CABEÇA
DE LÍDER

José Luiz Tejon

Eldorado/Estadão - Novo calendário do plantio de soja é um convite para a doença da ferrugem asiática

Publicado em 24/09/2021

Divulgação
soja

Conversando com especialistas, doutores, ógãos científicos como Fundação MT, CCAS - Conselho Científico do Agro Sustentável, entre outros, ouvi deles que a ampliação da janela de plantio da soja que ia até 31 de dezembro, expandida até meados de fevereiro, coloca em risco um fundamento sagrado da agronomia. É um crime agronômico plantar a mesma cultura no mesmo local em sequência.

Rotação de cultura é fundamental para diminuir prejuízos por pragas e doenças. Permitir plantar soja na sequência pela ampliação do calendário, duas vezes no mesmo lugar, sem um intervalo de tempo, é preparar um banquete para o fungo da ferrugem asiática.

Uma doença perigosa que surgiu na soja brasileira há 20 anos. Um fungo que traz prejuízos de até 20 sacas por hectare. Quando surgiu no início deste século trouxe graves prejuízos não apenas na agricultura mas no comércio, indústria e serviços.

Para enfrentar essa doença, cujo fungo sobrevive em plantas vivas de soja de uma safra para outra, foi estabelecida uma lei, chamada de vazio sanitário e calendário de semeadura, que ia até 31 de dezembro.

Então durante certo período de tempo do ano é proibido semear soja, para não oferecer a comida que o fungo deseja, dessa forma ele não prolifera.

Agora uma nova legislação foi aprovada, com um novo calendário mudando o anterior, ou seja, permitindo o que era de setembro a dezembro, ir até meados de fevereiro. Isto possibilita ter um segundo plantio da soja após a colheita da primeira safra. Assim ao invés de safrinha de milho, vira safrinha de soja, por exemplo.

Entidades como a Fundação MT, representando ciência e pesquisa, ao lado de outras assinaram uma carta enviada ao Ministério da Agricultura, inclusive o próprio ex-ministro Roberto Rodrigues, o CCAS, Crop Life, Abag, solicitando a revogação da portaria que instituiu o novo calendário.

A soja é a locomotiva do agro. Representa R$ 346 bilhões, 33% do Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBPA) do país. Impacta diretamente outros 18% do VBPA, nas carnes, frango, suínos, leite e ovos, gerando mais US$ 10 bilhões de exportações.

Então soja significa impactos de 51% no Valor Bruto da Produção Agropecuária brasileira, e cerca de 50% das exportações, e ainda significa podermos competir no milho e algodão diluindo custos fixos, transporte, armazenagem etc.

Os cientistas dizem que essa ampliação do calendário de plantio irá oferecer condições ambientais para essa doença, guardadas as proporções estaria para o mundo vegetal como Covid-19 para o humano. E também irá acarretar elevação de custos com fungicidas, porém com isso iremos enfrentar barreiras sanitárias dos mercados clientes.

Bahia e Mato Grosso do Sul revogaram essa medida e continuarão como era antes. Numa era onde agronegócio é sinônimo de saúde, os riscos do principal item da agropecuária do Brasil ser alvo dos fungos da ferrugem asiática não será nada bom para os produtores, para os brasileiros e para o comércio do país.

Se o negacionismo científico virar moda também no agro, em dois anos pagaremos um preço terrível e indesejável para todo país, inclusive agricultores. Um Comitê Nacional de Fitossanidade, consultivo, está sendo sugerido.

Agroconsciente é jamais tirar do futuro para lucrar no presente. Que a paz esteja com todos.

José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão.

Também pode interessar

Aí vai a “pergunta que não quer calar”, expressão famosa de Artur Xexéo, brilhante jornalista: se o agronegócio é contra o desmatamento ilegal, por que o desmatamento ilegal faz de tudo para se esconder sob o agronegócio?
Eu quero ouvir “Bom dia minha terra”, música linda da Roberta Miranda, que passa a ser o nosso hino agroconsciente. Zé Nêumanne, brilhante jornalista do Estadão, e sempre admirado por Ney Bittencourt de Araújo, criador do agronegócio no Brasil (in memorian), me disse: “essa música é linda, “Bom dia minha terra”, composição da paraibana Roberta Miranda.
O Rio Grande do Sul significa cerca de 70% da produção de arroz no Brasil. A Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz) conversou conosco através da sua diretora executiva Andressa Silva. Há uma perspectiva de não haver desabastecimento, porém aspectos da logística e mesmo melhores dados sobre o arroz já colhido em silos que podem estar sob inundações são necessários para uma maior certeza da situação. O preço da saca de 60 kg no campo ontem estava a R$ 107,00. Os próximos dias irão evidenciar como ficarão os preços no mercado interno.
Estive em São Gonçalo do Sapucaí, Minas Gerais, num encontro da cooperativa de crédito Sicoob Credivass, conversando com seu presidente, Roberto Machado, o Beto, e ele me disse: “aqui todos são líderes”. Com isso estabelecia um compromisso maior de sentido de vida para todos os membros colaboradores dessa cooperativa que cresce a números extraordinários de 2 dígitos.
© 2025 José Luiz Tejon Megido. Todos os direitos reservados. Desenvolvido por RMSite