CABEÇA
DE LÍDER

José Luiz Tejon

Eldorado/Estadão - Alysson Paolinelli, Roberto Rodrigues, cooperativismo e Afeganistão, qual é a lição?

Publicado em 20/09/2021

Divulgação
Roberto Rodrigues, Lourival Santanna e Alysson Paolineli

Em primeiro lugar, parabéns ao texto espetacular de Lourival Sant'Anna, colunista do Estadão (19/9 Página A-11), “O impacto do taleban”. Como analista internacional de notoriedade exemplar, Lourival revela durante sua passagem pelo Afeganistão um fato que até agora não vi observado em nenhuma outra análise. Ali está presente exatamente a ausência de uma governança do sistema de agribusiness, como estudamos em Harvard; no Pensa/FIA; no Insper; na FDC; Esalqmark; na Audencia de Nantes/França com a FECAP/São Paulo, por exemplo.

No Afeganistão 3/4 da população vive na zona rural, uma vida miserável e exclusivamente dependente de uma renda mínima para sobreviver do plantio da papoula para o “ópioheroinabusiness”, onde, com certeza, são explorados por alguns poucos “comerciantes” da droga, estes, sim, os colhedores da quase total parte dos lucros dessa ilegal e nefasta atividade originada nos campos do sofrimento afegão.

Cerca de 80% da matéria prima do ópio e da heroína do mundo vem de micros agricultores afegãos. Não há futuro nem dignidade de vida para esses jovens, por isso se transformam na grande base de recrutamento taleban. Como não há sentido de vida produzindo alimento, fibras, energia, nem arroz, trigo ou algodão, sobra uma ilusão de vir a ser alguém, com um fuzil na mão ao invés do nobre feijão.

Lourival ainda menciona os Kochis, pastores nômades da etnia pashtun, perambulando de norte a sul, leste a oeste atrás de comida para os animais com tecnologia zero a disposição. Então Alysson Paolinelli que nesta segunda-feira (20) recebe a homenagem para o Nobel da Paz na Fiesp, em São Paulo, com a entrega das comendas em seu nome, que significado tem dentro dessa análise comparada com o Afeganistão?

Fez a total diferença como um legítimo herói da grande revolução mundial, a revolução verde, inspirada por outro agrônomo Norman Borlaug, que disse ao visitar o cerrado brasileiro: “transformar isto em produção de alimentos é a obra mais importante do Brasil, uma revolução verde gigantesca”. Em paralelo a tropicalização da ciência para nossos biomas tropicais, realizada com institutos agronômicos, universidades, a Embrapa, tivemos da mesma forma o surgimento de cooperativas, as quais desenvolveram qualidade de vida e prosperidade (sentido expresso por Márcio Lopes - OCB),dignidade a todas as pessoas nas suas regiões, com acesso a renda.

E tudo isso inspirou outros brasileiros como Gilberto Goellner, líder que mudou o Mato Grosso com a Fundação MT, ciência aplicada no campo viabilizando o sucesso de milhares de agricultores, seus filhos, netos e de indústria, comércio, serviços, indo “além do campo”. Na sua brilhante coluna, Lourival ainda correlaciona o que observou no Afeganistão com outras experiências vividas em outras situações similares onde a miséria, e a distância da educação, criam os soldados zumbis da morte e destruição. Lourival menciona as Farc da Colômbia, Al Qaeda no Iraque e os rebeldes líbios na primavera árabe, em 2011. Por isso aqui fica uma significativa lição, se não extirparmos a miséria dos campos do mundo, a tirania e a guerra irão sempre prevalecer.

Observa-se no relato de Lourival, a iniciativa mal sucedida e mal conduzida pelo Reino Unido, a quem coube exatamente a missão de conduzir programas de substituição de cultivos ilícitos pelo que poderia vir a ser um complexo de agribusiness com governança e construção dos elos dessa cadeia, com ciência, educação e treinamento de produtores, mais comércio, indústria e serviços agregando valor e conduzindo a produção afegã aos mercados consumidores. Isso não ocorreu.

Com certeza se essa missão tivesse sido conferida ao Brasil, nós teríamos muito mais competências para obter sucesso no que foi decisivo para o retorno do taleban, o fracasso da prosperidade de 3/4 da população do país vivendo num campo retrógrado. Roberto Rodrigues, embaixador do cooperativismo na FAO, sempre repete sua visão: “produzir alimentos é criar a paz , o Brasil é um produtor de paz”.

Se olharmos para o que Lourival Sant'Anna nos revela nessa coluna e imaginarmos todos os pontos de miséria e pobreza do mundo, iremos ver gigantescas oportunidades de prosperidade a partir do agronegócio com cooperativas e integrações de fair trade com iniciativas privadas, incorporando uma justa missão de cidadania, uma agrocidadania como Ray Goldberg, criador do conceito agribusiness em Harvard nos diz hoje, e como outro brasileiro, (in memorian) nos fez ver no Brasil, criando a Abag em 1992, Ney Bittencourt de Araújo.

Portanto, Alysson, obrigado e continue nos inspirando ao futuro como tem sido suas palavras agora: “teremos de fazer esforços a mais, porque em 2050 o Brasil precisará produzir 2,4 vezes mais do que produz hoje. Cabe valorizar a bioeconomia com pontes entre a sustentabilidade e a produtividade, com benefícios de renda dos produtores e das necessidades dos consumidores, e a economia circular para o controle do lixo e a redução do desperdício”.

Estratégias público privadas e estudos de todos os biomas do Brasil, incluindo milhões de brasileiros na prosperidade. “Nunca tantos deveram tanto a tão poucos”, frase de Churchill na 2ª guerra mundial. Vale para tudo e para todos, inclusive para o nosso Brasil. Obrigado Lourival, seu texto é vital e inspiracional. E por tudo isso Alysson Paolinelli merece o Nobel da Paz hoje, para o bem de todo o planeta.

José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão.

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