Eldorado/Estadão - “Todo gato é mamífero, e mia, todo cão é mamífero, logo mia”. Cuidado, crime não pode ser associado ao agro e falta marketing no setor.
Publicado em 31/03/2023
TCAINa China, nesta semana, o presidente da Apex Jorge Viana falando no seminário do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), realizado no centro para a China e sobre globalização disse: “nós brasileiros deveríamos parar de dizer fora do Brasil que o Brasil não tem problema ambiental. Nós temos e faz muito tempo”. E demonstrou com dados o quanto da floresta amazônica foi desmatada se transformando em pecuária, agricultura, e floresta secundária (Estadão, edição de 28/3). Recebi centenas de manifestações de “repúdio” das mais diversas entidades do setor.
Muito bem, Jorge Viana revelou um aspecto que temos identificado, que o “gato é mamífero e mia”, o desmatamento. Porém termina por associar uma premissa de um problema antigo realizado por criminosos e a ilegalidade com a “marca” do agronegócio brasileiro como se fosse essa a segunda premissa desse “raciocínio lógico”. O cão é mamífero mas não mia.
Eu diria, no mínimo, nos faltam competências sobre os fundamentos da administração de marketing de qualquer negócio com ou sem fins lucrativos. Ocorreu ali um “co brand negativo”, aquele que tira valor, traz prejuízo como chamamos na linguagem de marketing entre uma marca desejável, “o agronegócio do Brasil”, com uma marca indesejável e que serve a detratores e concorrentes “o desmatamento no bioma amazônico”.
O desmatamento, crime, ilegalidade existe no país? Sim. Mas por que ocorre a sua associação vinculada a uma outra premissa de uma atividade que está longe de ser a responsável direta pelo fato? Voltando aos estudos do Prof. Dr. Raoni Rajão, hoje diretor do departamento de controle de política de desmatamento e queimadas do Ministério do Meio Ambiente, publicado aqui no Agroconsciente em janeiro deste ano, Dr. Raoni afirmou que “não passava de 5% o ilegal dentro do agronegócio”. E como apresentamos na quarta-feira passada, outro estudo inédito da Serasa Experian Agro, numa amostra alta de 10% sobre contratantes de crédito rural e/ou seguro em 2022, foram estudados 163.300 produtores rurais, dos diversos extratos fundiários, e 99% deles concluídos como corretos, legais e aprovados nas práticas ESG (meio ambiente, responsabilidade social e governança), apenas 1% com altos riscos ambientais.
Desta forma, entre 1% a 5%, significa um percentual que não explica nem justifica a sua generalização com os demais 99% ou 95%, onde concluímos que a lógica para tratar do desmatamento e do crime ambiental no Brasil precisa tomar cuidado com as suas premissas, caso contrário fica parecido com a brincadeira infantil do “todo gato é mamífero, todo gato mia, todo cão é mamífero logo todo cão mia”.
O crime e a ilegalidade precisam contar com tolerância zero, suas motivações e o crime organizado identificados e julgados perante a lei, e sua existência e decorrência não podem estar vinculados numa tenebrosa estratégia de “generalização” para um complexo do sistema de agronegócio que envolve milhões de pequenos agricultores, agroindústrias familiares, cooperativas, empreendedorismo de todos os portes, e com impacto de 30% no PIB do país, de forma direta, e outros 30% de maneira indireta.
O raciocínio lógico exige premissas verdadeiras para evitarmos conclusões equivocadas. Agora, além do setor ficar furioso com o presidente da Apex, estaria na hora de uma ótima autocrítica, e pergunto: uma atividade onde até dados e provas em contrário constatamos 95% a 99% de seus agentes corretos nas conformidades ESG, por que esse macro segmento não obtém a justa percepção, imagem e reputação?
Falta saber o que é marketing, como o usamos e para que serve? Bem vindos líderes do agro, nossas melhores academias ensinam e temos sábios mentores desse assunto que é uma filosofia de administração, muito além de “enrolação, superficialidade e manipulação”. Caso contrário os 95% ou 99% perdem o jogo para os 1% ou 5%.
José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão.