CABEÇA
DE LÍDER

José Luiz Tejon

Eldorado/Estadão - Até quando a miopia do grande agro brasileiro continuará nos deixando pequenos aos olhos do mundo?

Publicado em 21/05/2021

Divulgação
Marcos Jank, diretor do Insper Agro Global

Pela segunda vez fui convidado por Marcos Jank, que dirige o curso Insper Agro Global, para uma aula de comunicação e marketing com nossos diplomatas do Itamarati e funcionários da Apex, agência de promoção das exportações e do Ministério da Agricultura. São funcionários brasileiros instalados ao redor do mundo com a missão de promover o país, as exportações, investimentos, os negócios. E pela segunda vez este corpo de brasileiros nos vários continentes do mundo nos deu o seguinte diagnóstico sobre os maiores desafios para o agro nacional no mundo. São três e se repetem: imagem e comunicação; meio ambiente e acesso aos mercados.

Vendemos commodities e não somos vistos nem percebidos como produtos diferenciados. Não nos comunicamos e invariavelmente apenas reagimos em resposta a detratores. Temos mesmo na área de commodities produtos de qualidade similar ou melhores do que nossos concorrentes mas na percepção dos distintos públicos no exterior somos avaliados de maneira inferior.

Um bom e forte exemplo está no algodão, onde com o nosso algodão em qualidade similar ao norte-americano, recebemos uma nota de percepção positiva de 23% versus os Estados Unidos em mais de 80%. A conclusão é que temos guerreiros valorosos nas trincheiras do exterior, nas embaixadas e com a missão de promover o país, mas os recursos existentes e a distância da própria iniciativa privada exportadora brasileira é tão gigante quanto o tamanho do país. Somos comprados e não nos vendemos é a conclusão destes encontros, por uma inexistência de estratégias de marketing e de comunicação e de empreendedorismo internacional.

Enquanto constatamos a oportunidade imensa de elevação da percepção positiva do agro brasileiro no mundo, o que acontece dentro do país? Gritaria, briga de entidade uma com a outra, berros e xingamentos de um grupo contra o outro, de um movimento x contra outro y, que se diz eu sim sou o agro, você não, o agro sou eu, ele é meu não teu e ainda tomados por ideologias políticas inconscientes da obrigatoriedade de um planejamento estratégico de estado muito além de governos. E adicionaríamos a soberba de até falar mal dos nossos próprios clientes.

Enquanto nas trincheiras do exterior as oportunidades são estupidamente maiores do que as realidades que heroicamente já conquistamos, onde precisamos de planejamento, união empresarial e verbas inteligentes com comunicação inteligente, aqui dentro, no Brasil, num momento onde o agro da exportação está ganhando dinheiro como nunca, sem esquecer da fome crescente,  atiramos uns nos outros numa estúpida guerra de egos de líderes egoístas e cheios de uma soberba apocalíptica, com as devidas e justas exceções.

Imagem, comunicação, meio ambiente e acesso aos mercados, os três fatores considerados os maiores desafios do agronegócio brasileiro no mundo. Que as cadeias produtivas desde o “a” do abacate até o “z” do zebu se integrem e que tenham juízo. Ninguém sozinho ganhará está guerra, enquanto a miopia das lideranças prevalecer. E o Brasil precisa mais do que nunca de pacificadores, inclusive no agro. Abre os olhos Brasil!

José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão.

Também pode interessar

Conversei com João Dornellas, presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos e Bebidas (Abia), que apresentou o balanço 2022. Batemos recorde no setor, superando R$ 1 trilhão, houve o crescimento da importância da indústria de alimentos e bebidas sendo responsável por 10,8% do PIB do país.
Na semana passada acompanhei Alysson Paolinelli a Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, onde se desenvolve uma agropecuária com as mesmas características dos biomas brasileiros, Cerrado, Pantanal e Amazônico. Um evento extraordinário da Totalpec.
Estamos no rumo de uma recessão global com queda no consumo, inflação e desarranjo em todas as cadeias de suprimentos, inclusive dos alimentos. Uma crise planetária agravada por polarizações político ideológicas, acompanhada de uma falência de líderes visionários, competentes e que possam executar uma condução para a prosperidade, o que significaria a governança da boa esperança.
Nas últimas semanas os analistas financeiros tem colocado para baixo as expectativas do PIB do país para 2022, em uma associação com os efeitos climáticos prejudicando as safras e consequentemente o agronegócio brasileiro.
© 2025 José Luiz Tejon Megido. Todos os direitos reservados. Desenvolvido por RMSite