CABEÇA
DE LÍDER

José Luiz Tejon

Eldorado/Estadão - Mudança climática ou crise climática? Sem governança não tem esperança!

Publicado em 11/08/2021

gratis.png
Praça dos 3 Poderes

Se o “oráculo” falasse ontem (10) ouviríamos sinais vermelhos de alerta em vários sentidos. Três fatos concretos ocorreram ontem ao mesmo tempo que nos convocam como sociedade consciente a agir. E fui conferir com Argemiro Teixeira Leite Filho, doutor em análises e modelagem de sistemas ambientais pela UFMG e articulista da publicação nature sua opinião sobre o primeiro fato.

Fato número 1 - O relatório da ONU do IPCC - Intergovernamental Panel Climate Change, primeira página do Estadão, com o sinal vermelho de Antônio Guterres, secretário geral das Nações Unidas onde ele afirmou: “entramos num alerta vermelho, a terra está esquentando mais rápido e até 2040 a temperatura subirá. Outro pesquisador nesse relatório Paulo Artaxo registrou: “o aquecimento de 2 o C no planeta é irreversível. E em áreas continentais como as brasileiras poderemos ter aquecimento de mais 5,5 graus centígrados.

E perguntei ao dr. Argemiro, da UFMG, qual a sua opinião? Ele me disse: “eu sou um cientista, não trabalho com opinião, trabalho com fatos, o alerta vermelho da ONU é legítimo, e não devemos duvidar, e os fatos falam por si.

2 - Muito bem e vem o fato número 2 também ontem, que fala por si. As projeções da safra brasileira de grãos, 2020/21, em fase final de encerramento. IBGE e Conab soltaram seus relatórios apontando para mais uma queda nas colheitas de grãos do país.

Para os ouvintes compreenderem, os produtores brasileiros plantaram mais, tínhamos uma perspectiva no início dos plantios no ano passado de um potencial recorde, para até 280 milhões de toneladas de grãos, dadas condições favoráveis de clima, números variavam de 272 a 274 milhões.

Estamos colhendo 20 milhões de toneladas a menos, 254 milhões pelos dados da Conab, e não foi por culpa dos nossos agricultores, foi pelos efeitos climáticos, seca no plantio da soja, atrasou o milho, geada no final, queda de produtividade e de produção. Imaginem o efeito nos preços mundiais em meio a uma crise de um país como o Brasil colher 20 milhões a menos do potencial, e isso ainda sem computarmos os recentes efeitos da geada na hortifruticultura, pastagens, cana, trigo e demais culturas. É inflação óbvia de alimentos.

Então imaginem que iremos iniciar o plantio da próxima safra 2021/22 ainda sob crise hídrica. Os agricultores irão plantar mais, porém não sabemos o que iremos de fato colher.

3 - E por outra coincidência ontem a região de Formosa, no planalto central, ficou na mídia de todo país, por um desfile de veículos militares indo entregar um convite ao chefe do executivo para uma operação de treinamento, exatamente em Formosa, que ocorre há mais de 30 anos, enquanto os representantes do povo se reuniam para votar um assunto de prioridade zero dentro das prioridades nacionais, o voto impresso ou não.

Mas Formosa, deveria ficar famosa ontem, e com Justica, como um exemplo de uma das melhores agriculturas do país, diversificada, integrando tecnologia moderna com práticas conservacionistas e com os melhores índices de irrigação do Cerrado.

Dessa forma o oráculo nos diria, sociedade brasileira consciente, presta atenção, alerta vermelho no planejamento estratégico agroambiental, então olha o foco em mais grão e menos eleição. Formosa, em Goiás, merece ser famosa pelo ótimo agroambiental que seus produtores ali desenvolvem, exemplo nacional.

O dr. Argemiro concluiu me dizendo: “não há mais espaços para negacionismos, também as ideologias nos cegam a razão, o desmatamento amazônico é o maior inimigo dos agricultores, consumidores e cidadãos. Precisamos de foco e que este alerta vermelho nos concentre a todos num planejamento estratégico como estado e nação, para desenvolvermos conhecimentos na mitigação do que não chamo mais uma mudança climática, estamos já vivendo sim uma crise climática”. E isto é responsabilidade de todos.

Recebi também ontem o livro do dr. Sérgio Margulis, da Fundação Konrad-Adenauer e Instituto Clima e Sociedade, com o título: Mudanças no clima, tudo o que você queria e não queria saber. Recomendo.

E para encerrar as previsões do oráculo de ontem, outro estudo, do Ministério da Agricultura com a Embrapa, inédito, presente no inventário nacional, constatam que se não tivéssemos já adotado práticas sustentáveis na pecuária, teríamos aumentado consideravelmente o efeito de gases estufa, uma prova da importância do uso da ciência, como o Programa ABC, agricultura de baixo carbono, para vivermos doravante na terra.

Quer dizer ouvintes, e Carolina Ercolin, na voz de Almir Satter, lá do Pantanal, eu diria, nem esquerda, nem direita, nem centrão, ideologia assassina a razão. Mais alimento, menos eleição. Mais sabedoria para ir tocando em frente com toda sociedade consciente. Brasil ESG é ciência e consciência.

José Luiz Tejon para Eldorado/Estadão

Também pode interessar

Ouvimos Jaime Recena, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (Abicab). Além de destacar o recorde de produção de ovos de Páscoa, Jaime aborda também o amendoim e o leite, além da geração de empregos no setor e perspectivas do chocolate brasileiro no mundo.
Conversei com Hélio Mattar, presidente da Ong Akatu, em uma apresentação excelente sobre governança da sustentabilidade, onde falamos sobre a importância de realizarmos para o agronegócio uma governança da governança.
Segundo a Abiogás, Associação Brasileira do Biogás, temos um potencial para produção de biogás natural renovável na ordem de 121 milhões de Nm3 (metro cúbico normal) no país, o que para dar uma visão de grandeza, equivaleria a substituir em 70% todo óleo diesel usado no transporte, caminhões e ônibus, além de substituindo o diesel, reduzir em 96% as emissões de CO2.
Semana passada comentamos aqui sobre o novo calendário do plantio da soja que foi estendido de 31 de dezembro para meados de fevereiro. E registramos manifestações de entidades considerando esse fato oferecer um “banquete ambiental para a proliferação da doença ferrugem asiática”.
© 2024 José Luiz Tejon Megido. Todos os direitos reservados. Desenvolvido por RMSite