CABEÇA
DE LÍDER

José Luiz Tejon

Eldorado/Estadão - O que o esgoto de uma cidade de Jundiaí pode fazer pelo agronegócio da região de Jundiaí?

Publicado em 06/02/2023

Divulgação Tera
Tera Ambiental

Entrevistei um especialista, engenheiro agrônomo da Tera Ambiental, o Fernando Carvalho Oliveira, que se dedica ao campo da nutrição vegetal, fertilizantes orgânicos compostos ao longo dos últimos 20 anos.

Visitei a instalação da Tera Ambiental que processa e transforma o lodo do esgoto de Jundiaí em fertilizantes orgânicos através da compostagem. 50% do esgoto vira fertilizantes orgânicos e condicionadores de solo, o resto água, que tratada é reutilizada em áreas urbanas. Uma total economia circular.

Ali ocorre a transformação de uma matéria prima que ninguém quer, o esgoto, numa riqueza nutricional que é oferecida às produtoras e produtores rurais da região, como pude ver no desenvolvimento produtivo e de qualidade da uva da região estimulando uma vitinicultura, vinhos muito bons, num agroturismo.

Rafael Vettori, empreendedor da Tera Ambiental, salientou a geração de riqueza dessa atividade em todo sistema de agronegócio no entorno do antes e do pós-porteira da agropecuária propriamente dita, no comércio, serviços e na indústria.

O fertilizante orgânico, consorciado com o nitrogênio, fósforo e cálcio, o famoso NPK, os macronutrientes da adubação potencializa através dos micronutrientes a saúde da planta, além de diminuição dos custos da adubação, proporcionando melhor produtividade. Portanto não se trata de OU e sim do E entre os “macros e os micros”.

Uma pesquisa da Unesp, Universidade do Estado de São Paulo Ilha Solteira mostrou que a utilização dos fertilizantes organominerais apresentaram um ganho de 10,8% na soja e 6,8% no milho no experimento.

Rentabilidade também surge nesse “casamento” dos macronutrientes com o fertilizante orgânico, por exemplo, diminuindo o desperdício da fixação do fósforo no solo. Portanto, o produtor pode gastar menos com o P do fósforo melhorando a performance da relação custo & benefício. Estudos da Embrapa mostraram redução de até 60% na doença  Mal do Panamá, causada por um fungo chamado fusarium, da banana com fertilizantes orgânicos incorporados.

Mas outro tema que a Carol Ercolin trouxe no Agroconsciente da sexta-feira passada foi sobre: “e a qualidade dos alimentos na nossa saúde humana?”. Então fui verificar se a saúde humana começa mesmo na saúde dos solos e das plantas?

E sim, já se estuda há um bom tempo a “Biofortificação”. Quer dizer, plantas bem alimentadas, bem nutridas geram vantagens na saúde humana. O Dr. agrônomo Fernando Carvalho Oliveira apontou pesquisas e estudos revelando que se suplementarmos a planta com mais zinco, por exemplo, esse elemento atua positivamente contra Alzheimer, depressão, cicatrização, diabetes e outras doenças.

Outro elemento importante na saúde humana, que pode ser ativado desde o solo e as plantas, o selênio. Bom para o cérebro, sistema nervoso, tireóide e outras doenças como artrite, cirrose, câncer. No Brasil há uma iniciativa da Anda, Associação Nacional para Difusão do Adubo chamada de NPV, Nutrientes para a Vida, exatamente com essa proposta. Obviamente sem criar condições de fitotoxicidade nas plantas.

Portanto, pare de falar mal da “química”, pois tudo é química, parodiando Sherlock Holmes eu diria: “elementar meu caro Watson”.

Estes fertilizantes orgânicos não são apenas lodo, muito ao contrário, são o resultado de muita ciência e processos. Desde os micro primários, o lodo, até os microorganismos úteis e ricos na saúde de solos, plantas, animais e humanos, bem como meio ambiente existe muita ciência e conhecimento ao longo de séculos, décadas e anos reunidos agora a serviço do Plano Nacional de Fertilizantes objetivando diminuir a dependência da importação dos macros NPK, com a inclusão das fontes dos esgotos urbanos, do lixo dos aterros sanitários e, sem dúvida, dos biodigestores nos campos que irão transformar dejetos das propriedades rurais em biogás, biofertilizantes, bioeletricidade e biometano.

Há uma grande riqueza onde “sheet sounds (rhyme) like rich”. Economia circular, como o Dr. Fernando Carvalho da Tera Nutrição Vegetal esclareceu: “imagine receber o esgoto de todas as áreas urbanas do Brasil (hoje menos de 5 milhões de hectares) e isso processado indo distribuir riqueza para mais de 80 milhões de hectares onde fazemos agricultura!” E diria, imagine o que o esgoto dos brasileiros pode fazer para todos os brasileiros?

Isto é agroconsciente pessoal. “Sheet” que ninguém quer vira “rich” que todo mundo quer. Fertilizantes orgânicos: sustentabilidade na veia.

José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão.

Também pode interessar

José Luiz Tejon entrevista o ex-ministro da Agricultura, Alysson Paulinelli, candidato ao Prêmio Nobel da Paz
O Renovabio, programa de estímulo aos biocombustíveis brasileiros, considerado o maior projeto de descarbonização através de etanol e biodiesel do mundo, teve segundo Plínio Nastari, Datagro, um dos mais competentes especialistas do setor no país e no mundo; o que ele chamou de “uma ação intempestiva e inapropriada do Ministério de Minas e Energia (MME)”, do ministro Adolfo Sachsida.
Eu estou com Tirso Meirelles, que foi presidente do Sebrae no último mandato e é o vice-presidente em novo mandato e eu quero registrar aqui um trabalho extraordinário no agronegócio que é um trabalho de indicação geográfica, um trabalho que sem isto nós não conseguiríamos dar visibilidade aos pequenos agricultores e aos pequenos agroindustriais e esse trabalho vem crescendo e é de uma importância grande para o país.
Dois grandes líderes, Maurilio Biagi e Roberto Rodrigues, nos inspiram nesta hora. Conversei com Maurílio Biagi Filho, do Grupo Biagi, um líder avançado e moderno do agronegócio consciente, membro do Cosag, para saber o que estava acontecendo na região de Ribeirão Preto semana passada.
© 2025 José Luiz Tejon Megido. Todos os direitos reservados. Desenvolvido por RMSite