Eldorado/Estadão - Existe uma guerra pela alimentação que exige foco total muito além das agressões pela eleição
Publicado em 13/05/2022
DivulgaçãoFoco é a voz da alma conduzindo o cérebro e a razão. Estamos num cenário de grave crise na insegurança alimentar do planeta terra. Pandemia, mais incertezas climáticas, inflação, e mais guerra na Europa entre o 5º maior produtor de grãos do mundo, a Rússia com o maior produtor de grãos em terras europeias, a Ucrânia, onde Zelenski seu presidente declarou nesta semana ao presidente do Comitê Europeu Charles Michel: “sem as exportações agrícolas da Ucrânia dezenas de países já estão à beira da escassez de alimentos”.
Sobre o clima, o relatório do USDA - Departamento de Agricultura dos Estados Unidos - veiculado nesta semana aponta para um início de maio naquele país considerado o mais frio e mais chuvoso dos últimos 30 anos no famoso “corn belt”, o cinturão do milho, cuja safra no ano passado atingiu 384 milhões de toneladas do cereal, e há uma perspectiva de diminuição para cerca de 375 milhões de toneladas neste ano.
Só para comparação, a safra total brasileira na estimativa desta semana do IBGE aponta para 261,5 milhões de toneladas de todos os grãos, toda nossa safra dá cerca de 67% somente da lavoura do milho norte-americano, maior do que em 2021 que ficou em 253,2 milhões de toneladas de grãos, porém ambas distantes do potencial que esperávamos no início das safras em setembro, onde contávamos com mais de 280 milhões de toneladas de grãos nos dois anos agrícolas, 20/21 e 21/22. E nesta semana, infelizmente, notícias de frio rigoroso e risco de geada no Paraná, sul de São Paulo e Mato Grosso do Sul, poderá prejudicar a safrinha de milho desta safra que encerra o período 2021/22.
E o que está fazendo neste instante o presidente Biden? Está pedindo uma segunda safra norte americana, assim como criamos a nossa desde o início dos anos 90 no Brasil. E está destinando subsídios para crédito para enfrentar os custos dos insumos, está aumentando o valor do seguro rural nessas áreas potenciais de plantio de 2ª safra para proteger o risco dos agricultores e está prometendo investimentos em infraestrutura e assistência técnica aos agricultores dos Estados Unidos da América. Porém, 2ª safra no hemisfério norte não deverá trazer grandes contribuições no aumento da produção de alimentos a curto prazo.
O maior produtor de grãos do mundo é a China, mas é importadora para abastecer mais de 1,4 bilhão de habitantes. O terceiro maior produtor é a Índia, mas também importador para suprir mais de 1,3 bilhão de pessoas. Então chegamos no Brasil, somos o 4º maior produtor de grãos do mundo. E também somos, hoje, o único país do planeta terra que tem condições de crescer de um ano para o outro exponencialmente na produção de alimentos.
Dessa forma registrou o ex-ministro Roberto Rodrigues, e está impresso no jornal O Estado de S. Paulo do último domingo (8 no artigo Guerra e paz). E também ouvimos sua voz aqui no Agroconsciente da última quarta-feira (11). Ele disse: “precisamos de um Plano Safra de guerra”.
Temos terras abertas com pastagens onde não fazemos grãos e podemos incorporar o sistema integração lavoura pecuária imediatamente. A Embrapa sabe, nossa academia sabe, nossos agrônomos sabem, nossas empresas e cooperativas sabem, e o Mapa domina o conhecimento com o Plano ABC, agricultura de baixo carbono, e muitos produtores brasileiros já sabem e fazem. E tudo isso sem arrancar uma árvore sequer.
Temos condições de crescer na produtividade média brasileira em todas as lavouras, com assistência técnica que precisa receber apoio e investimentos reforçados para aumentarmos a produção nacional verticalmente, com mais segurança e rentabilidade aos produtores. E precisamos de infraestrutura elementar na armazenagem, irrigação, insumos, telecomunicação e logística.
O ministro Roberto Rodrigues pede para 2022/23 um Plano Safra de guerra. E como estamos neste momento? Somente agora, maio, graças ao esforço do congresso, conseguimos destravar e reabrir os financiamentos rurais com recursos equalizáveis, do Plano Safra 2021/22, que estavam bloqueados desde fevereiro deste ano. O presidente da República sancionou sem vetos um montante de R$ 2,57 bilhões (apenas a metade do que foi destinado para as campanhas eleitorais 2022) dos quais R$ 858,5 milhão para equalização de juros. Do Plano Safra que termina agora.
E para o Plano Safra de guerra, o próximo? Um Plano Safrão? E com o teto de gastos público já estourado? Atrairemos fundos e recursos financeiros internacionais, privados, de países clientes?
Jamais será feito sem convergência de todas as lideranças, priorização orçamentária, atração de recursos e fundos internacionais e liderança com confiança. Precisaremos, sim, de subsídios e proteger os agricultores para que possam plantar muito mais livres dos riscos que não lhes pertence com seguro agrícola, da mesma forma como propõe o presidente Biden nos Estados Unidos da América do Norte.
O Brasil pode ser um Estados Unidos da América do Sul no agronegócio, atingindo e superando a produção agropecuária do 2º maior do mundo em grãos, hoje os Estados Unidos. Podemos obter mais de 500 milhões de toneladas de grãos a curto e médio prazos e virmos a ser o número 1 do planeta terra. E o Brasil pode ser o número 1 na agroenergia com etanol, biocombustíveis, bioeletricidade, biogás e biometano e em todas as proteínas animais. Sabemos fazer tudo isso. Sem nos esquecermos da hortifruticultura, algodão, árvores, flores, café e toda cadeia produtiva agroindustrial, comercial e de serviços com descarbonização.
Só depende exclusivamente das nossas lideranças. Precisamos de foco, administração e priorização. Um plano para lutar na guerra pela alimentação, que significa dignidade humana além de ótimos negócios para o país, com impactos diretos em pelo menos 1/3 do PIB e indiretos nos outros 1/3. Vamos parar de perder energia com xingamentos e ódio nas brigas da eleição.
A cena é de guerra, e essa luta precisa ser lutada a serviço da causa nobre que a justifica: alimento com Plano Safrão 2022/23.
José Luiz Tejon para Eldorado/Estadão.