Eldorado/Estadão - Há muito mais entre o que agricultores recebem versus o que nós consumidores pagamos do que pensam as vãs polarizações
Publicado em 27/01/2025
Divulgação
Sem dúvida a agricultura e a pecuária brasileira moderna têm salvo a economia brasileira. O saldo da balança comercial no ano deverá atingir US$ 126 bilhões. Quer dizer, sem a agricultura e a pecuária como a fazemos nos últimos 50 anos estaríamos na mesma condição de subsistência e subdesenvolvimento da maioria de todos os países dentro da faixa tropical do planeta, o cinturão tropical.
Porém isso revela da mesma forma o quanto nosso setor industrial não se desenvolveu na mesma proporção, apesar de termos uma agroindústria que vende para o mundo o maior volume, porém ainda distantes na contabilidade dos valores recebidos, e podemos estabelecer aqui uma relação desse saldo positivo da agricultura e pecuária, com o tema do preço dos alimentos. Então uma coisa são preços recebidos pelos produtores rurais, outra coisa bem diferente é preço pago por consumidores finais. Assim como não podemos mais analisar agricultura e pecuária fora de todo contexto batizado de “agribusiness” na Universidade de Harvard nos anos 50 pelo Prof. Dr. Ray Goldberg, e educado no Brasil desde o início dos anos 90 pelo Prof. Décio Zylbersztajn no Pensa da FEA USP e hoje com o Prof. Cláudio Pinheiro Machado.
O preço dos alimentos ao consumidor final, dependendo do nível de agregação de valor industrial, comercial e de serviços, é multiplicado por 3, 4 vezes ou até dezenas de vezes.
Exemplo simples: preço da saca do arroz para o produtor hoje. 50 kg. Na casa de R$ 100,00. Significa R$ 2,00 o quilo ao produtor. Preço do arroz na ponta do consumidor, vai depender da marca, da qualificação, mas pode variar de R$ 6 a R$ 10 o quilo. Ou seja, de 3 a 5 vezes mais.
Quando olhamos o feijão, outro produto também essencial, mas com forte proximidade entre o campo e a mesa, da mesma forma vamos encontrar a multiplicação dos preços numa proporção parecida com o arroz. Porém, quando formos para itens de maior valor agregado nos alimentos e bebidas, a “multiplicação” dos preços será o resultado de uma malha muito mais complexa, veja a diferença entre o preço do café no campo versus seu valor no supermercado ou numa cafeteria, ou ainda numa cápsula, dezenas de vezes maior. Vamos ver isso da mesma forma nas proteínas animais e hortifruticultura. Por isso não podemos simplesmente associar e colocar essa “percepção de imagem” nos ombros dos agricultores.
Por outro lado, se vendêssemos para o mundo mais produtos com níveis superiores de agregação de valor agroindustrial nossas receitas seriam ainda muito superiores às boas notícias que obtivemos do saldo comercial previsto para US$ 126 bilhões neste ano.
Temos produção agropecuária forte superando até quatro anos de instabilidades climáticas e de preços plenos de incertezas, incluindo o sistema bioenergético e florestal. Se não olharmos para o complexo total, agroindustrial, comercial e de serviços, com os aperfeiçoamentos vitais a serem feitos, estruturais no país, como logística, armazenagem, distribuição, complexidade tributária (24,4% de impostos sobre alimentos agroindustriais, a 2ª maior taxa do mundo) desperdícios, forte estímulo a agregação de valor industrial e também ao crescimento dos produtos da hortifruticuitura e de gastronomias locais em cada cidade, a discussão sobre preços dos alimentos ao consumidor final jamais será resolvida mirando de maneira simplista e radical o produtor rural.
A agropecuária é o elo mais frágil do sistema agroalimentar e o que menos recebe ao longo das cadeias produtivas. Está na hora de passarmos a administrar de verdade “agribusiness” versus polarizações inúteis entre os elos desse complexo sistema.
E com isso termos de verdade uma “política e planejamento estratégico de agronegócio com sua correta tradução de agribusiness”, para vendermos muito mais e melhor para o mundo e termos abastecimento e preços locais no país justos tanto para produtores quando consumidores. E com um fator adicional importantíssimo sobre tudo isso: sem dúvida iríamos elevar a renda da população e combater a desigualdade social.
Há sem dúvida também pensando em segurança alimentar do país um papel muito importante a cargo da Conab, Companhia Nacional de Abastecimento, a ser desenvolvido como um plano de estado.
Síntese: governos não resolvem isso. Planos de estado de longo prazo são vitais e essenciais e a sociedade civil organizada precisa atuar. Imaginaria uma reunião das confederações nacionais empresariais diretamente envolvidas com a questão como CNA, CNC, CNI, CNcoop, CN transporte + Governo, pelo menos: Agroconsciente.
José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão.