Eldorado/Estadão - O agro brasileiro precisa ousadia, protagonismo e extirpar a guerra de nervos!
Publicado em 26/07/2023
DivulgaçãoEu ontem (25) tive um momento muito rico, participei de um evento com empresários do setor de bioenergia e também com a presença da ex-ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, e acabamos vendo o quanto o Brasil ao invés de ter uma postura de ousadia, de protagonismo, perante toda a situação internacional, de carência de alimentos, de necessidade bioenergética, de necessidade deste mundo que já chegou, o futuro já está aqui, terminamos por ficar em uma situação de discutir o que não é importante.
Se olharmos do início de 2020, quando também a pandemia começava, em janeiro, fevereiro e março, estava evidente que o mundo ia entrar em uma grave crise com explosão de preços daquilo que nós temos uma riqueza muito grande, exatamente de commodities. Então as commodities triplicaram, uma saca de soja valia R$ 70 e foi para R$ 180, R$ 190, o milho, o arroz, tudo, os preços dos alimentos praticamente triplicaram de valor.
E os agricultores, pelo preço, tomaram a iniciativa de plantar mais, e plantamos mais, viemos com safras que foram crescendo, a 2020/2021, a 2021/2022, a 2022/2023, aí para 315 milhões de toneladas de grãos e daí o problema, a falta de planejamento que eu sempre tenho colocado, produzimos mais e não temos estrutura de armazenagem.
Conclusão: os agricultores não têm onde guardar a safra e tem de vender imediatamente na hora em que colheu, consequentemente o preço no Brasil para os produtores brasileiros caiu, ao contrário do mundo que tem uma condição diferente de necessidade de alimentos. Portanto, quem está pagando a conta da nossa incompetência de visão de estado, uma visão estadista, uma visão de planejamento estratégico e de estrutura é o produtor. Agora, nesse momento, o preço caiu por causa da oferta brasileira e os agricultores ficam esperando ainda para comprar insumos, para ver se o preço não diminui, o do fertilizante, o do defensivo e que vai dar, daqui a pouco, uma grande confusão logística também no abastecimento.
Então o que sentimos falta e é um momento de reflexão sobre o preço é que de fato, uma guerra na Europa, uma pandemia e nós não assistimos uma ação de estado com relação à segurança alimentar, energética, e está tudo por conta do produtor se virar.
E não pode ficar nas costas do produtor, porque ele é o lado mais frágil desse sistema. Ele não manda em preço, em estoques internacionais, no câmbio, nos juros. Então ele é o lado frágil. É necessário que os agricultores brasileiros sejam devidamente protegidos, no bom sentido, como são os americanos, os canadenses, os australianos, os europeus onde tem essa preocupação com uma visão de estado e da segurança alimentar.
Nós podemos ir, e eu acredito que iremos, nem que seja aos trancos e barrancos, de 300 milhões de toneladas de grãos para 650 milhões de toneladas em 12 anos. Agora nós poderíamos ir de uma forma muito mais organizada, com menos sacrifícios e desgraças que vão ficando pelo caminho.
José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão.