CABEÇA
DE LÍDER

José Luiz Tejon

Eldorado/Estadão - Voz de líder: “ovo, a proteína do povo, pede reforma da política de grãos”

Publicado em 18/04/2022

Cristina Nagano, diretora do Sindicato Rural de Bastos

Na série voz de líder Agroconsciente ouvimos a diretora do Sindicato Rural de Bastos, no Estado de São Paulo, a capital nacional do ovo, Cristina Nagano. Os custos da ração dobraram, milho e soja, do premix idem em dólar e das embalagens também, e o setor não consegue repassar preços aos consumidores, que terminam por consumir menos.

Muitos avicultores paralisaram a produção, como Cristina nos informou o ocorrido na cidade de Santa Maria de Jetibá, Espírito Santo, que disputava o primeiro lugar na produção de ovos com Bastos, a Coopeavi. “Retornamos a um nível de produção de 5 anos atrás”, acrescenta Cristina Nagano, reduzindo o alojamento de aves.

Em reunião com as lideranças do ovo, a proteína hoje essencial e fundamental para a população, incluindo a base da pirâmide social do país, Cristina manda o seguinte recado para os candidatos à presidência da república: 1- Uma reforma da política de grãos com incentivo ao aumento da produção de soja e milho e uma equalização nas condições da aquisição dos grãos no mercado interno comparado à exportação . 2- Infraestrutura para diminuir dependência total da malha rodoviária com custos elevados e riscos de acondicionamento do ovo bem como tempo exigido para distribuição do produto que precisa chegar fresco. 3- Linhas de crédito para o setor granjeiro que não se enquadra nas linhas atuais pelo ciclo longo dos investimentos, alto giro e baixas margens.

Segue a mensagem de Cristina Nagano: “Bom dia Tejon, aqui é Cristina Nagano, granjeira, diretora do Sindicato Rural de Bastos. Bastos por ser famosa como a capital do ovo no Brasil. Prazer estar falando com você e seus ouvintes. Bom, Tejon, temos enfrentado anos difíceis na avicultura, com a intensa alta dos custos, principalmente da ração e sem a possibilidade de repassar esses aumentos aos nossos produtos, amargando, assim, grandes prejuízos. O ovo, que é tão importante na base alimentar do brasileiro, segundo alimento mais completo do mundo, um dos setores do agronegócio que mais gera empregos diretos e indiretos, além de movimentar bilhões ao longo do ano. Acreditamos que o candidato à presidência do país precisa se aproximar e discutir com quem produz com tanto esforço e trabalho nesse país. Temos três pautas imprescindíveis em nosso setor. Primeiro, reforma da política de grãos, principalmente milho e soja, seja por incentivo cada vez maior ao plantio, ou nos colocando em grau de igualdade de compra em relação aos incentivos,a exportação dos grãos. Segundo, investimento na infraestrutura, principalmente energia e logística para o escoamento dos grãos e dos ovos. Hoje dependemos 100% da malha rodoviária, que incorre  em custos aos grãos e nos ovos altos investimentos no acondicionamento do produto e o custo do tempo para um produto, que precisa chegar o mais fresco possível ao consumidor. E por fim linhas de créditos próprios para os granjeiros de ovos, pois temos ciclos muito longos, alto giro e baixíssima margem, que hoje nos desenquadra da maioria das linhas de crédito disponíveis.”

Ouvi o presidente da ABPA, Ricardo Santin, Associação Brasileira da Proteína Animal que registra a importância do setor na saúde nutricional da população, e salienta como a avicultura de postura tem sido resiliente crescendo em produtividade, produção, atendendo um consumo que de 2010 a 2020 simplesmente aumentou 61%, passando de 148 unidades em 2010 para 251 unidades de ovos per capita no Brasil, hoje, maior do que no mundo, na faixa de 230 ovos por pessoa/ano.

Enfatizo e concordo totalmente com Cristina Nagano e os produtores de Bastos, que é necessário, sim, um planejamento urgente para uma política de grãos, pois estaremos sempre debilitados na produção de ovos, frangos, suínos, leite, piscicultura, sem ração e previsibilidade de segurança alimentar para o setor da proteína animal; precisa da política de grãos, milho e soja. E sem isso, consequentemente, trazemos insegurança alimentar para a população humana. E porque não uma iniciativa público privada de autogovernança e coordenação da cadeia produtiva do ovo? Quem sabe esse nobre setor dá um exemplo ao país?

Na exportação os Emirados Árabes representam 70% do destino de ovos do Brasil, ainda insignificante, mas podemos vender muito, muito mais, para o mundo. Agora para ter mais ovo, a proteína do povo, precisamos de milho, a energia da galinha. As pautas do Sindicato Rural de Bastos são válidas e corretas e explicam como é importante compreender exatamente a definição de agronegócio: governança de cadeias produtivas muito acima e além de analisar isoladamente este ou aquele elo desse macro segmento econômico.

Enquanto isso toca Zeca Pagodinho, “a galinha chorou de felicidade, chegou o carro do ovo pra fortalecer nossa comunidade”. Afinal sem milho pra galinha falta ovo pra população.

José Luiz Tejon para a Rádio Eldorado/Estadão.

Também pode interessar

Na cidade de Dom Eliseu, próximo de Paragominas, Pará e de Imperatriz, Maranhão, está acontecendo o Congresso Estadual e Internacional das Mulheres Agro Paraenses. Os temas debatidos envolvem o protagonismo feminino numa região que é hoje o centro das atenções do mundo, a Amazônia. Temas também como gestão de risco para commodities; o sorgo como um cereal que terá contribuições imensas na nutrição humana dentro de áreas que lutam pela busca de segurança alimentar e energéticas.
Entrevistei o Prof. Dr. Ray Goldberg, criador do conceito de agribusiness, ao lado de John Davis, publicado no seu livro em 1957. Hoje, 67 anos após, este sábio dos sábios registra, aos quase 100 anos de idade, suas três vitais e fundamentais mensagens aos líderes para os próximos 30 anos.
O país todo está polarizado. O bem versus o mal, o nós versus o eles. E no agronegócio a polarização também corre solta. Um vídeo e posts circulam pelo país mostrando uma convocação para 7 de setembro que propõe reunir em Brasília, e pelo país, parte dos agricultores, e os caminhoneiros prometendo parar o país se o voto impresso não for aprovado e o pedido de impeachment dos ministros do STF não for encaminhado pelo Senado federal. Chegam a sugerir sangue derramado, se necessário.
Quando falamos de agronegócio estamos olhando para um sistema agrícola, industrial, comercial e de serviços, totalmente exigente de ciência e tecnologia. A agricultura brasileira é totalmente globalizada.
© 2025 José Luiz Tejon Megido. Todos os direitos reservados. Desenvolvido por RMSite