Eldorado/Estadão - Enquanto as mídias falam as autoridades calam: a quem interessa as invasões na Suzano?
Publicado em 03/03/2023
TCAIEnquanto aqui na França ao lado de uma juventude internacional no FAM Food & Agribusiness Management, mestrado com diplomação dupla europeia e brasileira, aprendemos sobre as oportunidades existentes nos diversos continentes do planeta, aparece na mídia as invasões de três áreas de cultivo de eucaliptos da Suzano Papel e Celulose na Bahia.
Qual o objetivo dessa invasão sobre uma área 100% legal, numa empresa moderna dentro de rigorosos padrões de sustentabilidade e compliance? Paulo Hartung, presidente executivo da IBA – Indústria Brasileira de Árvores assinalou para o Estadão: “essa invasão do MST vai na contramão do desejo de fortalecimento da democracia, ao aprofundar as divisões do país”, e Hartung também critica o silêncio das autoridades.
A coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, da mesma forma afirma: “repudia veementemente a invasão realizada, e que o ato ignora preceitos constitucionais, além de afirmar que os desafios fundiários do país não podem ser enfrentados com ações ilegais, principalmente por propriedades que cumprem rigorosamente a função social”.
Mas pergunto: se a mídia se calasse e as autoridades atuassem dentro do rigor correto e ético da lei, os objetivos desta invasão, por parte de seus líderes, teria sido atingido? Claro que não.
Invadir uma empresa 100% legal, e ainda mais, uma organização sustentável com acesso mundial que atua num ramo sob gigantesco “big brother”, árvores; e protegida pela constituição brasileira, claro que o objetivo não seria o de invadir e tomar posse para fazer o bem a seres humanos “vítimas do sistema”. Esse intento nesse caso é impossível de ser conquistado. Então qual o objetivo?
Paulo Hartung aborda no Estadão o aspecto da polarização e, sem dúvida, significa mais um ato dentro da guerra interna fratricida que assola o país a serviço das extremas ignorâncias de ambos os lados. Mas neste caso, volto a pergunta com a qual iniciei este comentário: “se as mídias se calassem e as autoridades falassem e atuassem dentro da lei” o que aconteceria?
Frustrariam o único maior objetivo desta invasão: obter reverberação nacional e internacional da mídia de forma gratuita. Sem pagar um só centavo obter mídia de graça, e com isso lucrar na sua propaganda e, sem dúvida, conseguir com que seus líderes festejem o “golaço” obtido. Mídia de graça mundial pra nós, sucesso para a nossa marca, ou “brand” como se diz no reino do marketing.
O mundo tem, sim, desafios humanitários gigantescos, desigualdades, os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU estão aqui colados nas paredes da nossa faculdade, onde todos os dias desfilamos com nossa juventude lendo e relendo, refletindo sobre cada um deles.
Na agricultura são cerca de 570 milhões de propriedades rurais no planeta onde 70% delas passam fome. É gente com terra, mas faminta. No Brasil, Alysson Paolinelli observou: “temos 4 milhões de pequenos produtores rurais que tem terra e são famintos, e os cerca de quase 4 bilhões de seres humanos com algum nível de insegurança alimentar, onde 1 bilhão deles passa fome de verdade”.
Portanto há uma luta, sim, a ser travada para a evolução da dignidade humana no planeta para todos. E nesse campo o movimento cooperativista tem a verdade na sua mão, com cooperativas e solidariedade internacional além do agro consciente e comércio justo nas cadeias produtivas e implantação pra valer de uma justa economia circular, com ciência e acesso a ela.
E para os que buscam aparecer na mídia, realizando atos midiáticos, bombásticos e ilegais o que fazer? O que a Inglaterra um período decidiu fazer com a famosa torcida raivosa dos “hooligans”: mídia zero e uso eficaz da lei.
Existem momentos onde a mídia não deve dar propaganda gratuita e sim cobrar exclusivamente as vozes e as falas das legítimas autoridades. Foco na lei. Isto serve para tudo e para todos, inclusive e principalmente a favor dos seres humanos que merecem dignidade nas suas vidas sejam quais forem os seus movimentos. A Lei representa o fundamento para o Brasil encantar, com suas forças criadoras, o mundo inteiro.
Au revoir Brasil!
José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão.