Eldorado/Estadão - Investimento em capital humano explica por que a agropecuária cresceu 3,6 vezes mais do que a indústria
Publicado em 21/06/2021
Terra não dá grão, quem faz isso são seres humanos com educação. Pero Vaz de Caminha no descobrimento escreveu: em se plantando tudo dá. Estava enganado. A terra não dá nada. Precisa de conhecimento e inteligência humana. São as pessoas que a compreendem e quem com ela dialogam que fazem dar.
No Estadão do último domingo (20), na seção Economia, página B3, existe um artigo importantíssimo de Afonso Celso Pastore comentando estudos do economista Carlos Geraldo Langoni, a quem homenageamos in memorian, falecido no último dia 13 de junho, no Rio, de Covid-19. Langoni, escreve Afonso Celso Pastore, defendia o crescimento econômico ser prioritariamente dependente do investimento em capital humano, quer dizer, preparar gente competitiva com inteligência de ponta para os diversos setores do país.
Conversei com Ivan Wedekin, que foi secretário de Agricultura ao lado de Roberto Rodrigues quando ministro e que está agora diretamente envolvido nos trabalhos a respeito de Alysson Paolinelli, para o Nobel da Paz, e que foi durante o governo de Ernesto Geisel, de 1974 a 1979, o responsável pela implementação da Embrapa no Brasil, a organização que orquestrou a grande mudança e o salto de produtividade e competitividade no Brasil a partir da virada dos anos 80 em diante. Fazendo exatamente o que Langoni defendia e a tese de Schultz, com quem havia estudado em Chicago evidenciava.
E Ivan me disse: “esse conhecimento que está no artigo de Afonso Celso Pastore sobre a visão de Carlos Langoni, foi gerado com os estudos do prêmio Nobel da Economia, de 1979, Theodore Schultz, onde tratou da transformação da agricultura tradicional para a moderna.
Alysson Paolinelli implementou um projeto que tinha sido preparado pelo ministro da economia anterior, Cirne Lima, ainda no governo Medici, cujo fato revolucionário foi investir em programas internacionais de doutorado e pós doutorado para cerca de mais de mil brasileiros.
Foi essa revolução de investimento em capital humano, diz Ivan Wedekin, ao lado do Plano Real, em 1994, da lei Kandir e da libertação para a internacionalização da agropecuária brasileira que então constatamos que, ao contrário do que acontecia nas décadas anteriores até o ano 2000, com crescimentos maiores dos demais setores econômicos do país, passamos a ver o oposto, o deslanche do agronegócio. Na década de 2001 a 2010 o PIB da agropecuária já crescia mais do que o dos serviços e da indústria e do próprio PIB brasileiro.
Então na última década de 2011 a 2020 a distância da competitividade e da produtividade do agronegócio ficou brutalmente superior aos demais setores. A agropecuária cresceu 32,5% nessa década enquanto a indústria caiu 9,2%, os serviços e comércio cresceram apenas 5% em 10 anos e o PIB total brasileiro somente 2,7%.
O investimento em capital humano, ciência, tecnologia, cooperativismo e mesmo com todas as dificuldades de infraestrutura e logística do país, nos últimos 20 anos, de 2000 até 2020, o agronegócio cresceu praticamente o dobro do PIB brasileiro, quase o dobro do setor de serviços e comércio e pasmem: 3,6 vezes mais do que a indústria nacional, quase 4 vezes mais de crescimento do que a indústria.
O que isso nos revela sobre o futuro?
O investimento de todos e o que promove o crescimento é no capital humano e na abertura para jogar os campeonatos mundiais em todos os continentes e não criar proteções que só servem aos grupos tradicionais contra a modernização. Não vamos crescer o PIB sem a renovação da indústria brasileira, e ela será também fundamental para o agronegócio, pois significará agregação de valor nas commodities que competente e competitivamente aprendemos a produzir no cinturão tropical do planeta, onde a coisa nunca foi como Pero Vaz de Caminha escreveu: “em se plantando tudo dá”.
A terra não dá nada, quem cuida, planta e preserva a terra, esse sim é que faz a terra dar. São pessoas, é o capital humano. A ciência. Terra não dá grão, quem faz isso são seres humanos com educação. Parabéns in memorian ao economista Carlos Langoni, falecido de Covid-19 no último dia 13 de junho no Rio de Janeiro. Nunca tantos devem tanto a tão poucos, frase de Churchill que serve tanto para todos nós.
José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão.