CABEÇA
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José Luiz Tejon

Eldorado/Estadão - Explica mas não justifica inflação altíssima de alimentos e fome numa das maiores agriculturas do mundo

Publicado em 31/05/2021

Divulgação FEA-USP
Dr. Décio Zylbersztajn fundador do Programa de Estudos dos Negócios do Setor Agroindustrial (Pensa) na FEA-USP

Joelmir Betting disse: “o Brasil é maior do que o buraco”. E Peter Drucker falou: “não existe país subdesenvolvido, existe pais subadministrado”. Logo, estas duas assertivas destes dois extraordinários pensadores, o jornalista Joelmir Betting, brasileiro; e a maior referência da administração, o suíço Peter Drucker me fez tratar hoje no Agroconsciente sobre a importância do planejamento estratégico e da governança para o agronegócio nacional.

E falando de gênios, fui a busca de outro. Entrevistei o professor dr. Décio Zylbersztajn fundador do Programa de Estudos dos Negócios do Setor Agroindustrial (Pensa) na FEA-USP, e conversamos sobre o editorial do Estadão deste domingo (30), “Inflação sem gravata” onde está registrado o crescimento dos preços dos cereais, leguminosas e oleaginosas, incluindo feijão e arroz, em 40,82% nos últimos 12 meses.

O quanto podemos e precisamos realizar um planejamento estratégico de pelo menos 20 das principais e mais impactantes cadeias produtivas tanto para a exportação, e trazer dólares para o país, quanto para a segurança alimentar de mais de 213 milhões de brasileiros? Está na hora também de perguntar por que a agropecuária cresceu 32,5% de 2011 a 2020 e o PIB do país apenas 2,7%?

O prof. Décio entende que setores da iniciativa privada podem ampliar os seus contratos do SAG, sistema agroindustrial, como por exemplo na segurança alimentar dos animais como frango, ovos, leite, suínos, com dependência total da ração, da soja e do milho.

Da mesma forma considera que contratos do próprio setor privado serão fundamentais em diversos setores e dá como exemplo o dos cafés especiais, dentre outros.

Onde tem o mercado organizado atuando, ok, mas como o mundo é imprevisível a integração de ciência, com produtores rurais, agroindústrias, comércio e serviços é uma necessidade essencial. Numa crise commodities sobem de preço. No Brasil a desvalorização do real foi ainda monumental. Além de minérios e petróleo, o Brasil tem a riqueza do agronegócio.

Porém, enquanto soja que era comida de hippie nos anos 70 virou rainha da economia, e o milho o primo pobre do passado virou o primo rico do presente, o agronegócio do frango, ovos, suínos, leite que não vivem sem ração, sofrem com custos que podem inviabilizar o setor. Está evidente que precisamos e devemos produzir muito mais. Mas agronegócio não nasce da noite para o dia. Precisa de planejamento estratégico privado e políticas públicas do estado, e que este faça governança e não lambança, abrindo buracos como Joelmir Betting criticava. E quero aqui com justiça preservar a ministra Tereza Cristina um oásis nesta história.

O prof. Décio Zylbersztajn adiciona: “Por outro lado tem o papel do estado, a governança. Cabe ao estado criar políticas públicas que promovam ambiente que gere valor e, ao mesmo tempo, cuidar para que esse valor seja compartilhado numa proposta de comércio justo ao longo dos agentes que atuaram na construção do valor. Governança, o estado na sua missão orquestradora de longo prazo”.

E aqui vejo a necessidade da reunião de vários ministérios, ao lado do executivo, legislativo e judiciário; uma andorinha só não faz verão. Dessa forma, planejamento estratégico reunindo a iniciativa privada com o papel do estado é prioridade, pois está claro que o Brasil tem a maior oportunidade do século aumentando a produção, com um olhar para a bioeconomia, tanto para exportar, agregar valor quanto combater a inflação dos alimentos e o pior de todos os cenários, a fome.

Buracos e subadministração, está na hora de superar com planejamento, pacificação dos humores e integração de governo com a sociedade civil organizada. Inflação alta de alimentos e fome numa das maiores agriculturas do planeta você pode explicar, mas não dá para justificar.

José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão.

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