Eldorado/Estadão - Diretor da Sucorrico, Claudio Lot, fala das tendências do suco de laranja na Europa e da insatisfação dos agricultores europeus
Publicado em 23/02/2024
DivulgaçãoEstou aqui na França e acompanhando as muitas manifestações dos agricultores. Hoje abre o Salão de Agricultura, e vai ter confusão lá em Paris. Estamos em um movimento aqui com os agricultores irados, essa é a palavra. E estou ao meu lado com um executivo brasileiro que tem um conhecimento extraordinário no mundo do agronegócio e de um Agroconsciente, o que é o mais importante, que é o Claudio Lot, diretor executivo da Sucorrico, que é uma das maiores companhias na área do suco de laranja e o suco de laranja brasileiro nós somos o maior do mundo, maior exportador do mundo e a primeira coisa que eu vou perguntar ao Lot é como está esse assunto do suco de laranja, as tendências e como estão os negócios nesse campo onde o Brasil é o país predominante. Hot vive na Holanda, em Roterdã, e pergunto a ele como está o mundo do suco cítrico aqui para a Europa e para o planeta?
“Eu tenho um carinho especial pelas commodities brasileiras, pelas cadeias agroindustriais, mas falando agora de suco de laranja nós estamos vivendo um momento que nos últimos 3, 4 anos, depois da pandemia, uma hora era o frete que era alto, outra hora era estar vivendo diminuição de produção por problema sanitário, nós estamos falando do greening. Nós tivemos, na Flórida, problemas com a doença que reduziu pela metade, de 40 milhões de caixas foi para 20 milhões de caixas, e temos outros países que estão olhando para o mundo e buscando também mais oportunidades dentro do universo do suco de laranja. Daí eu estou falando de México, Egito, África do Sul, de Gana, na África, a Espanha tem tradição em laranja, aliás Valência é de lá, e com isso o que estamos vendo? O Brasil olha para a Europa como um mercado sólido, não como oportunidade, como uma coisa oportunista. No Brasil o produtor de citros vê o seguinte: o consumidor europeu precisa de suco de laranja, tanto para a indústria do suco 100% natural, seja ele concentrado, reconstituído com água mineral, ou não concentrado, mas também tem engarrafadores de soft drinks, nós estamos falando dos grandes, dos refrigerantes. Então quando você fala de engarrafadores na Europa nós estamos falando de todo tipo de engarrafador e daí nós estamos vivendo agora uma falta de suco e um preço muito alto e isso incomoda toda a cadeia local. Então daqui a pouco você vai falar como é que os franceses estão aceitando, como é que a Holanda, Alemanha, os supermercados estão aceitando esses preços altos, das commodities brasileiras. Daí tem toda uma história para contar”.
Então questionei Lot dos agricultores que está acontecendo na França, que visão ele tem sobre isso e que repercussão isso tem no Brasil e ele me respondeu:
“Em geral, subsídios agrícolas tem que ficar muito claro qual é a política, e como esse subsídio vai ser tratado. Vou dar um exemplo, o laticínio, a vaca europeia tem mesada, ela é subsidiada para poder abastecer determinados países, mas por exemplo, a Holanda para produzir leite, e chegar com o preço do leite na gôndola do supermercado atrativo e onde o consumidor pode comprar, ela tem de ter um subsídio muito alto. Então o governo holandês fala assim: você quer produzir leite, traz da França, porque a França é mais eficiente do que a Holanda. O metro quadrado da especulação imobiliária na Holanda é mais alto do que na França. Mas é lógico você falar de um hectare em Champagne é diferente, mas um hectare de estufa, nós estamos falando de 200 mil euros, um hectare. Então quem que vai conseguir pagar essa conta, se não for através de subsídios? Mas daí os subsídios estão claros? Não. Então o agricultor se revolta com quem fala para ele assim: a agricultura toma recursos demais, os impostos que eu urbano pago. Daí o produtor fala assim: se você não tiver o produtor rural você não tem comida. Daí ele fala assim: menos, não é que eu não tenho comida, eu não tenho comida a 20 quilômetros de mim, mas eu posso ter comida a mil quilômetros de mim, e que chega até mim mais barato. E aí entra o protecionismo e a falta de clareza. O Brasil já viveu isso. Vou te dar um exemplo até de seguro. Você sabe que se o produtor precisar usar o seguro agrícola, o seguro vai reembolsar o quê? A semente, o adubo, os lubrificantes, a máquina, os insumos, mas ele não paga o que ele obteria se ele tivesse vendido essa produção, essa safra dele. Então a mesma coisa acontece na Europa, precisa ficar claro qual é o papel do produtor quanto ao subsídio que ele vai receber. Se não está claro, ele se revolta.”
Lot é uma guerra por subsídios e essa não clareza leva à insegurança e toda essa movimentação, manifestação. E nós lá no Brasil temos que produzir com custo, qualidade, e olhar para o mundo.
“Sim eu acho que todos os componentes de custos, sejam lá quais forem, a cultura que nós estivemos falando, soja, milho, produção animal sempre você vai ter um componente de custo que está doente. Há 2, 3 anos, o componente mais complicado para quem exportava era o frete marítimo. Agora eu posso dizer o seguinte: os preços sobem um pouco, daí o frete marítimo diminui um pouco, e volta a ter lucratividade e margem, mas isso é esperado. E o mais importante se você tem um agrônomo que vai comprar soja ou laranja ele precisa de um boletador, ele precisa que quem está na outra ponta diga para ele: o comprador de soja, comprador de laranja, o máximo que você pode pagar para essa realidade hoje é tanto e isso é cadeia agroindustrial baseada em dados.”
Ou seja, é o sistema que precisa funcionar. Nós precisamos dessa visão estruturada como um todo.
José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão.