CABEÇA
DE LÍDER

José Luiz Tejon

O poder do autoengano e as lições do PIB do Brasil versus agropecuária na década passada

Publicado em 15/03/2021

Pedro Malan no Estadão de domingo (14) e Roberto Rodrigues, Estadão Economia (B7), escreveram duas obras primas da consciência. Malan aborda os riscos do autoengano, e isso nos traz reflexões sobre o agronegócio. E Roberto aborda o “tango” e a responsabilidade das lideranças. Marcello Brito, presidente da Abag, pediu um estudo publicado no portal Agrishow, que revelava o que ocorreu na década passada, de 2011 até 2020, comparando o PIB brasileiro com o do setor da agricultura e pecuária.

Conversei com Luiz Antônio Pinazza, consultor da Abag, editor da revista Agroanalysis, e falamos de lições importantíssimas que podemos extrair daqueles números, e das preocupações para a nova década que começa neste ano de 2021 em meio a pandemia transformada em “pandemônio” pela desorganização e incompetência de priorização do que precisa ser feito, numa crise, ou ainda melhor, numa falta de prevenção para a resiliência do país.

Os números levantados mostram que enquanto a agropecuária, o dentro da porteira das fazendas, cresceu 23,2% positivos, a soma total do PIB nacional na somatória de 10 anos ficou com 3%. Praticamente estagnado. O autoengano pode nos levar a conclusões enganosas e nos fazer estacionar na zona da acomodação, ao acreditar que a agropecuária poderia sozinha carregar o Brasil nas costas. Por outro lado, alvíssaras. Ainda bem que a temos, caso contrário a desgraça transformaria o pandemônio e a pandemia num inferno tropical absoluto.

Lições? Produtividade, ciência, empreendedorismo e cooperativismo. A década passada perdida no PIB do país permite olhar para o sistema de agribusiness e a partir dele prepararmos um planejamento estratégico que impacte, e irá impactar, todos os demais setores nacionais, na indústria, comércio, serviços, diretos e indiretos, que a originação nos campos, águas, mares e cidades permite ao país.

Porém, sem essa orquestração, organização e liderança, corremos um grave risco e ele deve ser a mosca do alvo das nossas lideranças, de caminharmos para outra década perdida. Nesse caso poderemos colocar em risco o progresso do próprio agronegócio, para a nova década como um sistema do antes, dentro e pós porteira das fazendas, na inovação, infraestrutura e inclusão ambiental e social do país, incluindo imagem e comunicação.

As partes do agro são discutidas fora de uma gestão de design unificado. Mais fertilizantes nacionais, porém não pode ser ao custo do produtor brasileiro pagando essa conta como se manifesta a CNA. Um agro legal exige o combate onívoro contra o ilegal. Enquanto crescemos no milho e na soja, o custo para a proteína animal dispara. E dezenas de cadeias produtivas seguem estagnadas nos mesmos volumes, como exemplo o nobre feijão com arroz.

Viva o Renovabio mas cada dia um susto na sua implementação. Uma hortifruticultura deliciosa mas tímida nos acessos internacionais. Enfim do A do abacate ao Z do zebu, com o pescado, somos uma riqueza gigantesca de potencialidades, agroindústria e marcas com indicação geográfica, e por que não a gastronomia dos “terroir” brasileiros: como em Canudos, Caatinga, a Coopercuc extrai dos frutos do sertão compotas e doces para o prazer sensorial de austríacos e alemães. Temos o Plano ABC e uma geração potencial de biogás enorme, onde atingimos apenas 2% dessa outra riqueza que vira CO2 e o metano.

O Brasil tem uma condição ótima, temos mercado interno, que representa a grande parte do consumo da agropecuária brasileira, o que não nos deixa exclusivamente dependentes dos mercados internacionais. Ótimo exemplo do algodão. A indústria de alimentos e bebidas é o cliente número 1 dos agricultores do país. Temos cooperativismo e muitas cooperativas agroindustriais agregando valor, além de inteligência e planos extraordinários carentes de liderança, foco e integração num planejamento estratégico de estado, da nação. Um “design Brasil”.

Não posso como professor, iniciando neste dia o programa internacional da FECAP com audencia de Nantes, França, para jovens do mundo todo, deixar de recomendar quatro livros essenciais: Auto engano, de Eduardo Gianetti; A marcha da insensatez, de Bárbara Tuchman; The end of economic man , de Peter Drucker (livro de cabeceira de Winston Churchil); FACT Fulness, de Hans Rosling. E se ainda for possível, “O poder do incômodo” deste brasileiro escritor muito incomodado.

Porém seguindo Ariano Suassuna: “o pessimista é um chato, o otimista um tolo. Sou um realista esperançoso”. Que Malan e Roberto sejam bem sucedidos.

José Luiz Tejon para a Rádio Eldorado.

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