CABEÇA
DE LÍDER

José Luiz Tejon

Eldorado/Estadão - O preço da soja caiu. Só no Brasil! E os agricultores carregam sozinhos o risco.

Publicado em 26/04/2023

Divulgação Farsul
Antônio da Luz, economista chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul)

Antônio da Luz, economista chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) e também Ceo da Agromoney nos explica de maneira simples, óbvia e ao mesmo tempo genial, por que o preço da soja caiu só no Brasil.

“A queda do preço da soja no Brasil tem suscitado um debate muito importante como nos chama a atenção o Tejon. Essa queda no preço está acontecendo somente no Brasil. E é uma queda muito forte. Para termos uma ideia o preço da soja nos portos já caiu mais do que 28%, se compararmos com idêntico período do ano passado. 28%, imagine você diminuir a sua receita, por força da queda do preço, em 28%. Só que o preço da soja lá fora em Chicago, ela não caiu, pelo contrário, ela até aumentou um pouquinho. Ia ser uma grande notícia porque pior se o preço estivesse caindo lá fora e o mercado internacional tivesse com problema. Bom, então por que caiu no Brasil? Será que foi por causa da taxa de câmbio? Não, também não foi por causa da taxa de câmbio. Afinal de contas nesse mesmíssimo período do ano passado o câmbio estava até mais baixo. O que fez então cair? O preço da soja caiu quase 30% porque nós estamos colhendo uma safra 25 milhões de toneladas superior ao do ano passado e temos, praticamente, a mesma estrutura de armazenagem do ano passado. A mesma quantidade de caminhões, de hidrovias, de ferrovias do ano passado. As mesmas tradings, o mesmo espaço nos portos, as mesmas cooperativas, as mesmas cerealistas e assim por diante. Ou seja é muita gente vendendo soja simultaneamente. E se nós tivéssemos a possibilidade de armazenar mais no nível da propriedade? E se nós tivéssemos uma estrutura de armazenagem e logística de uma maneira geral melhor? Será que estaríamos com os preços assim? Certamente não, ou seja, tá aí algo que nós temos que aprender com o problema que se apresenta”.

Portanto, nada novo, o óbvio e o simples, mas por isso mesmo genial a luz que Antônio da Luz coloca num tema antigo e velho, falta armazenagem de alimentos no Brasil. A Conab, Companhia Nacional de Abastecimento informa que temos no máximo condições de armazenar metade, 50% da safra de grãos. Logo, ao produzirmos mais 25 milhões de toneladas e não termos onde estocar todos querem vender ao mesmo tempo. Conclusão, mesmo numa cultura dolarizada e diretamente impactada por câmbio e lei de oferta e procura internacional, mesmo nessa circunstância, o efeito local impacta as cotações da soja dentro do Brasil e prejudica os agricultores brasileiros.

Dessa forma, enquanto nos arranhamos e mutilamos numa guerra de narrativas ideológicas com lideranças vociferando umas contra as outras, nos falta o bendito planejamento estratégico estrutural, logístico, armazenagem, irrigação etc.

E sabe quem paga essa conta? De um lado agricultores, angustiados numa queda de preços de uma commodity plantada com custos elevadíssimos, com recorde de safra e produtividade, mas sem estrutura de armazenagem; e do outro o consumidor dos alimentos que vivem aos saltos submetidos aos ciclos econômicos e ao acaso da economia como bem disse o Prêmio Nobel de Ciências Econômicas de 2002, Daniel Kahneman.

Sem planejamento estratégico, neste momento, os agricultores estão sozinhos no risco. Genial e iluminada visão de Antônio da Luz, economista-chefe da Farsul.

Ontem (25), na Câmara dos Deputados em Brasília, o presidente da Câmara Arthur Lira convocou uma sessão solene em homenagem aos 50 anos da Embrapa. Que a Embrapa nos inspire ao planejamento estratégico do agro brasileiro aos próximos 50 anos.

E hoje (26), às 17 horas em Brasília, no pavilhão Ciência para a Vida, sede da Embrapa, cerimônia 50 anos. Parabéns!

José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão.

Também pode interessar

Roberto Rodrigues traçou uma linha inteligente no seu artigo “Nuvens escuras ou pedras cortantes” (Estadão, 14/5, - Pág. B5) revelando que se permitirmos os fatores incontroláveis assumirem os destinos do agro as boas intenções podem se transformar em frustrações. Precisamos de um plano safra com apoio à agricultura de baixo carbono, fundamental para a transição da economia tradicional para a verde. Bioinsumos e agricultura regenerativa a nova linha do futuro.
Com menções “en passant” como ajuda a pequenos produtores, agricultura ABC, pelo candidato Lula e desmatamento numa discussão de melhores índices pelo candidato Bolsonaro, o macro setor da economia nacional que impacta diretamente 30% do país não mereceu uma visão de planos e metas de crescimento para um próximo governo de 4 anos.
Responsável, prático, radical, liberal, fanático, digital, admirável, cínico ou clínico? Who am I? Quem sou eu? Bolsa de Chicago subiu ontem os preços da soja, do milho, do trigo. Subiu o óleo de cozinha, que vem da canola canadense. Então a cada instante temos turbulências e só temos uma certeza, inclusive sobre o agronegócio, a incerteza.
Tenho um amigo hipnólogo, excelente, o Rafael Baltresca. E sempre que posso e ele também, eu o convido para um encerramento de minhas aulas de marketing em instituições de elevada reputação. Ali eu procuro evidenciar e provar que nossas percepções são traiçoeiras. Que vivemos muito mais decidindo nossas vidas através do que nossos filtros mentais comandam. Podemos acreditar com todas as nossas forças e ótimas intenções estarmos comandando nossos destinos e seguindo a legítima verdade, quando ao contrário entramos num universo paralelo criando falsas realidades. Dessa forma o reino das percepções serve tanto ao bem quanto ao mal.
© 2025 José Luiz Tejon Megido. Todos os direitos reservados. Desenvolvido por RMSite