prosperidade e diversificar produtos e mercados é o único comando que nos interessa. Ao campo e a cidade. Ao PIB do país. Somos uma só Nação.

Hora de voltar ao básico quando o conceito de agribusiness foi introduzido no país, no início dos anos 90 por Ney Bittencourt de Araújo (in memorian): “isto se trata de um complexo agroindustrial e precisa ser gerenciado como uma cadeia produtiva. Se um elo leva vantagem sobre o outro uma, duas, três vezes, mais cedo ou mais tarde, vai pagar um preço alto no outro lado do ciclo”.

Agronegócio é como a lua, a todos pertence mas não é de ninguém. Precisa de pacificação, bom senso, planejamento e coordenação. E sobre os produtores rurais? Sem dúida o elo mais frágil, gigantescamente numeroso, exposto e precisa, sim, de seguro e proteção. E são obviamente valorosos  esta afirmativa vale para todo brasileiro lúcido. E que as ações filantrópicas de doação de alimentos contra a fome no país tenham continuidade em meio a esta dramática crise.

José Luiz Tejon para Eldorado/Estadão.

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Na semana passada o ministro Carlos Fávaro fez a segunda reunião neste ano com mais de 20 entidades do agronegócio. O ministro Fávaro disse que abrimos 41 mercados neste ano e podemos exportar, vender. Também outros pontos dessa reunião está na criação de plataformas de informação a respeito da rastreabilidade comum, e ângulos da sustentabilidade.
Em São Paulo, ontem (27), ocorreu o evento com o balanço de 3 anos do Programa Marfrig Verde. Marcos Molina, presidente do Conselho da maior produtora de hambúrgueres do mundo, afirmou que até 2024 a rastreabilidade de toda cadeia produtiva da carne estará realizada, incluindo os fornecedores indiretos e também permitindo a “reinclusão” de criadores com ajustes de procedimentos na cadeia de suprimentos da Marfrig.
Estou no Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio (CNMA), onde tem muitos eventos importantes, mas tem um em particular que me chamou a atenção. Eu conversei com a Mariana Aragão, pesquisadora da Embrapa, que representa o Brasil no World Farmers’ Organisation, uma organização mundial de agricultores que praticamente aqui no Brasil nós desconhecemos.
Estamos no rumo de uma recessão global com queda no consumo, inflação e desarranjo em todas as cadeias de suprimentos, inclusive dos alimentos. Uma crise planetária agravada por polarizações político ideológicas, acompanhada de uma falência de líderes visionários, competentes e que possam executar uma condução para a prosperidade, o que significaria a governança da boa esperança.
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