CABEÇA
DE LÍDER

José Luiz Tejon

Eldorado/Estadão - Comissão da União Europeia aprova regras para importação. Precisamos de um “fair environmental agrisystem accountability”

Publicado em 17/05/2023

Divulgação
Conselho da Comissão Europeia aprovou a regulamentação que objetiva minimizar o risco do desmatamento

O Conselho da Comissão Europeia aprovou a regulamentação que objetiva minimizar o risco do desmatamento, e da degradação de florestas, com produtos importados pelo mercado europeu. Recebi a nota oficial do Conselho da União Europeia ontem (dia 16).

O Conselho estabeleceu regras mandatórias de due diligêncy para todos os operadores e traders. Estão no foco desse olho crítico o óleo de palma, madeira, carne bovina, café, cacau, borracha e soja. E isso impacta da mesma forma os seus derivados como chocolate, móveis, e produtos que utilizam essas matérias primas como componentes de suas marcas, por exemplo na higiene pessoal e beleza.

Rastrear essas commodities desde o pedaço de terra onde foram originadas é a ordem. Serão necessárias declarações formais de auditoria, numa base de “due diligency”, uma diligência devida, e neste caso prévia.

31 de dezembro de 2020 é a data deste marco, e define que somente produtos produzidos em terras não desmatadas a partir de 31 de dezembro de 2020 serão autorizadas no mercado europeu, ou mesmo exportados a partir da Europa, o    que adiciona um aspecto importante, pois a Holanda, o segundo maior país do agribusiness mundial, tem exatamente na sua logística e agregação de valor uma substancial importância nas relações com o Brasil.

China, Estados Unidos e Holanda são os 3 principais mercados brasileiros, enquanto países. Os países serão segmentados em “alto risco”, e “baixo risco”. Isto objetivaria um foco concentrado nos de alto risco e simplificação das diligências nos de baixo risco.

Aspectos envolvendo direitos humanos também farão parte das novas regras europeias. O alerta que deixo aqui no Agroconsciente está voltado exatamente ao que significa agronegócio. É uma cadeia produtiva envolvendo diversos agentes no antes, dentro e pós-porteira das fazendas. E estudos de impactos ambientais já revelaram que há uma proporcionalidade muito maior de impactos no meio ambiente, atingindo até 80% desse total, nos setores industriais, comerciais, de serviços, mineração e do consumo, que resultam em cerca de 30% de desperdícios, por exemplo, em tudo o que é produzido no planeta e contabilizado.

O Brasil precisa assumir esse compromisso com a sustentabilidade, sem dúvida, mas precisa trazer agentes industriais, comerciais e dos setores de serviços, e o governo este com totais responsabilidades para tolerância zero nos crimes ambientais no combate ao ilegal. A soma de todos esses agentes envolve o complexo do agronegócio, e precisam todos estar no palco dessas discussões e decisões para não colocarmos no colo exclusivo dos produtores rurais, de maneira errada e injusta essa conta. Precisaremos de um “fair environmental agrisystem accountability”, um sistema justo agroindustrial de métricas e contabilidade ambiental.

De olho no todo, para não tomar a menor parte como foco central do todo, o complexo sistêmico das cadeias de valor do agronegócio, do berço ao berço.

José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão.

Também pode interessar

Aloizio Mercadante, novo presidente do BNDES, declarou: “O Brasil não pode ser só a fazenda do mundo”, e que será mais atuante na indústria, e que o Brasil não pode ser somente um exportador de commodities agrícolas”.
Muito diferente a “temperatura” do humor existente neste início de julho entre o governo federal versus o agronegócio no início do novo governo.  E, sem dúvida, ouço elogios ao desempenho do ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Carlos Fávaro.
Na palestra de abertura do Summit ESG Estadão ouvimos o inglês John Elkington, de 71 anos, considerado um dos criadores desse movimento global, que prega agora o capitalismo regenerativo. A síntese de suas palavras é: “a mudança tem de ser do sistema todo”.
Conversei com a presidente da Embrapa, Silvia Massruhá, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária que representa a ciência e a tecnologia, e tudo que vemos no país de energia, de alimentos e de meio ambiente. E nós estamos em um evento sobre bioeconomia, economia verde, crédito de carbono e pergunto a Silvia como vê os próximos passos da pesquisa e da ciência brasileira nesse mundo do carbono, do metano, da economia verde e para onde vamos?
© 2025 José Luiz Tejon Megido. Todos os direitos reservados. Desenvolvido por RMSite