CABEÇA
DE LÍDER

José Luiz Tejon

Eldorado/Estadão - O agro que faz sucesso é obra da iniciativa privada com educação

Publicado em 17/07/2023

Divulgação
Esalq

Desde o plano de valorização do café, no início do século XX, até hoje essa é a constatação. A tecnologia é ciência aplicada e tudo o que temos de insumos, mecanização, softwares de gestão da moderna agropecuária são disponibilizados para produtores rurais por empresários empreendedores locais ou internacionais, sob iniciativa e risco capitalista, ao lado dos centros avançados brasileiros educacionais onde contamos com universidades reconhecidas no mundo inteiro e centros de pesquisa tropicais. E um valoroso trabalho do Sebrae, Senar, Sescoop, Senai, Sesc, o sistema S.

O desenvolvimento dos agricultores brasileiros, com péssima infraestrutura à disposição, logística sofrível, falta de armazenagem para guardar safras, irrigação de apenas 10% da área agrícola, atuando sem subsídios e sem planejamento estratégico, com metas de produção e seguro rural insuficientes, tem ocorrido única e exclusivamente por conta e risco de suas decisões. Ultrapassamos 300 milhões de toneladas de grãos por obra,  mérito e risco exclusivo de produtores e produtoras acessando tecnologias, elevando a produtividade e se relacionando com trocas de grãos por insumos com multinacionais, revendas, vendendo via tradings; e no caso dos pequenos produtores, organizados em cooperativas, da mesma forma conta e risco de líderes cooperativistas que investem parte das sobras em agroindustrialização com agregação de valor a exemplo da atividade de aves e suínos, e quando falta milho precisamos importar e eles se viram para continuar produzindo com ração a custos estratosféricos.

Quando temos empresas pós-porteira das fazendas, que aqui no Brasil compram cerca de 60% do que os produtores brasileiros produzem, ou seja, a indústria de alimentos e bebidas, elas atuam sob o maior nível de impostos do planeta terra, nessa área de alimentos, processam as matérias primas, exportam enfrentando competidores apoiados e protegidos por seus governos ou, então, por barreiras não tarifárias, mas exigentíssimas em comprovações ambientais. O algodão onde saímos de 2º maior importador para o 2º maior exportador, em cerca de 25 anos, essa ação é mais um exemplo da governança e das estratégias por conta e risco do setor que se organizou. Somos o maior produtor e exportador de suco de laranja, sem contarmos com nenhuma benesse do estado. E tem sido da ação empreendedora nacional os grandes esforços para o biocombustível, com o Renovabio, biogás, biodiesel, etanol e o querosene verde para aviação. São empreendedores na produção e na transformação e logística que viabilizam isso, e têm realizado mesmo sob circunstâncias adversas, conflituosas e polarizadas ideologicamente.

Em suma, esta coluna neste momento procura enfatizar com o máximo da ênfase que doravante, no atual estágio reinante do agronegócio brasileiro, significando cerca de 30% do PIB do país, onde tem sido o dentro da porteira, a produção agropecuária que tem segurado por sua conta e risco a exportação e oferta interna de alimentos , está na hora de um novo choque de iniciativa privada, de empreendedorismo e cooperativismo, principalmente nas estruturas industriais tanto do antes das porteiras, na indústria de insumos e tecnologias, fertilizantes para o campo, quanto na indústria, comércio e serviços depois das porteiras das fazendas, objetivando diversificação de produtos e de destinos do agro nacional, com agregação de valor, indicações geográficas e marcas que  estabeleçam vínculos com os consumidores mundiais.

Tenho andado muito pelo Brasil e existe falta de mão de obra especializada nesse moderno agro. Há uma necessidade gigantesca de planos educacionais e atração da juventude da cidade para as oportunidades dentro de um agroconsciente e da inexorável bioeconomia.

Está na hora de avançarmos de uma relação btob, empresas com empresas, para uma relação btoc, empresas para consumidores finais como a grande estratégia dos próximos 10 anos, e na hora de uma redefinição de agronegócio para uma agrobiocidadania, onde estratégias de cadeias produtivas desde o gene do geneticista até o “meme” do supermercadista se componham numa única partitura e parceria.

E isto só faremos libertando empresários para investir com ousadia e organizados em associações que se reúnam e dialoguem entre si. Para tanto é necessário segurança de governança da liderança do estado brasileiro onde o bom silêncio, com visão estadista, deve se sobrepor ao vozerio, ao burburinho dos interesses eleitoreiros mesquinhos. E quando o governo não faz mais nada do que sua obrigação acendem os holofotes e espolcam os rojões canalizando para si todas as percepções.

Seria falar muito menos, talvez um pacto de silêncio por pelo menos 30 dias dos poderes públicos, calar a boca, e chamar quem pode, sabe e precisa realizar para a frente do palco. Dar voz aos empreendedores brasileiros. Governo, vá de volta ao Backstage. Empreendedorismo tomem o front stage.

Precisamos dobrar o agro de tamanho nos próximos 10 anos. E isso só irá ocorrer com a iniciativa privada em ação ao lado das cooperativas do setor e com muito foco na educação profissionalizante onde mestres de ofício preparados desde jovens, venham depois a se tornar nos mestres e doutores stricto sensu.

Ao presidente da república cabe uma missão sagrada de líder: foco. Dar foco no rumo e na missão da nação, e diminuir as distrações que nos roubam tempo precioso, energia e vidas desperdiçadas. Aos maestros a regência das orquestras, mas são os músicos que interpretam, tocam e realizam a sinfonia, o oposto total da cacofonia. A guerra Ucrânia e Rússia impacta o agronegócio mundial. A quem interessa? Com certeza nem aos agricultores, nem aos consumidores.

José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão.

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