CABEÇA
DE LÍDER

José Luiz Tejon

Eldorado/Estadão - Não cabe à agricultura dar péssimas notícias de queimadas que não lhe pertencem

Publicado em 16/07/2021

gratis.png
Se queimadas e desmatamento são as duas piores notícias para o agronegócio por que pedir ao setor agrícola que seja o porta voz das notícias ruins?

O agro é muito importante mas não faz tudo. Por que o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) na agricultura? Se queimadas e desmatamento são as duas piores notícias para o agronegócio por que pedir ao setor agrícola que seja o porta voz das notícias ruins? Incêndios naturais não são arte dos agricultores. Incêndios criminosos também não são causados por agricultores, logo? Estranha essa mudança.

Recentemente o Inpe, ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia passou para o Ministério da Agricultura, sendo tudo centralizado no Instituto Nacional de Metereologia (Inmet). Clima é muito importante, sem dúvida, para toda agropecuária. Cada vez mais teremos conectividade e evolução das previsões climáticas, fazenda a fazenda, significa um fator incontrolável, o clima, que interfere gigantescamente na produção, na economia e na segurança alimentar do país, bem como na sustentabilidade e na rentabilidade dos agricultores. Basta ver o efeito neste momento com a seca e a geada, impactando em cerca de 15 milhões de toneladas a menos a colheita do milho no país.

Agora, por que fica sob a responsabilidade do Ministério da Agricultura dar os alertas de incêndios, queimadas, com todas as suas conotações então vinculadas aos produtores rurais, quando não são eles os que realizam os crimes ambientais? Não estivéssemos no Brasil sob um olhar de má imagem sob os temas de desmatamento nos biomas, como na Amazônia, por exemplo, e com os clientes internacionais vinculando crimes ambientais com nosso agronegócio, poderíamos ter como nos Estados Unidos o USDA, Departamento de Agricultura, junto com o Forest Service, um serviço de proteção, prevenção e educação das florestas americanas.

Mas aqui no Brasil, quando os estudos revelam que os responsáveis pelos crimes não são agricultores, e sim criminosos, que cabe a lei prender e punir. Levar esse tema que traz péssima imagem, para exatamente o setor que precisa cada vez mais de boa imagem para aumentarmos acesso aos mercados, não me parece nada como uma boa ideia.

Incêndios, queimadas, desmatamento estão, quando provocados, a criminosos conectados. E quando não são incêndios provocados, mas resultado das secas, a responsabilidade cabe imensamente à sociedade como um todo e  à população urbana, e até a imprudência de uma bituca de cigarro jogada num canavial, por um irresponsável numa estrada.

Passar ao agronegócio a responsabilidade de anunciar alertas e queimadas significa passar para o setor que mais sofre com isso, tanto materialmente como moralmente. Os impactos ambientais das cadeias produtivas do agronegócio, 80% deles não estão dentro das porteiras das fazendas e sim no antes das porteiras desde as minas de fertilizantes, os combustíveis fósseis, até o pós porteira das fazendas com logística, infraestrutura, uso da água, indústria, comércio e desperdício, além da insuficiente economia circular.

Não cabe à agricultura dar as péssimas notícias das queimadas que não lhe pertencem. Ironizando, como se pedíssemos ao setor da maternidade dar informações dos óbitos de todo hospital.

José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão.

Também pode interessar

Estou aqui em um momento muito importante, interessante, no Rio Grande do Sul, interior, Passo Fundo, na sede da maior empresa de biodiesel do país e curiosamente nascida de um empreendedor Erasmo Battistella que tinha um posto de gasolina e deste posto ele criou a Be8 que hoje está abrindo portas e está vendendo biodiesel para a população suíça.
Ouvi diversos especialistas e há um entendimento que foi o melhor que pode ser feito. Elogios associando a agricultura com sustentabilidade e dúvidas de como será possível averiguar as ações dos produtores no quesito ambiental e sustentável onde há um prêmio no crédito. Dos especialistas com quem conversei, deram nota 8. Uma boa sugestão foi a de que não deveríamos separar o plano safra “empresarial” versus o “familiar”. Concordo, isso alimenta o inconsciente coletivo de que são coisas diferentes e que não fazem parte do sistema único do agronegócio.
O mundo pede mais produção e alimentos saudáveis. 150 milhões de toneladas de soja, vamos lá Brasil, fizemos 136 na safra 2020/21. Milho, 150 milhões de toneladas de grãos, por que não? Faremos cerca de 90 milhões de toneladas nesta safra. Incorporar 10 ou 15 milhões de hectares de áreas boas com pastagem degradada sem cortar uma só árvore.
O Brasil aprendeu a ser o país do E muito mais do que do OU. E aprendemos isso graças as nossas próprias condições muito difíceis tropicais, onde as práticas consagradas da agricultura de clima temperado não funcionam. Dessa forma desenvolvemos o Açúcar E o Etanol, e agora também E o biometano E eletricidade, e vem por aí só para ficarmos no ramo da cana-de-açúcar E derivados de 2ª geração para a saúde humana.
© 2025 José Luiz Tejon Megido. Todos os direitos reservados. Desenvolvido por RMSite