Eldorado/Estadão - Mais agronegócio e menos egonegócio. As mudanças chegando com a crise passando
Publicado em 09/09/2022
TCACrises são os choques que mudam o mundo. E mudanças irão ocorrer nesta década de transição. Por exemplo, os fregueses dos grãos, os setores do agronegócio que dependem de soja, milho, os grãos da ração, os criadores da proteína animal que assistem até a triplicação dos preços dos seus custos irão desenvolver fomento para diminuir a dependência da nutrição dos animais dos mercados spot. Contratos diretos de criadores, agroindústrias com produtores sob condições pré-definidas. E até arrendamentos para segurança de alimentos.
Os consumidores finais dos alimentos estão na crise aprendendo a trocar de marcas. Não caiu o consumo, houve a substituição de marcas por opções mais baratas. Nos restaurantes e comida a quilo assistimos a substituição das opções mais caras por alternativas mais baratas e também assistimos diminuição das porções, ofertas de embalagens menores. O consumidor está aprendendo a racionalizar e a diminuir o desperdício.
As produtoras e produtores rurais com seus custos quase triplicados, sentiram na pele até os riscos de não ter fertilizante, defensivos, da mecanização, enquanto a Embrapa criava a Caravana FertBrasil, vimos um foco fortíssimo no uso correto das tecnologias no campo, também lutando contra o desperdício e o mau uso. A Croplife está agora envolvida em um plano para habilitar todos os operadores de pulverizadores do país, por exemplo. Inovações irão irromper e chegar no mercado como os bioinsumos, pró-bióticos, além de sistemas ABC e ilpf.
Os órgãos de governo responsáveis pela segurança alimentar da nação provavelmente irão rever os estoques de segurança, e o planejamento estratégico de diversas cadeias produtivas em uma visão de estado e de longo prazo.
A crise nos irá acelerar a busca de mais negócios no campo agroenergético, agroambiental, além do agroalimentar. E da mesma forma iremos assistir uma integração mais clara entre os elos do complexo do agronegócio, reunindo indústria, comércio, serviços, agropecuária, do antes, dentro e pós-porteira, da genética até os consumidores finais, em uma era de “agrocidadania”.
Tudo seria fácil não fossem as dificuldades, para que isso ocorra em maior velocidade precisaremos diminuir o lado do “egonegócio” para virmos a ser muito mais “agronegócio”. Isso quer dizer “a soma total dos fatores desde os insumos, ciência, tecnologia que antecedem a agropecuária, cruzando pelos campos, águas e mares onde se realiza a originação dos alimentos, fibras, energia, especiarias; indo ao pós-porteira de granjas e fazendas, envolvendo transporte, agroindústrias, comércio, supermercados, serviços financeiros, bolsas e o mercado de capitais, e isso tudo chegando nos consumidores finais, nas pessoas.
Além da crise econômica, sanitária e política destes tempos assistimos ainda mudanças climáticas com secas no hemisfério Norte, e no Brasil mesmo perdendo em torno de 40 milhões de toneladas de produção nas últimas duas safras em função do clima. Iremos ver acelerar as iniciativas ambientais e a fome, insegurança de alimentos, além de trazer a luta antidesperdício, colocar em evidência a economia circular, os modelos ACV - Avaliação de Ciclo de Vida de produtos.
E a crise obrigará todos os agentes a dialogarem muito mais entre si. O cooperativismo vai crescer, uma agrofilantropia para cidadãos sem renda para consumir se organizará. Um agronegócio como foi fundamentado em Harvard na sua origem, pelos professores John Davis e Ray Goldberg, vai prevalecer atualizado para um “food citizenship”, agrocidadania, com um papel determinante da juventude doravante. Isto significará muito mais “agronegócio” do que egonegócio.
José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão.