CABEÇA
DE LÍDER

José Luiz Tejon

Eldorado/Estadão - “Sem equilíbrio as cadeias produtivas sofrem”, Allysson Paolinelli. A suinocultura está frente a sua maior crise”, Marcelo Lopes , presidente da ABCS.

Publicado em 28/01/2022

Divulgação
Suíno/ABCS

Compreender a visão sistêmica do agronegócio é sagrado e cada vez mais fundamental. Marcelo Lopes, presidente da Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS), em uma entrevista que me concedeu especial para o Agroconsciente da Rádio Eldorado/Estadão, me disse que esse setor está agora frente a uma de suas maiores crises.

Para deixar claro a dimensão da crise, revela que o custo de produção do quilo de um suíno terminado está na faixa de R$ 7,50 por quilo. Porém o preço de venda por parte do suinocultor está variando de região para região de apenas R$ 3,00/kg até R$ 4,50/kg máximo. Ou seja, em cada quilo vendido o suinocultor hoje está tendo prejuízo de R$ 3,00/kg, isto se obtiver o preço melhor R$ 4,50/kg.

Esse resultado é devido ao que Alysson Paolinelli, ex-ministro de grande sabedoria e hoje presidente do conselho da Abramilho, sempre tem pautado sua visão: “sem equilíbrio dentro das cadeias produtivas elas sofrem”. 

Os motivos levantados pelo presidente da ABCS, Marcelo Lopes, para o que os suinocultores estão considerando vir a ser a pior crise da história suína, devem-se a:

1 - Alto preço dos grãos, soja e milho, valor das commodities e dólar na casa de R$ 5,50.

2 - Problemas climáticos destruindo as lavouras do Sul e parte do Sudeste, ampliando ainda mais o drama da falta de grãos, além dos elevados custos.

3 - Recuperação muito mais veloz da suinocultura da China, que foi dizimada em 40% pela peste suína africana, dois anos atrás, para a qual se esperava que fosse levar de 5 a 6 anos sua recomposição, os chineses a realizaram em apenas 2 anos. Criaram uma nova suinocultura, diferente da anterior de muita subsistência, e agora uma suinocultura industrial. Que ao mesmo tempo exige mais e melhor ração, por isso muita importação de soja. Inclusive o Ministério da Agricultura chinesa definiu plantar 1 milhão de hectares num consórcio de soja e milho ao mesmo tempo para diminuir a dependência externa dos grãos.

Essa recomposição da suinocultura chinesa fez com que tivéssemos agora uma retração nas exportações brasileiras de suínos. A atividade nos últimos 2 anos havia crescido 16%. Consequência da história. Mercado interno, dificuldades de renda da população. Demanda chinesa caiu. Custo de produção insuportável para a atividade, com soja e milho agravados pelos efeitos climáticos do final do ano passado e início deste ano.

O setor veio de um ano positivo em 2021. E vale um destaque especial para as ações da carne suína nas redes de supermercados, o que elevou nos últimos 4 anos o consumo percapita de cerca de 14 kg, para 18 kg/habitante/ano. O setor suinícola tem imensa importância no agronegócio brasileiro, fechando 2021 com R$ 87,6 bilhões o seu PIB . Somos simplesmente o 4º maior produtor do mundo e o 4º maior exportador.

ABCS estava em reunião nesta semana com a ministra Tereza Cristina para avaliar o drama e ver que medidas precisam ser tomadas para não levar a falência milhares de pequenos e médios suinocultores independentes.

1 - Prorrogar a isenção de PIS Cofins da importação de milho até março. Não encarecer ainda mais o grão.

2 - Reativação do pagamento para retenção de matrizes.

3 - Prorrogação dos prazos dos custeios pecuários, considerado vital, e neste item resta a grande dúvida: quem irá pagar por isso?

Marcelo Lopes ainda adiciona que os custos para os agricultores da mesma forma subiram muito nos insumos o que agrega riscos adicionais nas plantações de soja e milho para este ano.

Ou seja, como bem Allysson Paolinelli, um sábio registra, precisamos de equilíbrio ao longo das cadeias produtivas. Sem dúvida, sem esse planejamento estratégico, um dia sofre o produtor, outro dia sofre o processador, no outro dia sofre o consumidor.

Agronegócio, muito mais do que separar agro de negócio, exige lideranças para transformar a “utopia” da coordenação das cadeias em uma função da administração a favor dos fatores controláveis versus os riscos gigantescos dos fatores incontroláveis. Um setor pujante do país, a suinocultura pede socorro. E se afeta suínos, sem dúvida afetará o frango, os ovos e o leite.

Cuidado Brasil. Urgente planejamento estratégico das cadeias produtivas. Alimento é riqueza e dignidade de vida, não pode ser deixado ao sabor das leis das incertezas.

José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão.

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