Eldorado/Estadão - Safra 2024/25 poderá não crescer colocando em risco nossa insegura economia. Foco total nisso é prioridade nacional.
Publicado em 22/07/2024
Divulgação.Num artigo extraordinário do economista Roberto Macedo para o jornal Estadão (18.07 – Pág. A4), ele enfatiza: “ocupamos o 3º lugar dos países com maior desigualdade social, atrás da Rússia e da África do Sul, algo que poderia ajudar seria uma forte aceleração do crescimento econômico. O Brasil já chegou a crescer 7% ao ano e, agora, há mais de 4 anos nos conformamos com crescimentos de apenas 2%, onde a sociedade e analistas econômicos projetam essa previsão para os anos futuros”.
A agropecuária tem salvo esses 2% nos últimos anos com o crescimento da produtividade, das safras das exportações. Agora temos um sério desafio. Nas minhas andanças pelo Brasil, em conversa com líderes do agro, escuto deles uma tendência à diminuição da próxima safra. Viemos de dois anos com preços que cresceram principalmente nas commodities que mais subiram no país, a soja e o milho, onde antes da pandemia uma saca de soja de 60 kg valia R$ 70,00, com a pandemia e conflitos no mundo essa mesma saca chegou a atingir R$ 190,00.
Porém, como é de se esperar nos ciclos clássicos das commodities, tudo o que sobe vai cair, para depois de novo subir. Não fosse essa conclusão, onde as commodities voltaram a patamares “normais”, soja e milho, enfrentamos a mudança climática, onde por exemplo no Rio Grande do Sul ocorreram duas estiagens consecutivas e agora uma brutal enchente com danos irrecuperáveis a curto prazo em parte da área agricultável.
Desta forma não estamos encontrando ânimos que digam que iremos plantar mais. A agricultura familiar contou com um Plano Safra estimulante com juros de fato baixos e subsidiados. Excelente. Porém, quando olhamos para a grande economia, são os médios e grandes que fazem a escala, os pequenos obtêm êxito exclusivamente através de suas cooperativas.
Deveremos assistir diversificação, produtores ativando feijão, trigo no Cerrado, investimentos de integração lavoura, pecuária e florestas, sistemas agroflorestais, biogás, biocombustíveis, porém com maturação de médio prazo.
A curto prazo precisaríamos de um foco de gestão, um plano conjugando governo com iniciativa privada para mitigar a possibilidade de colhermos menos grãos na safra 2024/25 que tem início o mês que vem. Além de tudo isso, a demanda por seguro rural é uma voz permanente em toda área rural.
No mínimo 2,5% da área destinada a conversão de 40 milhões de hectares de pastagens degradadas poderia e deveria ser alvo de uma ação emergencial e já transformada, minimamente na produção de milho, por exemplo, por ser este um cereal com múltiplos aproveitamentos agroindustriais, inclusive no biocombustível e ter ótimo potencial genético de produção.
Um milhão de há de um plano emergencial poderia oferecer mais 10 milhões de toneladas de grãos, e quem sabe não seria ilusão ou utopia pensar em 5% desses 40 milhões de há já e agora, o que ofereceria um potencial de mais 20 milhões de toneladas de grãos. Um exercício com outras culturas poderia ser feito imediatamente com o conhecimento existente no MAPA, e na Embrapa, envolvendo fundos e cooperativas num arrendamento e educação para realizar essa ação incluindo infraestrutura essencial ao seu redor.
Os preços seguirão dentro de uma “normalidade histórica, longe dos saltos dos dois anos anteriores”, portanto sem mais volume para compensar sem dúvida alguma a economia brasileira vai se arrastar”, a agricultura distribui suas riquezas por todos os setores do comércio, indústria e serviços do país com agregação de valor e empregos.
A sociedade civil organizada precisa colocar foco total nisso, pois como o economista Roberto Macedo escreveu no seu brilhante artigo: “mas, no governo federal, o Congresso constituído predominantemente por cidadãos de maior renda, não pautam seriamente este assunto”.
Não basta governo, tem gente boa e bem intencionada lá, eu diria, precisamos da sociedade civil organizada neste foco estratégico ao lado do governo para realizarmos hoje e agora o que podemos realizar e que se não for realizado, desnecessariamente iremos sofrer, por não desenvolver e não crescer nos 7% ao ano, ou pelo menos 5%, mais do que um desejo uma obrigação, um dever. Safra 2024/25 prioridade total nacional.
José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão.