Eldorado/Estadão - Previsibilidade imprevisível da guerra na Europa deixa análise nebulosa sobre o agronegócio
Publicado em 22/02/2023
Divulgação AudenciaEstou na França ao lado de alunos internacionais do mestrado da Audencia Business School sobre FAM Food & Agribusiness Management. E iniciamos encontros com lideranças de corporações globais presentes na Europa que apresentam suas visões sobre as previsões para o agronegócio, principalmente sobre tendências de preços das commodities e dos custos de produção.
E a conclusão até agora é de que a previsão é a imprevisibilidade. Ouvimos que há uma guerra que tende a não terminar tão cedo e que tem impactos tanto na oferta de grãos quanto na pressão sobre os custos. Por exemplo, os agricultores ucranianos neste momento estariam praticamente gastando 50% do que recebem pelas commodities com os custos de logística.
As tradings tiveram seus custos da mesma forma elevados, e as operações normais que mantinham tanto na Ucrânia, quanto na Rússia, prejudicadas pela guerra, bombardeios, e também uma quebra dos relacionamentos entre seus escritórios nos dois países.
Por outro lado, reforçando as oportunidades do Brasil hoje num mundo onde insegurança alimentar ao lado do clima é uma palavra fortíssima e de repercussão mundial, ouço dos líderes aqui da Europa que a curto prazo somente dois países no mundo podem responder pelo aumento da produção de grãos, um em trigo é a Rússia, e em todo o resto o Brasil. Havia uma grande expectativa do crescimento da oferta no leste europeu, mas o ambiente incerto da guerra tirou essa expectativa do curto prazo.
Vale também observar algo que temos já colocado aqui no Agroconsciente, a questão da “segurança genética”. Com a guerra Rússia e Ucrânia diversas empresas pararam de atuar nesses países, e isso incluiu organizações de sementes. Os produtores locais precisaram produzir suas próprias sementes em grande parte o que, sem dúvida, provoca diminuição da produtividade e que a médio e longo prazo, se isso persistir, haverá prejuízo pela diminuição da atualização da tecnologia genética e todas as suas consequências no plantio, manejo e resultados na colheita e pós-colheita.
Portanto, aqui da França, Europa, a incerteza sobre o final da guerra Rússia e Ucrânia é quase uma certeza que não acaba tão cedo, e esse cenário deixa também incertas as previsões de preços dos alimentos e seus custos. Mas há uma certeza que ouvimos aqui: “o Brasil é o único lugar do mundo hoje que tem condições e pode produzir mais alimentos em tudo, e a Rússia pode fazer mais trigo”. E vale um registro adicional positivo nisto tudo, o crescimento da solidariedade para enfrentamento do drama humanitário.
Então, se pararmos de brigar entre nós, e organizarmos nossas cadeias produtivas do agronegócio no Brasil, com certeza podemos dobrar de tamanho nos próximos 10 anos. O mundo sabe e espera por isso.
Direto de Nantes, França, au revoir Brasil!
José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão.