Eldorado/Estadão - Amazônia vinculada às frutas naturais, comunidades, e natureza é muito positivo e forte
Publicado em 16/02/2024
DivulgaçãoPrecisamos administrar a percepção da marca Amazônia na Europa. Eu estou na França, desenvolvendo o programa Food Agribusiness Management com a Academia Francesa de Nantes, e a minha missão é trazer as realidades tropicais brasileiras para cá. E ontem debatemos o papel do Brasil no cinturão tropical do planeta e um dos resultados que obtivemos, em um estudo de caso que discutimos, era originado na Amazônia.
Então os debates com alunos e professores trouxeram uma realidade que temos de compreender, estudar e pensar como, pelo menos, administrar e consertar essa percepção superficial. A simples expressão produtos da Amazônia já termina por sugerir desmatamento e cria uma barreira automática onde não temos empatia estabelecida para o lado positivo deste bioma brasileiro, que é vital para o mundo e para o país.
Descobrimos nesses debates que fizemos, aqui na França, de que quando falamos do que são chamadas as super frutas, como estão falando aqui, super fruits, como açaí, acerola, graviola, castanha, caju, manga, melão, mamão, a menção Amazônia é positiva, soa trazer consigo a força da natureza, o vigor da selva, da terra forte, das árvores magnânimas. Poderia até dizer aqui brincando que é quase um reino real do Avatar, aquele de Hollywood para o Avatar Amazônia. Mas quando o produto soa como industrialização, altos volumes de produção, exploração intensiva, ou seja, quando há uma associação de Amazônia com larga escala a rejeição aparece naturalmente e há uma associação com desmatamento e agressão à natureza e ao planeta.
Por isso quando falamos de café, chocolate, palma, por exemplo, mesmo sendo esses produtos originados dentro dos rigores da sustentabilidade, surge um traço natural de má percepção. Mesmo da banana, onde até questionei, é uma super fruta natural, mas existe a associação com grande exploração de áreas e de marcas de multinacionais nessa fruta.
Então aí vai, direto da França, com os nossos jovens estudantes internacionais e professores: precisamos associar cada vez mais a nossa Amazônia com os produtos originários, com preservação da natureza, e de seres humanos vivendo ali com dignidade, dentro de uma atividade totalmente concebida e administrada para ser um show agroflorestal onde small is beautiful, ou seja, o pequeno é lindo e legal.
Amazônia, além do combate ao crime e a ilegalidade, precisamos de um estudo profundo de marketing para a conexão de seus produtos com o seu território e sua gente. Fight for perception, expressão em inglês, luta por percepção. A expressão nos obriga a diferenciar marketing ético de simplesmente comunicação.
Imensa oportunidade temos com a marca Amazônia, mas tem que saber usar, ou seja, falou Amazônia ligada a frutas, a produtos originários, natural, comunidades é legal. Amazônia associado a produtos que possam ter aí a impressão de grandes volumes, de larga escala, e industrializados não é legal.
Portanto nós temos de trabalhar a percepção desta imagem de uma marca que é importantíssima para o Brasil.
A biantôt (até logo), direto da França.
José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão.