Eldorado/Estadão - Donald Trump nos relembra “The Logical Song”, Who am I? Da banda Supertramp! Quem eu sou?
Publicado em 05/02/2025
Divulgação
Responsável, prático, radical, liberal, fanático, digital, admirável, cínico ou clínico? Who am I? Quem sou eu?
Bolsa de Chicago subiu ontem os preços da soja, do milho, do trigo. Subiu o óleo de cozinha, que vem da canola canadense. Então a cada instante temos turbulências e só temos uma certeza, inclusive sobre o agronegócio, a incerteza.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, além de um estilo agressivo de vendas, tipo “hard sell”, é também um empresário do setor de entretenimento, com cassinos.
Portanto, conhecedor das artimanhas dos jogadores que não existem para perder, no caso donos de cassinos como o Taj Mahal. Também mediático apresentou o programa “O aprendiz”. Programa esse aqui no Brasil que foi apresentado pelo publicitário Roberto Justus. Ele também anunciou a construção de quatro gigantescas Torres no Brasil, a Trump Towers Rio, mas não aconteceu.
Portanto, será natural e normal ouvirmos ameaças, blefes, vozes altas, e um personagem de muita competência mediática. Um jogo da divisão especial da política num país de US$ 25 trilhões de PIB.
Sobre os impactos para o Brasil, no primeiro governo Trump crescemos muito positivamente o agronegócio e conquistamos mercados asiáticos numa velocidade e de forma surpreendente.
Também recentemente estabelecemos abertura de comércio com o México.
Da mesma forma assinamos o acordo Europa Mercosul que depende da aprovação das esferas políticas europeias, porém muito desejadas pelos setores industriais, comerciais e de serviços da Europa, tanto para adquirir matérias primas agropecuárias do Mercosul, quanto para vender produtos de tecnologias e de valor agregado aos mercados latino-americanos.
Abrimos cerca de 200 novos mercados para o agro brasileiro nos últimos dois anos. A taxação com México e Canadá trouxeram um movimento de tropas nas fronteiras para estancar tanto a imigração ilegal quanto o tráfico de drogas e armas que, diga-se, a de armas tem muito mais o sentido dos Estados Unidos para o México do que ao contrário. E as taxações já foram suspensas por Trump.
A China, aí sim um adversário gigante, já prometeu entrar na Organização Mundial do Comércio (OMC). E a Europa de barbas de molho perante as incertezas que virão, tendo do seu lado outro personagem de megaego, Putin.
E Trump disse ontem (dia 4) que vai tomar a Faixa de Gaza. Mais turbulências que mexem em todas as commodities.
Os Estados Unidos são o maior agronegócio planetário, calculo que todo seu movimento envolvendo o complexo agroindustrial comercial e de serviços chega na casa de cerca de US$ 5 trilhões, o agribusiness total USA, quer dizer 10 vezes maior do que o brasileiro e duas vezes o tamanho de todo PIB nacional.
Portanto, um verdadeiro gigante com o dobro também da produção de grãos que temos hoje na nossa safra. Só de milho são 380 milhões de toneladas, e nossa produção total de todos os grãos fica na casa de 320 milhões de t.
O que o Brasil deve fazer? Parar de brigar internamente e se acertar para enfrentar incertezas que serão maiores e crescentes. No agronegócio um plano de metas, safras, estímulo ao crescimento pois vejo inevitavelmente aumento de preços das mercadorias e demanda por segurança de abastecimento mundial, onde o Brasil pode e tem condições de se apresentar como fornecedor confiável e de qualidade. Além de sustentável e bioenergético.
Além da guerra pelas percepções do mundo, de Trump, efeitos climáticos estão prejudicando safras na Argentina e nos Estados Unidos. A guerra Rússia e Ucrânia continua, duas potências agrícolas prejudicadas. E aqui no Brasil estamos esperando que corra tudo bem até as colheitas. E somos o único país do mundo que pode crescer no total da sua agricultura.
Por outro lado creio no fortalecimento das relações no continente latino-americano, que tem um potencial gigantesco de integração e negócios.
Creio na continuidade da estratégia asiática de segurança alimentar como prioridade vital de suas nações, principalmente na China, na Indonésia, na Índia. Visualizo um potencial enorme para o mercado Halal, muçulmano, para quem poderemos vender muito mais.
A Europa, com as incertezas das relações emocionais do vendedor hard sell Donald Trump, agirá mais decisivamente nos elos com o Brasil e por motivos óbvios, somos o único país do mundo em condições de crescer tanto como produtores como consumidores de bens e mercadorias.
E temos uma oportunidade ótima de oferecer ao mundo uma cooperação das nações tropicais planetárias, entre o paralelo 33 norte com o paralelo 33 sul, o cinturão tropical, que engloba cerca de 70% da população mundial, bem como praticamente 60% das terras úteis agricultáveis a serem desenvolvidas com ciência e tecnologia criada nos trópicos, como o Brasil com Embrapa, institutos agronômicos, universidades, empresários, cooperativas e famílias agrícolas realizaram nestes últimos 50 anos.
E ao final, se soubermos jogar bem esse jogo, e não cairmos no jogo de cena das tentações ideológicas político partidárias iremos também crescer nas relações com o próprio Estados Unidos, pois da mesma forma seu setor industrial, comercial e de serviços nas cadeias do agronegócio tem relações muito maiores com o Brasil do que as roletas do cassino conseguem demonstrar. E compramos hoje mais deles do que eles de nós.
Portanto, enquanto ouvimos o som de Supertramp (traduzindo super vagabundos) banda norte-americana com sucessos geniais como “The Logical Song”, a canção lógica, vamos perguntando: Mr. Trump, who you are? Who I am? Quem sou eu?
A história dirá, e muito mais rápido do que muitos estão a acreditar. Brasil: cuide dos fatores controláveis brasileiros, plano estratégico para dobrar o complexo do agronegócio de tamanho nos próximos 12 anos, essa é a única canção lógica brasileira.
Entre Mr.Trump e Supertramp vamos ver se a sinfonia vence a cacofonia.
José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão.