Eldorado/Estadão - Dois sábios ex-ministros da Agricultura falam de futuro com planejamento
Publicado em 16/06/2021
Conversei com o ex-ministro Roberto Rodrigues sobre seu artigo no Estadão de domingo passado (13), página B4, Economia, cujo título é Nuvens, a chuva que devia chover e não choveu. E o ministro associa a incerteza das nuvens no céu, com as incertezas da política e ficando na agropecuária, como as nuvens não deram chuvas nas horas precisas e esperadas, vamos ter uma diminuição muito perigosa da safra deste ano.
Comentamos aqui no Agroconsciente que uma safra que estava prevista neste ano para 272 milhões de toneladas de grãos, segundo a Conab, cairia para 262 milhões de toneladas, mas na previsão do ministro Roberto Rodrigues em conversa com a Abramilho, Associação Brasileira do Milho, a safra diminuirá mais, pela seca, e teremos 20 milhões de toneladas de milho a menos. Dessa forma passaríamos a falar não mais de 262 milhões de toneladas de grãos e sim algo em torno de 255, ruim em todos os sentidos em meio a pandemia.
Mas o ministro Roberto ainda acrescentou outros danos: cana de açúcar, 10% menos. Laranja, 10% abaixo da média dos 10 últimos anos e os pastos estão secando mais cedo, com prejuízos na pecuária. E além de tudo isso, vamos iniciar uma nova safra em agosto, em meio à crise hídrica. Desta forma as nuvens precisam estar carregadas com chuvas, é o pedido do ministro, mas que elas não estejam carregadas na política. E sem dúvida o que o ministro Roberto Rodrigues me disse é a necessidade urgente de segurança da renda do agricultor, principalmente com seguro rural, para que o agricultor possa assumir riscos e plantar muito mais, a única saída para o Brasil, plantar mais. Isto quer dizer planejamento estratégico no campo.
Enquanto isso, outro ex-ministro, Alysson Paolinelli, que já entrevistamos aqui no Agroconsciente, indicado para o Nobel da Paz, disse ao jornal o Valor Econômico que está empenhado num pacto alimentar global. Alysson Paolinelli já me disse que não podemos esperar mais somente de governos. É necessário a integração da sociedade civil organizada com a iniciativa privada e governo.
Alysson é um defensor da nova jornada do agro brasileiro, daqui pra frente, um novo salto, onde o mundo precisará dobrar a atual produção, e ele nos chama a atenção que aqui no Brasil podemos dobrar de tamanho sem desmatar novas áreas. Na sua fala para o Valor ele disse “os países tropicais precisam parar de exportar imigrantes e passar a exportar alimentos mais saudáveis”. Sim, não apenas um celeiro, mas um pomar é um supermercado do mundo.
Da mesma forma é intenção da Comissão Agrícola Europeia, por exemplo, que as cooperativas da Europa façam um esforço para desenvolver o cooperativismo nos países subdesenvolvidos, para exatamente criar condições mais dignas de vida e estancar o êxodo humano para a própria Europa. E por que não as nossas cooperativas com a Embrapa nesse cinturão tropical planetário?
Integração lavoura pecuária e floresta como a fazenda Santa Brigida em Ipameri, Goiás, da senhora Marize Porto, além de sustentabilidade e responsabilidade social. Saiu de um prejuízo de 300 reais por hectare no início para hoje um lucro de 6 mil reais de hectares com árvores, pecuária e grãos. Uma solução tropical genial. Isso também quer dizer: planejamento estratégico.
Em todos os biomas brasileiros poderemos desenvolver riquezas, e quando olhamos o mapa do Brasil, em 26 estados do país e o Distrito Federal, apenas 8 não tem nos derivados do agronegócio às suas principais exportações. Em 18 estados é agronegócio, em 8, minérios.
Portanto, não tem outro jeito, ou fazemos um planejamento estratégico econômico e de marketing do agronegócio brasileiro ou nos adaptamos ao indesejável, crescimentos pífios e insustentáveis do PIB do Brasil nos próximos 10 anos. Independente deste ano, o futuro cabe as mulheres e homens planejarem, e não nos perdermos em distrações como ser antivacina, antijegue, se até os jumentos já foram anos atrás um alvo de importações da China, podendo alcançar, se isso ocorresse, cerca de US$ 3 bilhões de vendas, mas o Brasil ama seus jegues e não os vendemos para virar comida e cosmética na China. Chamamos o Genival Lacerda pra cantar o forró “de quem é esse jegue”.
Que as nuvens sejam carregadas de esperança, prosperidade e liderança, enquanto isso ministros, Roberto Rodrigues e Alysson Paolinelli, que São Pedro, agricultores e ministra Tereza nos ajudem.
José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão.