Eldorado/Estadão - Programa “Coopera Mais Brasil” será fundamental para um legítimo Agroconsciente. Porém, na distribuição dos insumos, isonomia com as revendas é justo.
Publicado em 08/07/2024
DivulgaçãoO decreto 12.088, de 3 de julho de 2024, instituiu o Programa Nacional de Fortalecimento do Cooperativismo, do Associativismo e dos Empreendimentos Solidários da Agricultura Familiar. Esse programa, informa a Organização das Cooperativas do Brasil (OCB) “consiste na construção e articulação de várias ações integradas para o fomento, formação e capacitação de agricultores familiares e cooperativas”.
Dentre diversos objetivos envolvendo os aspectos agroambientais, sociais, de inclusão das iniciativas, o decreto foca em alvos de agregação de valor reunindo a agricultura familiar e as cooperativas com a agroindustrialização. E salienta um ponto muito significativo para uma visão moderna do sistema do agronegócio, escreve o decreto no artigo 6º, Item IV: “apoiar as cooperativas e associações de agricultura familiar no acesso a programas de compras públicas e a mercados privados e internacionais.
Saliento de forma entusiástica esta particularidade do decreto, incluindo a busca por negócios junto aos mercados privados e internacionais, pois será somente através do cooperativismo que dar-se-á legitimamente a emancipação de cerca de 4 milhões de pequenos produtores brasileiros, com terra, mas fora da tecnologia, e principalmente, fora dos mercados. Repito aqui uma frase de Alysson Paolinelli (in memorian): “temos no Brasil mais de 4 milhões de pequenos produtores com terra, mas famintos”.
A OCB tem acompanhado esta excelente ação, num Plano Safra que privilegiou a agricultura familiar, cujo sucesso, na minha opinião, só ocorre quando o modelo cooperativista é adotado. E os exemplos positivos são notórios, pois as cooperativas brasileiras representam cerca de 55% de toda produção agro brasileira, mais de 1 milhão de produtores cooperados e temos exemplos de pequenas cooperativas que já fazem do cooperativismo casos de sucesso, em ambientes até então rústicos, como na caatinga, na Bahia, a Coopercuc, em Canudos, reunindo sertanejos e agroindustrializando doces com frutos do sertão, exportando para diversos mercados.
Além, no outro lado, de exemplos gigantescos que começaram pequenas, como a LarCoop em Medianeira, no Paraná, com uma meta neste ano de superar R$ 22 bilhões em vendas, incluindo produtos processados para as gôndolas de supermercados internacionais.
Por outro lado, conversando com Paulo Tiburcio, presidente da Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários (Andav), nesta noite de domingo, ele me comunicava que no texto da reforma tributária as revendas de insumos, cerca de 7.800 pontos de venda com 70% de pequenas e médias teriam incidência de alíquota cheia. E as cooperativas isenção. Está errado, as cooperativas não precisam disso para o exercício da sua missão. Cooperativas e revendas não são antagonistas, pelo contrário, se complementam.
O decreto que cria o programa “Coopera Mais Brasil” ainda não tem seus recursos estabelecidos mas, com certeza, treinamento, gestão, liderança e assistência técnica serão fundamentais.
Seria muito oportuno que a experiência consolidada nas boas cooperativas brasileiras possa ser compartilhada com todas as iniciativas que deverão advir desse decreto lei, inclusive no campo da distribuição de tecnologias ao lado das redes de distribuição independentes com ótimo histórico de décadas no país.
Registro aqui que foi por meio do cooperativismo que a China, a partir de 1978, teve significativo progresso rural, onde hoje somam 32 milhões de agricultores reunidos em 25 mil cooperativas rurais com quase 5 mil cooperativas de crédito. A China é a maior agricultura do mundo.
O Brasil virá a ser a maior agricultura do mundo inexoravelmente, e com milhões de pequenos produtores atuando em nichos e segmentos, numa forte diversificação, com ciência, cooperativismo e numa formulação agroconsciente. Coopera Mais Brasil, que essa ótima intenção seja otimamente bem administrada e liderada. Mas repito, o bom cooperativismo gera mercados e cria riquezas para todos. Compreendo e apoio o justo receio do setor de distribuição da Andav pela isonomia no comércio dos insumos.
Cooperativas e distribuidores são complementares. O país precisa de ambos.
José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão.