Eldorado/Estadão - Gente que faz, precisamos de uma revolução de fazedoria agroempresarial nacional
Publicado em 05/06/2024
DivulgaçãoUma campanha inesquecível tinha a marca do banco Bamerindus à época , anos 80/90, foi criada com uma executiva da Rede Globo de televisão, Mirna Aversa, e mostrava exemplos de “gente que faz” de todos os cantos do Brasil.
Neste momento o vice-presidente Geraldo Alckmin está numa missão de vendas pelo Oriente Médio e Ásia. Leva com ele o conceito da “neoindustrialização” sustentável. Ao mesmo tempo o Brasil lidera até novembro o G-20, grupo dos países com as maiores economias do mundo.
E os temas estão tomados dos aspectos da mudança climática, os modelos ambientais, os mercados do carbono, do metano. Conversei com Daniel Vargas, coordenador do Observatório da Bioeconomia da FGV, e pedi a ele um número, um valor do quanto significaria o tamanho desse “hiper mercado” ambiental que tem explicado o principal motivo do crescimento chinês nos últimos 20 anos. Ele me disse que seria do tamanho de 50% do atual PIB global do planeta. Então falaríamos de um potencial de agregar US$ 50 trilhões na riqueza do mundo. Se olharmos com um foco de negócios, poderíamos objetivar uma meta para dobrar o PIB brasileiro nos próximos 10 anos? US$ 4 trilhões? Possível?
Quando converso com adidos agrícolas, com pessoal da Apex, do Itamarati, ouço deles com honrosas exceções um sentimento de que poderíamos e deveríamos ter muito mais “pegada empresarial da iniciativa privada” do que temos.
Conversando com especialistas do mercado Halal, muçulmano, ouço sempre deles que poderíamos vender o dobro do que vendemos, e que nos falta determinação comercial.
Somos grandes exportadores de cerca de 12 commodities, com baixa agregação de valor agroindustrial, apesar de termos na ABIA – Associação Brasileira da Indústria de Alimentos e Bebidas a maior indústria exportadora de alimentos processados em volume. Podemos obter mais valor!
Temos toda a realidade e potencialidade agroambiental, e somos o país campeão mundial no sequestro de carbono planetário, com 20% da biodiversidade da terra. E o que mostramos ao mundo? O que não fazemos, e o que fazemos de errado.
Abrimos mercados, foram mais de 120 mercados abertos nos últimos 360 dias. Mas entregamos? Desenvolvemos marcas? Conquistamos gôndolas de supermercados? Vendemos os “terroir” tropicais nacionais?
Recebi um registro da LarCoop, uma exemplar cooperativa do Oeste do Paraná, com seu vice-presidente Diogo Sezar, orgulhoso mostrando num supermercado no Japão produtos com marca LarCoop nas gôndolas. A marca Aurora também de outro sistema espetacular de intercooperação atua no mundo, sendo outro exemplo, dentre centenas que deveríamos revelar e incentivar para serem emulados por toda nação.
Temos casos, exemplos, a maioria deles ficam ocultos, desconhecidos. Somos reconhecidos como exemplos extraordinários em atividades empresariais como na Amazônia, um exemplo que conheço pessoalmente, Agropalma, no dificílimo setor do óleo de palma, com todas as ONGs do planeta de olho, um big brother, e ali está um exemplo exemplar, para apenas ensejar aqui neste comentário e artigo, que precisamos de uma “revolução agroempresarial” junto com as revoluções agroambientais alimentares e energéticas.
Grupo Roncador, no Araguaia, Grupo Lauro Ribeiro no Sul, usinas de açúcar, biocombustíveis, com biomassa, biometano. JBS a maior empresa de proteína animal do mundo, com a campo forte utilizando e realizando a arte da “economia circular”; MWM com a Cooperativa Primato de Toledo (PR) inovando, integrando suínos ao biofertilizante, biometano, criando uma região e uma carne sustentável e limpa, etc, etc, etc.
Temos, com todo respeito, muita gente dizendo o que “o Brasil precisa fazer”. Ok, tem valor, é importante. Porém ao não revelarmos o que já fazemos, com empresários, e cooperativas que enfrentam todas as circunstâncias existentes, e realizam, fazem, eu diria que está na hora de uma fortíssima ação de motivação nacional. Gente que faz, que está fazendo, e realizando enquanto muitos dizem que não podem fazer por ficar reclamando e esperando por governos, e por alguém que faça. Num danoso estímulo à polarização social.
E essa gente brasileira que faz, nós os encontramos em todos os pontos do país. Em todos os segmentos do nosso agro, do A do abacate ao Z do zebu. Estão presentes nas indicações geográficas, denominação de origem, na reunião de agricultura familiar com pequenas agroindústrias, pesquisa, tecnologia, comércio e serviços.
Hora de “gente que faz”. São esses que fazem que nos trouxeram até aqui. Podemos ter condições estruturais para facilitar mais e criar mais empreendedores e cooperativas empresariais? Sim. Mas tem gente fazendo aqui e agora, e eles não estão sendo mostrados aos brasileiros com a justa imagem que merecem, e que tanto precisamos.
José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão.