Eldorado/Estadão - O alimento não serve a um só senhor. Mais grão, alimentação, e não inventem a soja eleição
Publicado em 23/08/2021
DivulgaçãoÂngela Maria, a maior cantora do Brasil, segundo a própria Elis Regina, cantava um sucesso que repetia: “eu tenho o destino da lua que a todos encanta e não é de ninguém”. Perfeito para o alimento. Perfeitíssimo para o agronegócio da soja neste momento de polarização, que a todos pertence, a toda sociedade, e não é de ninguém com exclusividade.
Agronegócio foi a conclusão dos professores Ray Goldberg e John Davis na Universidade de Harvard nos anos 50. Concluíram que não haveriam agricultores no mundo moderno sem sementes, fertilizantes, máquinas, tecnologias. Da mesma forma os agricultores precisariam do transporte, logística, armazéns, agroindústrias, comerciantes e, sem dúvida, de clientes e consumidores, e estes precisariam dos agricultores e demais anteriores. Por isso o nome foi o de um sistema de negócios. Agribusiness.
Não batizaram esse complexo como “agripolitic” ou “agrideology” e sim como um sistema de negócios, o antes, dentro e pós porteira das fazendas. Alguns no Brasil querem se autoeleger como os donos e os senhores do agronegócio. E pior, desejam associar esse megacomplexo, o agronegócio, que envolve no país milhões de agentes a um só senhor. E o pior, associar o agro a este ou aquele grupo e pessoa, ou àquela opção ideológica político partidária.
Agronegócio foi redefinido pelo próprio seu criador, o prof. Ray Goldberg, numa conversa que tive com ele ano passado e com seu último livro, batizado de Food Citizenship, ou seja, uma agrocidadania onde o conceito de cidadania incluindo meio ambiente, responsabilidade social e saúde representam doravante a sagrada governança desse mega complexo.
Toda vez que o alimento na história foi usado como arma de guerra política, ideológica ou luta pelo poder, de uns contra os outros, todos se deram muito mal, tanto agricultores quanto a população. Os embargos de alimentos de uma nação contra a outra comprovam isso. E a desordem interna dentro das próprias cadeias produtivas, um elo contra o outro, da mesma forma nos ilustra para o caos decorrente. Dessa forma, o negócio dos alimentos, além de negócio, é também coisa da cidadania, da consciência e da paz.
Portanto, alimento é patrimônio da humanidade. A todos pertence e não é de ninguém, gestão da cadeia produtiva e política de estado é a única solução. O agro não é de ninguém com exclusividade, como Ângela Maria cantava sobre seu próprio lindo destino da lua – “A todos pertence e não é de ninguém”.
Agro é tudo. Portanto é de todos. Agricultores, pesquisadores, caminhoneiros, industriais, administradores, comerciantes, consumidores, eu e você. Vamos cuidar, e da guerra pelos falsos poderes e egos, o afastar . Mais soja, ração, óleo, grão, farelo, farmacêutica, saúde, alimentação e independência e vida. Nada de inventar a soja eleição.
E se quiserem ouvir mesmo a melhor música da rainha sertaneja Roberta Miranda ouçam um legítimo hino do agro. “Bom dia minha terra”, coisa lindíssima, que a todos pertence.
José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão.