Eldorado/Estadão - No mundo global você não resolve problemas nacionais falando mal de outros países e locais. Presidente da Acrimat responde ao Carrefour
Publicado em 22/11/2024
DivulgaçãoO CEO global do Carrefour na França, Monsieur Alexandre Bompard, enviou uma carta para a Federação Nacional dos Sindicatos de Agricultores Franceses afirmando: “não compraremos mais carne do Mercosul”. Aqui no Brasil o Carrefour enviou uma nota para a imprensa dizendo: “o Carrefour França informa que a medida anunciada se aplica somente as lojas da França e que essa decisão foi tomada em função do contexto de crise do setor agrícola francês. Nada muda no Brasil”.
As entidades brasileiras, inclusive o Mapa, se manifestaram estranhando esse pronunciamento e nós conversamos com a Acrimat, Associação dos Criadores do Mato Grosso, hoje o maior rebanho pecuário brasileiro. Seu presidente, Dr. Oswaldo Ribeiro Jr., nos enviou seu posicionamento:
“O produtor está acostumado a enfrentar o mercado. Nós não temos nenhum problema quanto a isso. Acreditamos na economia de mercado e na soberania de qualquer país de comprar o que quiser, abrindo e fechando suas portas conforme suas necessidades. O que nos deixa indignados é que sem argumentos para deixar de comprar o nosso produto, que chegam a seus mercados muito mais baratos do que os produzidos em suas terras, dizer com argumentos falsos, criminosos até, nos colocando como devastadores ambientais, o que é uma mentira deslavada. Essa é a razão do nosso descontentamento, porque nos culpam por nossa eficiência, mas nada disso é colocado na mesa, a não ser acusações ultrapassadas que nos atingem diretamente. Parar de comprar do Brasil é um direito de todos, mas precisar dos nossos produtos e nos acusar com inverdades não é justo e não combina com a grandeza da França e de suas grandes empresas”.
Ainda a Acrimat me informou que a carne francesa chega aos supermercados por 13 euros o quilo enquanto a brasileira chega a 4 euros o quilo. O subsídio europeu, segundo me informa o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), pelo pesquisador José Eustáquio Vieira Filho, é de 19% do VBP, no Brasil apenas 1%, nos Estados Unidos 12% e na Noruega chega a 58%, são números reveladores de como o Brasil se transformou em muito competitivo nas commodities.
A Associação Brasileira dos Exportadores de Carne (ABIEC) informa que a União Europeia importa 27% de suas necessidades do Brasil. O aspecto que chama nossa atenção está em um despreparo de Ceo’s que lideram corporações multinacionais com interesses e negócios globais que não pensam nas consequências de suas declarações.
Me parece ser infeliz e imprudente um dirigente de uma empresa global tentar resolver um desafio, um problema local, eliminando as relações com outros locais onde têm fortes interesses econômicos e financeiros da mesma forma.
Acho que está na hora de líderes de corporações globais estarem mais preparados para buscar soluções que não passem equivocadamente uma percepção que prejudica a imagem de outras nações e regiões.
Aqui o presidente da Acrimat, Mato Grosso, Oswaldo Ribeiro Jr. foi objetivo e preciso na sua manifestação: “...podem parar de comprar de quem quiserem, mas não nos acusem com inverdades e falsos argumentos, isso não combina com a grandeza da França e suas grandes empresas”.
Fica aqui nosso espaço aberto para ouvir o Carrefour a respeito. Mas, sem dúvida, essa questão é infeliz, não resolverá o problema agro francês e nos prejudica na imagem brasileira em meio ao G20, discussão do acordo Mercosul União Europeia.
Em bilhões de dólares, segundo o Insper Agro Global, de 1990 até 2023 nossas exportações para a França diminuíram 5,6% ao ano, a França representa apenas 0,02% das exportações do Brasil para todos os destinos, e a União Europeia 4,8% do total, 95% enviamos para outros mercados.
E quando estudamos as ações do agro europeu, seus objetivos são bem voltados aos negócios. Vender mais para a China e a Ásia, isso sim, são nossos competidores. Manipulações de políticos sobre os agricultores europeus também fazem parte de discursos como esses.
Viva Camões! Quem faz o comércio não faz a guerra. Alimentos e agricultores significam paz e devem ser reunidos no grande desafio da vida digna na terra.
José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão.