Eldorado/Estadão - Presidenciáveis: o que é agronegócio?
Publicado em 29/08/2022
Divulgação BandNo debate dos presidenciáveis muito se falou da fome, do desemprego e do crescimento do país, e ninguém explicou o papel do agronegócio nisso, nem o mencionou num projeto de governo.
Agronegócio é importante demais para que presidenciáveis não saibam sua correta definição e amplitude estratégica. Tem um impacto direto no Produto Interno Bruto (PIB), na casa de 30%. Porém ao ver e ouvir declarações à respeito do agronegócio dos presidenciáveis fico com a sensação de que, apesar do conceito existir há 70 anos, sua interpretação é parcial, e ainda recheada de angulações ideológicas colocadas a serviço de radicais esquerdistas e direitistas num gigantesco negacionismo da sua legítima raiz.
Gostaria de saber se presidenciáveis poderiam me dar a definição de agronegócio criada pelos professores John Davis e Ray Goldberg na Universidade de Harvard, no início dos anos 50! Poderiam? Não é difícil, basta dar um Google e vão achar.
Ah, mas precisa ver agronegócio tropical, brasileiro, alguns me diriam. Ótimo então. Uma leitura no primeiro livro sobre o tema escrito no Brasil em dezembro de 1990 por Ney Bittencourt de Araújo, Ivan Wedekin, Luiz Antônio Pinazza com a participação especial de Elisio Contini da Embrapa, de Coriolano Xavier e deste comentarista, cujo título já nos ajuda um pouco mais no entendimento dessa questão “Complexo agroindustrial, o agribusiness brasileiro”. Vai ajudar.
Ah, mas não existem traduções então de agribusiness para agronegócio com autoridade legítima e acadêmica? Então vamos consultar os universitários. Sim, também desde o início dos anos 90 na Faculdade de Economia e Administração (FEA-USP), o prof. dr. Décio Zylbersztajn deu início ao PENSA, hoje sob coordenação do prof. dr. Cláudio Pinheiro Machado na FIA, cujo título também nos dá a pista do seu legítimo conceito: Programa de Estudos dos Negócios do Setor Agroindustrial.
Quer dizer, agronegócio na sua raiz é a governança da soma de todos os seus fatores, desde insumos, ciência e tecnologia, cruzando a produção agropecuária propriamente dita, envolvendo a transformação agroindustrial, o comércio e os serviços, numa metodologia de cadeias produtivas, de arranjos produtivos, onde obrigatoriamente todos os elos que os compõem precisam estar coordenados e interrelacionados.
Agronegócio é um sistema que a todos pertence mas não é exclusividade de ninguém, de nenhum elo dessa corrente sobre os demais elos. E como nas correntes, ela costuma partir exatamente quando um dos seus elos está enfraquecido.
Agricultores sem a ciência e tecnologia não irão ao futuro. Agroindústrias, tradings, setor financeiro, supermercados sem os agricultores não terão a segurança e a imagem natural do suplychain, e tudo isso sem consumidores, sem cidadãos com renda para consumir não irão prosperar e crescer no consumo per capita e no combate à fome e à desnutrição.
Estou assistindo polarizações insanas de partes do agronegócio uns contra os outros. Produtores rurais formam com justiça o elo mais frágil, aquele que atua sob riscos, incertezas, fatores incontroláveis de todos os tipos, incluindo clima, taxas cambiais, oferta versus demanda, interferências políticas numa AGRIwar mundial, e precisam ser preservados e promovidos perante toda a sociedade.
Porém, da mesma forma, precisamos de investimentos na ciência, no pesquisador, numa política pública de segurança alimentar do país, nas estruturas logísticas, e na agregação de valor industrial com marcas e marketing onde uma saca de café transformada em cápsula vale 10 vezes mais do que “uma saca de café”, onde podemos ter um café da manhã por R$ 1 na porta do metrô e também uma xícara de café especial por 15 euros num restaurante de Milão.
Presidenciáveis, agronegócio é a atividade que permitirá sucesso nos seus planos de governo objetivando crescimento robusto do PIB brasileiro, é o que vai gerar mais empregos e renda ao longo de todas as suas cadeias do “a” do abacate e da acerola, soja, trigo ao “z” do zebu.
Obrigatoriamente integrando produtores rurais, grandes, médios e pequenos, com cooperativas agroindustriais, cooperativas estas que já significam 54% da produção do país , e os setores industriais, comerciais e de serviços, como num excelente estudo do Cepea da Esalq para a cadeia de flores e plantas ornamentais revelando o elo dos agrosserviços com a representatividade de 46% do total desse setor, com o comércio pós-porteira ficando com 31% e a produção agrícola 23%.
Ou sej , um movimento de mais de R$ 14 bilhões, impossível de ser feito sem a governança de todos os seus elos, do produtor ao vendedor da floricultura, ao paisagista e jardineiro. E vale registrar a Holambra, 4ª maior cooperativa do mundo de flores e plantas ornamentais, é brasileira. Este é apenas um exemplo para inspirar a curiosidade de todos. E além de tudo isso temos hoje a oportunidade com metano zero, biogás, biocombustíveis, carbono negativo e renda extra de toda bioeconomia.
Presidenciáveis, vamos lá, vocês precisam muito mais do agronegócio de raiz, do que este de vocês. Debulhem o assunto e sejam profundos, profícuos e verdadeiros líderes educadores.
José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão.