Eldorado/Estadão - Agro do Brasil atrapalha planos de Trump
Publicado em 03/11/2025
Divulgação
Donald Trump e Xi Jinping, presidentes dos EUA e China
Imagine se o Brasil não tivesse condições de fornecer cerca de 112 milhões de toneladas de soja para a China no ciclo 2025/26, enquanto o USDA projeta 47 milhões de t “se tudo der certo” para os Estados Unidos. Imagine como a China teria retaliado os Estados Unidos no setor alimentar não adquirindo um grão de soja até agora, aplicar tarifa de 20% sobre soja, algodão, sorgo, frango, carne suína, leite e derivados. Assistiríamos um poder de ferro dos Estados Unidos sobre a China pois nos alimentos o jogo é cruel. Nada novo na história da humanidade o embargo de alimento ser usado como arma de guerra.
Portanto, apesar dos acordos versarem sobre restrições chinesas as exportações de terras raras; adiamento por um ano dos controles dos Estados Unidos sobre exportações tecnológicas à subsidiárias chinesas; importação de compra de energia americana pela China; e suspensão por 1 ano das taxas portuárias pelos Estados Unidos e China, de fato Trump “o inconfiável” não conseguiu colocar Xi Jinping de joelhos pela dimensão que o agro brasileiro realizou nos últimos 50 anos e sendo ainda o único país do mundo para mais do que dobrar de tamanho nos próximos 15 anos. Isso significa que no ponto vital de uma nação, alimentos, a maior agricultura comercial do mundo a norte-americana e que poderia usar esse poder para a China maior importadora mundial de comida, não consegue utilizar essa “arma” na plenitude que em outros tempos conseguiria.
Desta forma, talvez muitos ainda não tenham percebido essa sutileza atual: o agro brasileiro é arma de paz na guerra fria dos alimentos. Mais do que nunca reforçando o slogan de Roberto Rodrigues: “Brasil país da paz, alimento é paz“.
Preocupação real para o Brasil reside no ataque vil e malévolo da investigação contra o agro brasileiro pelo governo Trump “o inconfiável”, o que permitiria uma onda de desinformações e fake news associando a soja e a proteína animal brasileira ao desatino do desmatamento. Isto numa guerra pelas percepções de consumidores mundiais traria um efeito de rejeição aos nossos produtos agropecuários atuando a favor do nosso maior agro concorrente os Estados Unidos.
No “acordo” do encontro da China e Estados Unidos o que Trump conseguiu foi voltar ao que já estava, e que não era bom para os norte-americanos, um retorno ao passado recente. Os volumes apresentados no “acordo” remontam aos mesmos que haviam antes da guerra fria tarifária envolvendo a soja. Em 2024/25 os Estados Unidos venderam 22,6 milhões de toneladas para a China. Em 2023//24 as vendas dos Estados Unidos somaram 25 milhões de toneladas, exatamente o mesmo número combinado agora no “acordo”.
Entretanto quem compra soja para o processamento agroindustrial gosta da ideia de comprar soja a preços mais baixos. Então obviamente com a notícia do “acordo” mesmo que pífio no caso da soja, assistimos movimentos reduzindo preços nas bolsas. Desta forma cabe aos “vendedores” produtores rurais não entrarem no “burburinho” dos nervos mercadológicos e cabe cada vez mais ao Brasil realizar de forma urgentíssima um planejamento estratégico perante um mundo que será cada vez mais dependente da segurança alimentar e bioenergética onde o Brasil se transformou numa potência que desequilibra as forças das guerras frias e comerciais entre os detentores dos maiores PIB’s do mundo: Estados Unidos, China e União Europeia.
Negociação do tarifaço escandaloso de 50% para produtos do Brasil será alvo de revisões e acenos positivos pois, sem dúvida, Trump, jogador no cassino global, muito acima e além de lançar “químicas” afetivas com Lula, já entendeu que precisa muito mais envolver o Brasil não apenas pelo Brasil. Mas pela potência estratégica agroalimentar e bioenergética que de forma “silenciosa” nos tornamos nestes recentes 50 anos.
E como disse Winston Churchill na 2ª guerra: “nunca tantos deveram tantos a tão poucos”. A revolução criativa tropical brasileira tem seus heróis, guerreiros na ciência, produtoras e produtores de fibra e coragem num avanço pelo cerrado, empreendedorismo e cooperativismo.
Somos hoje a 4ª maior agricultura do planeta em grãos e seremos a primeira nos próximos 15 anos. Como disse Alysson Paolinelli: “O que trouxe o mundo até agora foi a agricultura de clima temperado, daqui pra frente será a tropical”.
O mundo mudou. O agro do Brasil atrapalha planos de Trump na guerra comercial. Com alimento brasileiro cresceu a segurança alimentar no mundo inteiro.
Mas sem dúvida a iniciativa privada dos Estados Unidos e a brasileira com a inteligência da diplomacia acima de egos ideológicos vai prevalecer.
José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão.