CABEÇA
DE LÍDER

José Luiz Tejon

Eldorado/Estadão - Agronegócio fora do mercado de carbono? Será?

Publicado em 27/12/2023

Divulgação
Agronegócio fora do mercado de carbono?

Ao encerrar os trâmites no Senado neste final de ano, o setor agropecuário não aderiu ao projeto, sob uma correta alegação da “inexistência de métricas científicas confiáveis para mensurar essas emissões”. Mas pergunto, o agronegócio estará fora desse mercado de carbono? Mesmo? Claro que não.

Quando olhamos esse macro setor do PIB brasileiro, na casa de 30% de todo montante econômico do país, todo ele, sem exceção, nasce na originação. Quer dizer, vem dos campos, das águas e dos mares. E todo esse setor obrigatoriamente reúne imensos agentes industriais, comerciais e de serviços, umbilicalmente conectados ao setor agropecuário, o “dentro da porteira” propriamente dito.

Então vamos aos exemplos reais em andamento aqui e agora: A JBS, maior empresa do mundo na área da proteína animal. Ela já definiu que a partir de 2026 não haverá mais um sequer boi, ou bezerro, fora da total rastreabilidade e compliance ambiental. Para isso chegando no setor da cria, obrigatoriamente, irá depender de região para região, de microbioma para microbioma, o mapeamento palmo a palmo do solo, água, árvores, das condições edafoclimáticas.

Logo, para a JBS atuar no planeta, no mercado corporativo do carbono, obrigatoriamente precisará envolver toda sua matriz de suprimentos, logística e distribuição nessa grande “new carbon accountability “ (nova contabilidade do carbono). E teremos um grande aliado como sistemas de monitoramento via satélite adicionado ao score ESG e financeiro palmilhando propriedade a propriedade na sua individualidade microbiômica.

Agora falando de pequenos produtores. No oeste do Paraná, na cidade de Toledo, uma cooperativa cria um novo negócio, uma nova atividade, numa associação com uma empresa de engenharia e mecânica. É a Cooperativa Primato, com a indústria MWM. Ali estão criando um novo negócio a partir de biodigestores, utilizando os dejetos da suinocultura, aves, leite, peixes, irão produzir biofertilizantes, bioeletricidade, biometano a partir do biogás.

Essa ação, obrigatoriamente dentro das regras do compliance ambiental dessa cooperativa, vai colocar seus cerca de 10 mil cooperados, famílias agrícolas, no mercado de carbono. Haverá um valor nessa contabilidade carbônica a favor dos clientes dos produtos da Primato, o que necessariamente os levará a estabelecer com bases científicas as corretas e justas métricas de mitigação de carbono.   Naquele tipo de solo, vegetação, além da extraordinária contribuição com o fim das lagoas de dejetos a céu aberto, substituídas por biodigestores.

Em síntese: a agropecuária tropical num país como o Brasil exige, sim, estudos pontuais e específicos para cada microbioma e condições de gestão da sua originação. Mas não adianta. Agronegócio é um sistema industrial, comercial e de serviços, logo os supermercados, as indústrias e o sistema financeiro e fundos de investimentos das “Farias Limas” do Brasil, e do mundo, não irão obter a “new carbon accountability” sem a agropecuária.

Na grande síntese, para a cidade de São Paulo obter o mercado de carbono, a cidade de Toledo no Paraná ou Alta Floresta no Mato Grosso, como exemplos nacionais, precisarão da mesma forma participar.

José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão.

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