Eldorado/Estadão - Propostas para um Brasil mais cooperativo
Publicado em 19/09/2022
Três milhões de cooperativas no mundo, mais de 1 bilhão de cooperados, 280 milhões de empregos gerados. No Brasil são 4,8 mil cooperativas realizando mais de R$ 650 bilhões de ativos totais envolvendo 17,1 milhões de cooperados no país, com 455 mil empregos, obtendo R$ 415 bilhões de ingressos com uma meta de atingir R$ 1 trilhão de movimento econômico e 30 milhões de cooperados até o final desta década.
E ainda constatando que onde existem cooperativas corretamente lideradas o IDH, índice de desenvolvimento humano é superior, a distribuição da renda maior e melhor e, na soma das 300 maiores cooperativas do mundo, alcançam um faturamento combinado de US$ 2 trilhões, maior do que o PIB brasileiro, e no Brasil reunidas as cooperativas formam a maior empresa nacional acima das outras três, Petrobras, JBS e Vale.
Portanto o que o maior modelo de negócios do planeta e do Brasil pode dizer para a sociedade brasileira e o novo governo de 2023 a 2026, seja ele quem e qual for?
A OCB – Organização das Cooperativas do Brasil fez um documento chamado: “Propostas para um Brasil mais cooperativo – Contribuições do cooperativismo para o próximo governo”, à disposição no site www.somoscooperativismo.coop.br.
E nele seu presidente Marcio Lopes diz: “a hora e a vez do cooperativismo, há uma mudança no pensamento das pessoas. A busca por uma economia compartilhada, de negócios que prezam por sustentabilidade, transparência, inovação e integridade, e o cooperativismo faz parte deste processo”.
O cooperativismo inclui as pessoas no centro da tomada de decisões e significa uma competência de liderança para que a imensa maioria prospere, não apenas 11% ou 20% como nas clássicas constatações de Goleman e Pareto. Cooperativismo significa uma casa educadora com a missão de não deixar gente para trás.
Mas existe um item sagrado neste documento da OCB com o título: “Espaços de representatividade e de participação”. Ali o cooperativismo precisa atuar ampliando canais de comunicação com o poder público em todos os fóruns, perseguindo políticas públicas que reflitam anseios e a realidade do movimento cooperativista. Porém eu acrescentaria como condição “sine qua non” aumentar consideravelmente a comunicação com toda sociedade brasileira em todos os níveis, classes e comunidades do país.
Nos espaços de representatividade o documento acrescenta: “representação sindical com a participação da CNCoop em temas trabalhistas e sindicais. Criar equipes de governo especializadas em cooperativismo e a representação do cooperativismo em juntas comerciais.
Mas fundamentalmente que as representações cooperativistas formem ao lado das demais confederações, federações e associações locais empresariais do país. Núcleos de programas onde a sociedade civil organizada seja legítima protagonista do planejamento estratégico de cada região, estado e da federação. Afinal, na minha opinião, governos para terem êxito precisam das cooperativas muito mais do que estas dos governos.
Uma boa reunião entre ambos será o ideal para a prosperidade nacional e a supremacia do estado. As cooperativas no setor agropecuário somam 1.173 com mais de 1 milhão de cooperados e 223.477 empregados. Representam 53% da produção de grãos do Brasil e 71,2% são produtores da agricultura familiar.
Os outros segmentos cooperativistas são consumo, crédito, infraestrutura, saúde, trabalho produção de bens e serviços, e transporte. As cooperativas de crédito têm a maior rede de atendimento no país com 7,6 mil pontos. Crescem na oferta de crédito para pequenos negócios, 19% dos contratos, e 18,7% do volume de financiamento do crédito rural. E contam com quase 12 milhões de cooperados e mais de 79 mil empregos.
O cooperativismo está escrito na constituição brasileira como no parágrafo 2 do artigo 174 destacando o apoio e estímulo ao cooperativismo pelo poder público. A crise com Covid, guerra na Europa aponta para o drama da insegurança alimentar, fome e necessidade de agregação de valor a produção agropecuária. Temos no país ainda cerca de 4 milhões de pequenos produtores rurais desassistidos e fora dos mercados. Somente via cooperativas iremos integrá-los na ciência, no mercado e na agregação de valor agroindustrial e na riqueza de seus “terroir”.
O documento da OCB posiciona serem as cooperativas com seu papel de inclusão social, econômico e cultural o “modelo de negócio mais viável para o desenvolvimento sustentável. Baseado na união de pessoas com participação democrática, independência e autonomia”.
Como afirma Roberto Rodrigues embaixador do cooperativismo na FAO. “Onde tem pobreza não tem cooperativa onde tem cooperativa não tem pobreza”. E Marcio Lopes presidente da OCB e membro do Conselho da Aliança Cooperativista Internacional: “cooperativa é prosperidade, pessoas e confiança”. E prosperidade como obtemos? É a governança da esperança.
O cooperativismo será do tamanho do Brasil e o Brasil será do tamanho econômico e social do seu cooperativismo.
José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão.