CABEÇA
DE LÍDER

José Luiz Tejon

Eldorado/Estadão - Previsibilidade imprevisível da guerra na Europa deixa análise nebulosa sobre o agronegócio

Publicado em 22/02/2023

Divulgação Audencia
Alunos do FAM Food & Agribusiness Managmente da Audencia Business School

Estou na França ao lado de alunos internacionais do mestrado da Audencia Business School sobre FAM Food & Agribusiness Management. E iniciamos encontros com lideranças de corporações globais presentes na Europa que apresentam suas visões sobre as previsões para o agronegócio, principalmente sobre tendências de preços das commodities e dos custos de produção.

E a conclusão até agora é de que a previsão é a imprevisibilidade. Ouvimos que há uma guerra que tende a não terminar tão cedo e que tem impactos tanto na oferta de grãos quanto na pressão sobre os custos. Por exemplo, os agricultores ucranianos neste momento estariam praticamente gastando 50% do que recebem pelas commodities com os custos de logística.

As tradings tiveram seus custos da mesma forma elevados, e as operações normais que mantinham tanto na Ucrânia, quanto na Rússia, prejudicadas pela guerra, bombardeios, e também uma quebra dos relacionamentos entre seus escritórios nos dois países.

Por outro lado, reforçando as oportunidades do Brasil hoje num mundo onde insegurança alimentar ao lado do clima é uma palavra fortíssima e de repercussão mundial, ouço dos líderes aqui da Europa que a curto prazo somente dois países no mundo podem responder pelo aumento da produção de grãos, um em trigo é a Rússia, e em todo o resto o Brasil. Havia uma grande expectativa do crescimento da oferta no leste europeu, mas o ambiente incerto da guerra tirou essa expectativa do curto prazo.

Vale também observar algo que temos já colocado aqui no Agroconsciente, a questão da “segurança genética”. Com a guerra Rússia e Ucrânia diversas empresas pararam de atuar nesses países, e isso incluiu organizações de sementes. Os produtores locais precisaram produzir suas próprias sementes em grande parte o que, sem dúvida, provoca diminuição da produtividade e que a médio e longo prazo, se isso persistir, haverá prejuízo pela diminuição da atualização da tecnologia genética e todas as suas consequências no plantio, manejo e resultados na colheita e pós-colheita.

Portanto, aqui da França, Europa, a incerteza sobre o final da guerra Rússia e Ucrânia é quase uma certeza que não acaba tão cedo, e esse cenário deixa também incertas as previsões de preços dos alimentos e seus custos. Mas há uma certeza que ouvimos aqui: “o Brasil é o único lugar do mundo hoje que tem condições e pode produzir mais alimentos em tudo, e a Rússia pode fazer mais trigo”. E vale um registro adicional positivo nisto tudo, o crescimento da solidariedade para enfrentamento do drama humanitário.

Então, se pararmos de brigar entre nós, e organizarmos nossas cadeias produtivas do agronegócio no Brasil, com certeza podemos dobrar de tamanho nos próximos 10 anos. O mundo sabe e espera por isso.

Direto de Nantes, França, au revoir Brasil!

José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão.

 

Também pode interessar

Visitando casas de frutas em Nantes, na França, onde estamos começando o programa internacional de agronegócio com alunos do mundo inteiro, essas casas, e os supermercados, oferecem um grande show de diversidade de origens.
A notícia da hora é a presença do presidente do Brasil na Rússia com o presidente da Rússia cuja proposta é comércio, negócios, correto? Somos fregueses dos russos, em 2021 vendemos apenas US$ 1,7 bilhão, ou seja, a Rússia significou apenas 0,6% das nossas exportações, abaixo obviamente da China com quase US$ 90 bilhões.
Cop-26 em Glasgow já começou e o Brasil tem uma forte representação da sociedade civil organizada. Associações, coalizões, concertação da Amazônia, consórcio de governadores, sociedade civil organizada com diversos atores, profissionais, empresários, cientistas, agricultores, filantrópicas, ongs.
O setor do agronegócio está dividido, polarizado, uma parte com medo apocalíptico do novo governo, outra parte seguindo adiante, enquanto movimentos sociais já buscam protagonismos nas suas teses de olho nas movimentações dos sem terra, por exemplo, associando a palavra agronegócio com exploração ambiental e humana e se esquecendo que qualquer assentamento produtivo precisa da gestão desse conceito agronegócio além da filosofia cooperativista para obter sucesso para muitos e não para alguns.
© 2024 José Luiz Tejon Megido. Todos os direitos reservados. Desenvolvido por RMSite