Eldorado/Estadão - Embrapa é a voz da ciência e consciência, compete a cada estado regular seu calendário de plantio
Publicado em 04/10/2021
DivulgaçãoConversei com o diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa, Guy de Capdeville; e com o chefe geral da Embrapa Soja, Alexandre Nepomuceno. O motivo da entrevista é a de esclarecer quais são os papéis e responsabilidades a respeito das questões e discussões sobre segurança fitossanitária. Ambos os dirigentes da Embrapa são claros ao informar: “o papel da Embrapa é o de fornecer informações técnicas resultantes de pesquisas para subsidiar gestores públicos e legisladores. “Cabe ao MAPA e secretarias de agricultura dos estados a permissão e regulação de cultivos e semeaduras”.
Como exemplo, na Bahia a ADAB - Agência de Defesa Agropecuária da Bahia, publicou no Diário Oficial a revisão dos procedimentos sobre a segurança fitossanitária do algodão. E isto nasceu de uma nota conjunta da Fundação Bahia com a Embrapa e a participação da Abapa, Associação Baiana dos Produtores de Algodão, com seu presidente Luiz Carlos Bergamaschi, enaltecendo a importância da governança da cadeia do algodão como um todo.
Guy de Capdeville registra que a Embrapa tem responsabilidades com a mitigação de riscos epidemiológicos com todo agronegócio brasileiro e sobre o calendário da soja possui o maior centro de estudos da cultura no mundo. Ao lado do Consórcio Antiferrugem, são dezenas de pesquisas e artigos publicados. Ainda registra que a “ponte verde” é um veículo perigoso para aumentar a resistência do fungo e que o vazio sanitário é obrigatório , lamentando que alguns estados, desde 2003/2004, levaram de 5 a 10 anos para sua oficialização e que alguns até hoje não realizam.
Alexandre Nepomuceno, chefe da Embrapa Soja, afirma que 90 dias é a janela ideal de plantio, que a ferrugem asiática é complexa e que são 3 os procedimentos essenciais na convivência administrada da doença: 1 - melhoramento genético; 2 - desenvolvimento de novas moléculas fungicidas; 3 - escape e redução da janela de plantio.
Ambos os dirigentes me disseram ter dossiês, estudos e estão abertos a pesquisas como está posto no site da Embrapa: “esclarecimentos oficiais - alertas sobre a ferrugem asiática, atualizado em 15/9/2021”. Fazem, entretanto, uma ressalva: “pesquisas que gerem novos conhecimentos e não para comprovar o que já é de há muito sabido”. Em síntese não há nada novo, segundo a Embrapa, sobre a menor incidência da ferrugem em plantios no mês de fevereiro . Isto é sabido.
Em resumo a Embrapa diz:
1- Cabe a secretaria estadual de cada estado definir a janela de plantio em função de suas realidades.
2- Tem pesquisas e estudos que não precisam fazer de novo. Resultados já são conhecidos. Temos o maior centro de soja do planeta, 300 phd’s, estamos a disposição para esclarecimentos.
3- Quanto maior a janela de plantio maior a “ponte verde” e vazio sanitário é obrigatório.
4- Embrapa atua com conceito de risco e recomendações preventivas, incluindo o campo complexo da epidemiologia. A diferença entre o que posso fazer versus o que posso mas não devo fazer, está na consciência ética da gestão da ciência.
Portanto, no assunto calendário da soja, vejo pessoas corretas, íntegras e bem intencionadas. Cada qual com uma visão da verdade querendo o melhor para o Brasil, mas uns em oposição a outros. Talvez Carlos Goulart, diretor do departamento de sanidade vegetal e insumos agrícolas do MAPA tenha razão: “o principal insumo que estamos precisando é o da temperança, liderança e governança entre líderes”.
Reuni-vos! Sobre uma questão cada vez mais essencial para o Brasil é perguntar: “afinal, quem fala em nome do agronegócio nacional?”. Agronegócio que vai do consumidor até o pesquisador, passando por agricultor, transportador, comércio, processador, sistema financeiro, mídia, serviços, sem esquecer do papel do vendedor acessando mercados, Itamarati e iniciativa privada incluindo cooperativas. Fizemos uma pesquisa em abril de 2020 pela Onglobalstrategy, perguntando isso na sociedade brasileira urbana: “quem tem reputação e credibilidade para falar pelo agro brasileiro?”. Em primeiro lugar surgiu a marca da “Embrapa”. Portanto, líderes brasileiros, além de agribusiness vamos também compreender estratégias de marketing, o reino das percepções.
Afinal como já escrevia o poeta português Camões: “quem faz o comércio não faz a guerra”. Tudo vai dar certo, é minha esperança.
José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão.