CABEÇA
DE LÍDER

José Luiz Tejon

Eldorado/Estadão - No mundo global você não resolve problemas nacionais falando mal de outros países e locais. Presidente da Acrimat responde ao Carrefour

Publicado em 22/11/2024

Divulgação
Acrimat responde a CEO francês do Carrefour sobre carne brasileira

O CEO global do Carrefour na França, Monsieur Alexandre Bompard, enviou uma carta para a Federação Nacional dos Sindicatos de Agricultores Franceses afirmando: “não compraremos mais carne do Mercosul”. Aqui no Brasil o Carrefour enviou uma nota para a imprensa dizendo: “o Carrefour França informa que a medida anunciada se aplica somente as lojas da França e que essa decisão foi tomada em função do contexto de crise do setor agrícola francês. Nada muda no Brasil”.

As entidades brasileiras, inclusive o Mapa, se manifestaram estranhando esse pronunciamento e nós conversamos com a Acrimat, Associação dos Criadores do Mato Grosso, hoje o maior rebanho pecuário brasileiro. Seu presidente, Dr. Oswaldo Ribeiro Jr., nos enviou seu posicionamento:

“O produtor está acostumado a enfrentar o mercado. Nós não temos nenhum problema quanto a isso. Acreditamos na economia de mercado e na soberania de qualquer país de comprar o que quiser, abrindo e fechando suas portas conforme suas necessidades. O que nos deixa indignados é que sem argumentos para deixar de comprar o nosso produto, que chegam a seus mercados muito mais baratos do que os produzidos em suas terras, dizer com argumentos falsos, criminosos até, nos colocando como devastadores ambientais, o que é uma mentira deslavada. Essa é a razão do nosso descontentamento, porque nos culpam por nossa eficiência, mas nada disso é colocado na mesa, a não ser acusações ultrapassadas que nos atingem diretamente. Parar de comprar do Brasil é um direito de todos, mas precisar dos nossos produtos e nos acusar com inverdades não é justo e não combina com a grandeza da França e de suas grandes empresas”.

Ainda a Acrimat me informou que a carne francesa chega aos supermercados por 13 euros o quilo enquanto a brasileira chega a 4 euros o quilo. O subsídio europeu, segundo me informa o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), pelo pesquisador José Eustáquio Vieira Filho, é de 19% do VBP, no Brasil apenas 1%, nos Estados Unidos 12% e na Noruega chega a 58%, são números reveladores de como o Brasil se transformou em muito competitivo nas commodities.

A Associação Brasileira dos Exportadores de Carne (ABIEC) informa que a União Europeia importa 27% de suas necessidades do Brasil. O aspecto que chama nossa atenção está em um despreparo de Ceo’s que lideram corporações multinacionais com interesses e negócios globais que não pensam nas consequências de suas declarações.

Me parece ser infeliz e imprudente um dirigente de uma empresa global tentar resolver um desafio, um problema local, eliminando as relações com outros locais onde têm fortes interesses econômicos e financeiros da mesma forma.

Acho que está na hora de líderes de corporações globais estarem mais preparados para buscar soluções que não passem equivocadamente uma percepção que prejudica a imagem de outras nações e regiões.

Aqui o presidente da Acrimat, Mato Grosso, Oswaldo Ribeiro Jr. foi objetivo e preciso na sua manifestação:  “...podem parar de comprar de quem quiserem, mas não nos acusem com inverdades e falsos argumentos, isso não combina com a grandeza da França e suas grandes empresas”.

Fica aqui nosso espaço aberto para ouvir o Carrefour a respeito. Mas, sem dúvida, essa questão é infeliz, não resolverá o problema agro francês e nos prejudica na imagem brasileira em meio ao G20, discussão do acordo Mercosul União Europeia.

Em bilhões de dólares, segundo o Insper Agro Global, de 1990 até 2023 nossas exportações para a França diminuíram 5,6% ao ano, a França representa apenas 0,02% das exportações do Brasil para todos os destinos, e a União Europeia 4,8% do total, 95% enviamos para outros mercados.

E quando estudamos as ações do agro europeu, seus objetivos são bem voltados aos negócios. Vender mais para a China e a Ásia, isso sim, são nossos competidores. Manipulações de políticos sobre os agricultores europeus também fazem parte de discursos como esses.

Viva Camões! Quem faz o comércio não faz a guerra. Alimentos e agricultores significam paz e devem ser reunidos no grande desafio da vida digna na terra.

José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão.

 

 

Também pode interessar

A study conducted by Tereos, a French cooperative and global leader in sugar and food production operating in 15 countries, including Brazil, in partnership with the Datafolha Institute, reveals significant contrasts in the perception of the Brasilian population regarding climate change and global warming.
Cooperação exige confiança e, sem dúvida, a ótima liderança. No agro as cooperativas brasileiras têm crescido a dois dígitos em meio à crise, enfrentado gigantescos grupos empresariais e mostrado que com cooperação e democracia venceremos em qualquer situação.
Entrevista com o deputado Arnaldo Jardim, vice-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária na abertura do Congresso Internacional Agro Sustentável Rio + Agro, no Rio de Janeiro. Ele aborda a importância de um pacto nacional para uma política comum ao país no desenvolvimento agroconsciente daqui pra frente.
Em 1966, o jornalista Sérgio Porto, sob o nome de Stanislaw Ponte Preta, lançou um livro extraordinário: Febeapá, o Festival de Besteiras que assola o país”. Eu conversei com o engenheiro agrônomo, agroambientalista e professor Xico Graziano para que ele nos dissesse 3 besteiras a respeito de meio ambiente que se fala por aí e que não são verídicas.
© 2025 José Luiz Tejon Megido. Todos os direitos reservados. Desenvolvido por RMSite