CABEÇA
DE LÍDER

José Luiz Tejon

Eldorado/Estadão - Novo calendário da soja versus ferrugem asiática: afinal quem tem razão?

Publicado em 27/09/2021

Divulgação Aprosoja Brasil
Soja/Ferrugem asiática

Semana passada comentamos aqui sobre o novo calendário do plantio da soja que foi estendido de 31 de dezembro para meados de fevereiro. E registramos manifestações de entidades considerando esse fato oferecer um “banquete ambiental para a proliferação da doença ferrugem asiática”.

O presidente da Aprosoja Brasil, Antônio Galvan, nos ligou e pediu que ouvíssemos mais fontes científicas a respeito, pois haviam controvérsias sobre a informação. A Aprosoja Brasil defende o novo calendário, considerando-o correto.

Como é o fundamento de um jornalismo ético, este praticado aqui no jornal Eldorado, ouvi neste final de semana dois professores doutores a respeito da afirmação sobre a questão da ampliação do calendário de plantio da soja versus efeitos na proliferação da doença da ferrugem asiática, cujos danos conhecemos bem, pois com ela aprendemos a conviver ao longo dos últimos 20 anos.

Ouvi o professor Elmar Luiz Floss, foi professor de bioquímica vegetal, fisiologia vegetal, culturas de lavouras e conservação de solos na Universidade de Passo Fundo, Rio Grande do Sul . Doutor em agronomia pela Esalq/USP, um profundo conhecedor da soja, com um livro recém lançado de extraordinário valor: “Maximizando o rendimento da soja”.

Sobre essa questão o prof. dr. Elmar me disse: “o novo calendário será positivo para o Rio Grande do Sul, pois precisamos de milho para atender a produção da proteína animal. Temos custos proibitivos como importadores de milho de outros estados. Com a nova janela de plantio podemos plantar milho primeiro e fazer uma safrinha de soja depois. Quer dizer, no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, a soja seria a safrinha, e o milho a principal lavoura, isso se viabilizaria com o novo calendário indo além de 31 de dezembro para meados de fevereiro.

Ouvi também a informação do professor José Otávio Menten, doutor em fitopatologia da Esalq/USP e presidente do CCAS, Conselho Científico do Agro Sustentável, que afirma: “a quantidade de ferrugem é menor quando se semeia em 15 de fevereiro do que em 31 de dezembro. O número de aplicações de fungicidas é menor para as lavouras semeadas em 15 de fevereiro, este é o resultado das pesquisas”, assim explica o dr. Menten.

Em função das controvérsias de visões científicas, dedicaremos esta semana no agroconsciente a ouvir outros pesquisadores com pesquisas realizadas e publicadas. O assunto é muito importante pois a soja impacta diretamente 50% do valor bruto da produção agropecuária do país, impacta o abastecimento interno da população, e da mesma forma cerca de 50% das exportações ao reunirmos sua cadeia produtiva do grão, óleos, farelo, aves, suínos, leite e ovos.

A soja é importante demais para não mergulharmos nesse debate. Por outro lado no portal da Embrapa - www.embrapa.br/soja/ferrugem há uma nota afirmando: “…o período ótimo para a semeadura da soja na maior parte do país é entre outubro e novembro. Com isso, até março todas as lavouras estariam colhidas. Como o fungo causador da ferrugem asiática precisa de plantas vivas para sobreviver, a ausência de plantas interrompe seu ciclo produtivo. Ao se semear em fevereiro, amplia-se até junho o período com plantas vivas no campo. Chamada de ponte verde, essa situação aumenta o número de gerações do fungo em uma única safra. Sabe-se que a semeadura em fevereiro apresenta menor severidade de ferrugem asiática do que a semeadura em dezembro, porém menor severidade não significa ausência”.“

Ou seja, será fundamental uma mesa de debates sobre essa questão. Então, estamos aqui no agroconsciente do jornal Eldorado abertos a ouvir os cientistas, pesquisadores e agricultores, sem vieses de ordem econômica, ideológica e política. No assunto das doenças, a ciência precisa falar mais alto.

Vamos ouvir e tratar com transparência e integridade ambas as visões. E se você tiver a sua opinião, por favor, envie para nós. Na próxima quarta-feira traremos a opinião de mais pesquisadores. Esta semana está dedicada a questão. Novo calendário de soja versus ferrugem asiática: afinal quem tem razão?

José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão.

Também pode interessar

O agronegócio não pode parar. O transporte não pode parar. Comento no programa de hoje sobre a marcha da sensatez e a importância de que tenhamos a escolha de extraordinárias pessoas para o Ministério da Agricultura do novo governo, para a construção de um agronegócio que dobre de tamanho e que deixe o caminho aberto para dobrar de tamanho nos próximos 04 - 05 ... 06 anos.
Estive com líderes agricultores e essa pergunta é feita: afinal, quando vai funcionar esse tal mercado do carbono e como vai? Fabiana Villa Alves, diretora do Departamento de Cadeias Produtivas e Agregação de Valor do Ministério da Agricultura, dirige o programa “Cadeias Produtivas Agropecuárias Descarbonizadas”. Uma extraordinária ideia associada ao Plano ABC + e carbono + verde.
Após um resultado extremamente negativo do PIB brasileiro, sendo o clima o grande vilão das perdas no agronegócio, Fábio Feldmann, um dos maiores especialistas em meio ambiente, o primeiro presidente da SOS Mata Atlântica e articulador da campanha de despoluição do rio Tietê, é o entrevistado do Jornal da Eldorado.
Num artigo extraordinário do economista Roberto Macedo para o jornal Estadão (18.07 – Pág. A4), ele enfatiza: “ocupamos o 3º lugar dos países com maior desigualdade social, atrás da Rússia e da África do Sul, algo que poderia ajudar seria uma forte aceleração do crescimento econômico. O Brasil já chegou a crescer 7% ao ano e, agora, há mais de 4 anos nos conformamos com crescimentos de apenas 2%, onde a sociedade e analistas econômicos projetam essa previsão para os anos futuros”.
© 2025 José Luiz Tejon Megido. Todos os direitos reservados. Desenvolvido por RMSite