Eldorado/Estadão - Ao agronegócio o que é do agronegócio
Publicado em 12/09/2022
TCANo Estadão de domingo (11), seu editorial traz uma excelente visão com o título: “A César o que é de César”, onde separa questões relativas a Deus, daquelas pertinentes aos seres humanos terrenos, agora totalmente misturados nas campanhas políticas.
Também na mesma edição, o ex-ministro Roberto Rodrigues no Caderno de Economia, página B5, aborda positivamente a modernização das estatísticas do agro, integrando os esforços da Conab com IBGE, onde as previsões nos apontam poder superar 300 milhões de toneladas de grãos na safra 2022/23. Porém, Roberto Rodrigues finaliza seu texto não se esquecendo da necessidade que temos no país de incluir “mais de 4 milhões de pequenos produtores que não estão no mercado”.
Ao agronegócio então o que é do agronegócio. Se trata simplesmente de uma visão de gestão de um sistema econômico sob uma dimensão de cadeias produtivas, sejam elas quais forem, do “a” do abacate ao “z” do zinco da carne; e de grandes, médios, pequenos e micros produtores. Quando essas cadeias produtivas não estão conectadas assistimos à constatação de termos no Brasil mais de 4 milhões de pequenos produtores fora dos mercados, da tecnologia e como também declarou o ex-ministro Alysson Paolinelli, produtores “famintos”.
Agronegócio então não se presta a ideologias, a ser utilizado como manipulação de massa na luta do “bem contra o mal”. Também não serve para ser associado exclusivamente a grandes produtores versus os pequenos, e muito menos a uma divisão de que agricultura familiar não é agronegócio, ou de que o legítimo interesse dos “verdadeiros” agricultores é só “agro” sem negócio.
Como se fosse possível qualquer produtor rural sobreviver sem adquirir tecnologias, como semente, fertilizantes, máquinas mesmo pequenas as manuais, ou existir sem vender o que produz para clientes, sejam grandes tradings, ou agroindústrias, supermercados, e mesmo para pequenas agroindústrias locais, como o delicioso suco de jabuticaba feito em Sinop no Mato Grosso que você encontra num particular restaurante da Donana.
Dessa forma, onde não encontramos as cadeias produtivas funcionando temos desarranjos, bastante expressivos por exemplo nos embates das cadeias vegetais dos grãos versus a das proteínas animais e do próprio biodiesel. Uma dependente da outra. Onde essas cadeias se orquestram, dialogam, buscam acordos, trocam informações de oferta versus demanda, vemos ali progresso como nos últimos 20 anos do algodão. E sobre os mais de 4 milhões de pequenos produtores com terra, mas fora do mercado, vivendo com baixíssima renda, somente através do cooperativismo conseguiremos construir uma cadeia produtiva com tecnologia, educação e venda da sua produção com valor agregado.
Cooperativas no Brasil já são exemplo disso, representando 54% da produção brasileira com 1 milhão de agricultores cooperados. Agronegócio não se presta a ideologia, é simplesmente bom senso e administração. Pois tudo o que se produz precisa ser vendido. Se não vende não produz e na indignidade permanece.
Aproveito para parabenizar o sistema de cooperativas com a marca Aurora, reúnem mais de 72 mil famílias cooperadas e mais de 27 mil funcionários. E quando reunidos os resultados dessas 11 cooperativas numa intercooperação, formam um faturamento de mais de R$ 50 bilhões anuais, o que os coloca na lista das maiores 20 empresas do país.
Agronegócio não é ideologia, muito menos egonomia, é inteligência de gestão científica econômica e sociológica, seja qual for o regime ou governo, incluindo segurança alimentar da nação.
José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão.