Eldorado/Estadão - Tirso Meirelles, presidente da FAESP, fala do CAR, incêndios criminosos, prejuizos, e planos de recuperação.
Publicado em 27/09/2024
DivulgaçãoEstou hoje com o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (FAESP), Tirso de Salles Meirelles, e ele nos diz: “é uma grande alegria dizer bom dia a você, Tejon, e a seus ouvintes que são pessoas que têm uma oportunidade grande de ter as informações transparentes, objetivas para a nossa sociedade urbana e rural”.
Tirso, vivemos um momento importante e estratégico no mundo, inclusive as discussões agora em andamento na Europa, sobre lei de desmatamento. Eu sei que a Faesp tem um engajamento muito grande com relação ao CAR, me explica um pouco para os nossos ouvintes a ação que você entende ser importante da Faesp sobre esse Cadastro Ambiental Rural, o CAR.
“Muito bem, Tejon, sem dúvida nenhuma para que o nosso ouvinte possa entender melhor o Cadastro Ambiental Rural demostra uma integração entre a cidade e o campo e o campo e a cidade. Sem dúvida nenhuma que o campo preserva a sustentabilidade das pessoas que moram na cidade com as suas florestas, com a sua fauna, com os olhos de água que nós chamamos minas de água, que cria todos esses nossos rios e lagos. Então CAR nada mais é do que uma fotografia da propriedade rural da pessoa ou uma fotografia, por exemplo, de uma pessoa que mora em um apartamento de uma cidade e você faz toda a divisão produtiva dentro da propriedade rural como se vocês fizessem em sua casa. A partir dali você tem uma obrigatoriedade no Código Florestal de deixar 20% de reserva legal e ATT. Reserva legal seria a reserva de floresta e a APP a reserva de água para que você possa utilizar tanto para a cidade quanto para o campo preservando a sustentabilidade do ser humano. Então nós temos feito um trabalho muito grande nesse sentido e hoje o nosso Código Florestal, para você ter uma ideia, é o mais seguro do mundo. Mas só para os nossos ouvintes entenderem um exemplo típico: na década de 70 nós tínhamos 15% das florestas mantidas no Estado de São Paulo, hoje com o Código Florestal nós somos obrigados a deixar 20%, e nós já estamos com 25%. Então não é verdade que na década de 70 até agora existe desmatamento no Estado de São Paulo, pelo contrário, nós saímos de 15% de florestas sustentáveis no Estado de São Paulo e passamos para 25%”.
Muito bom Tirso, significam números concretos que falam mais alto. Agora, infelizmente, aproveitando esse modelo do estresse hídrico e do problema da mudança climática, que ações preventivas a FAESP está realizando para o futuro sobre esse drama que estamos vivendo?
“Sem dúvida, nós já tomamos uma atitude há um tempo, mais ou menos há cinco anos, onde nós fizemos cartilhas preventivas orientando o produtor rural e seu trabalhador como pode evitar qualquer tipo de incêndio. Isso é um ponto importante porque você faz o aceiro, que é uma divisão entre você deixar uma terra limpa entre sua floresta, sua pastagem, sua plantação para que não passe o fogo de um lado para o outro. Então nós temos orientado todo esse processo, temos um departamento de sustentabilidade dentro da federação para que possa orientar todo o procedimento, orientamos com propaganda para que as pessoas que passam nas estradas nossas não traga nenhum tipo de bituca nas estradas, para que possa ter as condições de segurança nas estradas, inclusive nas rodovias que são terceirizadas elas fazem uma limpeza muito grande para que isso não ocorra. Então o que aconteceu? Esse ano, muito cedo, nós tivemos uma geada e infelizmente tivemos aí grandes incêndios que não foram incêndios normais, foram incêndios criminosos mesmo. Aonde que você pega um raio de 400 quilômetros e você vê nessa extensão fogo de todos os lados? Isso não existe, isso foi colocado pelo homem, isso é muito triste. Foram presas 22 pessoas nesse sentido, estão tendo os inquéritos pela polícia militar e civil para que a gente possa tentar diagnosticar o porquê essas pessoas terem feito isso. Inclusive tivemos uma reunião em Sertãozinho junto com as usinas, junto com o exército, junto com a polícia militar, o corpo de bombeiro, a Única, que é união das usinas, como também a Orplana, Organização dos Plantadores de Cana, onde nós já estamos fazendo um trabalho nesse sentido de unificação para que nós possamos prevenir para o ano que vem. Já nos unimos com o comandante do corpo de bombeiros aqui no Estado de São Paulo para que nós pudéssemos fazer essas ações preventivas cada vez mais para proteger o meio ambiente, a nossa fauna e a nossa sociedade”.
Sem dúvida alguma que a ação preventiva será vital daqui para a frente no país inteiro. Então, presidente, nós temos esse drama climático e a pergunta que faço é a visão da FAESP, que tem todas as propriedades consigo, vamos ter diminuição de produção? São Paulo é o estado com a maior diversidade do Brasil, do a do abacate, do amendoim, até o z do zebu temos de tudo. Visão da produção, presidente, como fica?
“Olha, Tejon, é verdade. Só para o ouvinte entender, na década de 70 que faz pouco tempo atrás, 1970 nós só exportávamos açúcar e café e a partir daí, com a inteligência, com a pesquisa, com a evolução tecnológica, nós somos hoje o maior exportador de agro no mundo, e conseguimos derrubar 47% da cesta básica. Isso mostrou a eficiência, e eficácia de todo o processo. Nós aumentamos aí, praticamente, 150% da nossa área em produção, mas aumentamos quase 500% de produtividade. Fantástico. Nesse caso do clima, que está ocorrendo essas mudanças todas, você observa que vamos ter problemas, sim com o café que pegou fogo no café, a seca foi muito pesada para o café, as plantas, em si, perderam a noção de dia e noite pelo fato dessas mudanças tão radicais no inverno ser um calor tão grande dessa forma, um processo muito complexo nessas mudanças que nós tivemos de estações. E aí você tem também a laranja, o caso do greening, e também da seca, nós vamos aproveitar praticamente em torno de 70% da cana que estava em pé e pegou fogo, nós temos um prazo de 10 dias para tirar senão ela não serve mais e nós vamos perder 30% do que estava faltando a ser utilizada. Agora os brotos que realmente pegaram fogo nós temos de esperar a segunda chuva para verificar se eles vão brotar para nós vermos a perda. Mas nesse total, aí Tejon, nós perdemos aí em torno de quase 2 bilhões de reais somando a nível de produtividade, somando equipamentos, tratores e semoventes que seriam os animais nosso, cerca todo o processo de replantio da pecuária leiteira, que seriam os pastos, a diminuição da pecuária de leite também pela seca e pela perda da pastagem, mas isso tudo o governo do Tarcísio de Freitas tem ajudado muito na composição dos juros e também do seguro para que nós possamos compor as nossas dívidas para que possamos ter condições de fazer o plantio depois que ocorrer as primeiras chuvas para que possamos plantar e vamos voltar realmente a ter uma produtividade boa. Sem dúvida nenhuma afeta muito, deve afetar um pouco os valores, mas acredito que em um tempo curto”.
Sem dúvida, presidente Tirso, eu acho que o Brasil é cheio de resiliência!
“É verdade”.
Presidente Tirso de Salles Meirelles, muito obrigado por estar conosco e a sua última mensagem para todos os nossos ouvintes, por favor!
“O agro é o amigo da cidade, inclusive nós estamos aqui desenvolvendo a agricultura urbana, também para que nós possamos ajudar as pessoas que moram aqui nessa grande Metrópole São Paulo, que possa plantar sua verdura, sua fruta. Então nós estamos fazendo um trabalho muito bacana nesse sentido para que possamos diminuir a insegurança alimentar no nosso estado e no nosso país. Então o agricultor é um amigo da cidade, o agricultor é um grande ecologista que mantém a sua atividade para produzir e para trazer o alimento com qualidade e com preços bons para a sociedade para ter uma vida melhor e com uma produtividade boa dos seus alimentos”.
Muito obrigado, presidente, e confirmo quando fazemos pesquisa aqui na cidade de São Paulo o agricultor está dentro das cinco profissões consideradas vitais pelo cidadão urbano. Isso é a pura verdade. Presidente um grande abraço e muito obrigado.
“Obrigado a você e a todos os ouvintes”.
José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão.