CABEÇA
DE LÍDER

José Luiz Tejon

Eldorado/Estadão - “Desesperar jamais” é a palavra dos fertilizantes

Publicado em 18/03/2022

TCA
Jogamos fora cerca de 40% dos fertilizantes que importamos, por mau uso na aplicação.

Entrevistei três especialistas do setor de fertilizantes sobre os caminhos para enfrentar a crise. São eles: Valter Casarin, coordenador científico do Programa NPV, nutrientes para a vida, da Anda, Associação Nacional da Difusão do Adubo. Heitor Cantarela, pesquisador do IAC - Instituto Agronômico de Campinas e Carlos Heredia, economista consultor de suprimentos e fertilizantes, todos vinculadas a Anda, a entidade que congrega as indústrias do ramo dos fertilizantes no país.

A mensagem destes especialistas é para os produtores não se desesperarem, o que me lembra a ótima música de Ivan Lins, “Desesperar jamais, aprendemos muito nestes anos”, e diz a letra: “afinal de contas não tem cabimento, entregar o jogo no primeiro tempo”.

Bem, e na vida real dos produtores, o Brasil é o 4º maior produtor de grãos do mundo, atrás da China, Estados Unidos e Índia e também somos o 4º maior consumidor de fertilizantes do planeta, de onde importamos cerca de 85%.

No mês de fevereiro deste ano batemos o recorde importando 130% a mais de fertilizantes. E a curtíssimo prazo o conselho dos especialistas é análise de solo. Tomar decisões de adubação somente a partir de análise para aplicar exatamente o necessário e evitar desperdícios.

Por isso uma grande ênfase na importância dos agrônomos neste momento. Idem, olhar atento sobre o desperdício. Jogamos fora cerca de 40% dos fertilizantes que importamos, por mau uso na aplicação. A Caravana Embrapa Fert Brasil, iniciando em abril, terá este objetivo, de norte a sul, aperfeiçoar o uso dos fertilizantes.

Os doutores especialistas também me disseram que nossa dependência da Rússia é de 20%, e que novas originações estão sendo trabalhadas, como Canadá , Jordânia e outros, o que poderá diminuir essa dependência exclusiva da região russa.

Da mesma forma, acrescento que aqui no Brasil estão as maiores corporações mundiais do setor e que seus executivos da mesma forma estão preocupados e buscando alternativas para atender o país, como declarou ao jornal Valor Econômicoem 16 de março, o CEO da Yara, Svein Helsether, uma das maiores do mundo: “reduzir dependência que se tem da Rússia é crucial”.

E com outra fórmula de ver o mundo, a Cargill, uma das líderes planetárias no trading de alimentos, e sócia da IMC Global em fertilizantes, dona da marca Mosaic, afirmou que não irá parar suas atividades na Rússia, pois considera alimentos um fator humanitário que deve estar acima de guerras.

Portanto, desesperar jamais! Muita coisa vai ocorrer que não sabemos, pra já a palavra inclui racionalizar o uso dos fertilizantes e análise de solo obrigatório.

Desta forma, que o Plano Nacional de Fertilizantes, objetivando diminuir a dependência do Brasil para 50%, saia do papel e que este “desespero” sirva para um grande susto onde não deveríamos nunca mais deixar de ter um plano estratégico do agro nacional. O Brasil é um país rico, administrado por pobres de espírito, onde as exceções explicam a regra acima.

Falo hoje aqui de Lagoa Grande, noroeste de Minas Gerais, 5 horas de estrada saindo de Brasília. Cruzei por Cristalina, capital mundial dos cristais, passei por Paracatu, uma mina de ouro gigantesca, e tudo isso tendo no seu entorno o agronegócio com seu potencial de gerar riquezas acima do solo.

Na guerra do adubo, desesperar jamais, e que os líderes ricos de espírito tragam a prosperidade para todo país.

José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão.

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