Eldorado/Estadão - Pecuária sustentável como a Liga do Araguaia e bem estar animal como na Orvalho das Flores
Publicado em 02/04/2021
Proteína animal continuará crescendo na necessidade da saúde humana, mas de onde vem essa carne, como é criada e qual a filosofia de ESG, environment, social e governance, irá determinar quem vai ao futuro nesse agronegócio ou quem já desapareceu no passado?
Os resultados do projeto Carbono Araguaia comprovam a contribuição da pecuária na redução das emissões de gases efeito estufa (GEE). Esse projeto é uma parceria da Liga do Araguaia com a Dow Brasil. Uma iniciativa pioneira de monitoramento da redução das emissões dos gases efeito estufa na pecuária. Este resultado positivo resulta da adoção e disseminação de práticas de manejo e intensificação sustentável pelos integrantes da Liga do Araguaia.
São 24 fazendas do Mato Grosso, no Vale do Araguaia. Uma área de mais de 79 mil hectares de pastagens. Teve início em 2016. O projeto concluído em março de 2021 revelou o seguinte: 113.928 toneladas de CO2 mitigados na produção. As fazendas obtiveram progresso como 43 mil hectares de pastos recuperados. Aumento do rebanho de 73.137 cabeças no ano base 2016 para 107.048 em 2019/2020. O aproveitamento da área saiu de 0,89 cabeças por hectare para 1,4 cab/ha, crescendo 64%, incluindo redução do ciclo de 28 meses para 22 a 24 meses.
Um acordo de cooperação foi firmado com a Embrapa Gado de Corte de Campo Grande (MS). A busca agora é pela validação de uma certificação nacional de redução de emissões de gases de efeito estufa.
No dia de campo no mês passado, Matias Campodônico, diretor da Dow, Roberto Strumpft, diretor da Pangea Capital, Manuel Macedo, pesquisador da Embrapa e Caio Penido, um dos fundadores da Liga do Araguaia, apresentaram esses resultados.
Orvalho das Flores
Em paralelo à pecuária sustentável e legal, outra arte cada vez mais exigida pelos consumidores internacionais e nacionais é o bem estar animal. Conversei com Carmen Perez, da fazenda Orvalho das Flores, pecuarista moderna que adota os fundamentos integrais do bem estar animal, ao lado do dr. professor Matheus Paranhos da Unesp Jaboticabal.
Carmen me fala que o fundamento número 1 é consciência, educação e constância de tudo o que envolve a propriedade. E alguns pontos são marcantes e tocantes na sua experiência com os animais:
1 - Não marcar o animal a ferro e a fogo.
2 - No nascimento as pesquisas mostram que até 30 dias os bovinos absorvem tudo o que está no seu entorno, portanto, os primeiros contatos irão determinar mais saúde ao longo de toda a sua vida. Por isso massagem nos bezerrinhos fazem parte.
3 - Na desmama dos bezerros, depois de 7 ou 8 meses, manter a vaca e o bezerro em contato visual. Quando a vaca e o bezerro se veem, mesmo desmamados, acalmam e substituem uma “vocalização”, mugir intenso , por uma calma nos seus sentimentos. E tudo isso significa também impactos positivos nas contas da fazenda, na produtividade e no acesso a mercados.
Ou seja, além desses exemplos, sombra, manejo do pasto, da água, os bons tratos, além de uma filosofia de bem estar animal, sem dúvida alguma trazem também bem estar e um sentido melhor de vida para o pecuarista, sua família, os funcionários, a comunidade e não vai ter mais jeito, os mercados consumidores irão exigir tanto a sustentabilidade dos gases de efeito estufa como a certeza do bem estar animal.
Liga do Araguaia e fazenda Orvalho das Flores é gente na frente, do inexorável agroconsciente.
José Luiz Tejon para Eldorado Estadão.