Eldorado/Estadão - “Sobre calendário da soja e ferrugem asiática está na hora de temperança, liderança e governança entre sementeiros e agricultores“.
Publicado em 29/09/2021
Concordo totalmente com o que ouvi de Carlos Goulart - Diretor do Departamento de Sanidade Vegetal e Insumos Agrícolas do MAPA, sobre a polêmica, a polarização que passamos a ter colocando de um lado parte dos produtores rurais e do outro a indústria da genética e defensivos. “O que imaginamos seria cada vez um calendário mais preciso e menor, porém cabe a cada região do país ao lado da Embrapa, definir e determinar o que está certo para o bem da cultura, e avaliar os impactos da soja sobre outras cadeias produtivas, uma guerra entre semente, químicos e produtores precisa ser resolvida dentro do setor, essa é a nossa posição“. Assim se posiciona O diretor da Defesa Vegetal do MAPA.
Com o meu dever jornalístico também ouvi professores doutores que atuam a convite da Aprosoja realizando pesquisas sobre o alongamento do calendário de plantio da soja, que era de setembro a 31 de dezembro e foi alongado para meados de fevereiro. O Prof. Dr. Laercio Zambolin - Fitopatologista da Universidade Federal de Viçosa em Minas Gerais, Prof. Dr. Erlei Melo Reis - Fitopatologista da Universidade Federal de Passo Fundo no Rio Grande do Sul, Prof. Dr. Fernando Juliatti - Fitopatologista da Universidade Federal de Uberlândia em Minas Gerais e o Prof. Dr. José Otávio Menten - Fitopatologista da Escola Superior Luiz de Queirós - ESALQ USP de Piracicaba em São Paulo. 4 Doutores Fitopatologistas de elevada reputação.
Esses 4 pesquisadores assinam e apoiam a Aprosoja - Associação dos Produtores de Soja do Brasil, que os plantios podem ir até meados de fevereiro e que isso não acarreta expansão, ou aumento da perigosa doença da ferrugem asiática. Alguns ajustes na portaria do MAPA, como o Prof. Juliatti da Universidade Federal de Uberlândia sugere incluir “não plantar em dezembro e janeiro e sim em fevereiro“, mas afirma “impedir não está certo“.
Professor Zambolin da Universidade Federal de Viçosa salienta que plantar soja sobre soja jamais, e acrescenta ser “justo que os produtores produzam suas próprias sementes no melhor mes, fevereiro”. O Professor Erlei Melo Reis da Universidade Federal de Passo Fundo enfatiza que “o uso de fungicidas multissítio com sítio específico controlam perfeitamente a doença e no mês de janeiro e fevereiro, o calor cria um ambiente desfavorável para a infestação da doença da ferrugem”. E o Prof. Dr. Menten afirma: “fevereiro tem menos ferrugem“. Estes doutores afirmam estarem baseados em pesquisas e artigos científicos sérios.
E temos as vozes contrárias, agrônomos executivos das companhias químicas asseguram que os fungicidas não darão conta do problema e as moléculas serão “derrubadas“ pela resistência do fungo. Quer dizer não funcionarão e avisam que não existem fungicidas novos pelo menos para os próximos 10 anos.
Também ouvi de responsáveis por órgãos de pesquisa expressões como “esse novo calendário é um absurdo“, e expressões assim: “se isso acontecer sem duvida vamos ter uma Covid 19, na forma de ferrugem asiática, na soja, o principal produto da economia do país hoje”. E no site da Embrapa consta: “o período ideal para plantar soja é outubro e novembro. Sabe-se que a semeadura em fevereiro apresenta menor severidade, porém menor severidade não significa ausência“.
Nossa colega da Agência Estado, Clarice Couto, numa excelente cobertura do tema ontem também entrevistou o Presidente da Croplife - Christian Lohbauer, a Associação das Companhias de Biotecnologia, Defensivos e Biológicos do país, que declarou: “faremos de tudo para não levar o assunto para a justiça, para termos uma nova portaria restituindo o calendário anterior e o vazio sanitário; mas se não tiver jeito iremos contestar com uma ação na justiça“.
Então, Croplife a área da ciência empresarial, indústria da semente, defensivos e biológicos está de um lado, e a Aprosoja Brasil do outro. Uma “pororoca“. Agronegocio é uma gestão que exige negociações e acordos comuns dos seus elos, do antes, dentro e pós porteira das fazendas. E a história revela: quando as partes do agronegócio não conseguem reunir as suas partes, cedo ou tarde o sistema todo se parte.
Recomendo insistentemente por uma mediação dos cientistas com cientistas, e de líderes com líderes. Aprosoja + Croplife + Embrapa + MAPA, e todas as partes envolvidas que tenham contribuições a dar. Um comitê consultivo. E que a cadeia produtiva da soja fale mais alto do que uma briga entre seus elos essenciais como produtores rurais versus detentores da genética, sementes e química. Como exemplo, a recém decisão da cadeia do trigo como um todo rejeitando semente geneticamente modificada nessa lavoura recém plantada na Argentina. A Abitrigo, que representa a indústria participou dessa decisão conjunta também.
Agronegocio é sinônimo de saúde doravante, cuidado para não levarmos para os consumidores e clientes mundiais, aspectos duvidosos sobre a saúde da nossa soja. MEDIAÇÃO E CONCILIAÇÃO. Vamos surfar essa pororoca e resolver como damas e cavalheiros de alto nível. Nossos pesquisadores são os melhores do mundo na agricultura tropical. Sabemos sim o que pode ser feito. Hora de combinar “o que deve ser feito e como deve ser feito agora com regulações regionais“.
Casa onde todo mundo tem a sua razão, todo mundo briga e apanhamos todos no calor da emoção. Nesse assunto eu fico com a convocação de Carlos Goulart: temperança, liderança e governança do setor resolvendo suas questões com diálogo e ciência, região a região onde a Embrapa tem fundamental contribuição. Polarização e politização não servem nem ao agro e muito menos ao negócio.
José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão.