Eldorado/Estadão - O país precisa ir “pra frente”. Quando andamos distraídos, o acaso nem sempre vai nos proteger.
Publicado em 25/03/2024
DivulgaçãoA linda música "Epitáfio", dos Titãs, tem dentro dela um conselho sábio, que faz com que possamos contar com a proteção do “acaso” quando andamos distraídos: “devia ter me importado menos com problemas pequenos”. Eis a chave da questão para a governança de um país, ou mesmo de nossas vidas.
Inspirado por dois brilhantes artigos dos colunistas do Estadão Jorge Caldeira: “China, Brasil e limites da ação voluntária” dias atrás, e Rolf Kuntz: “Novo país, só com novo crescimento”, Estadao 24/3 - Espaço Aberto.
A junção desses dois pensadores convergem para o fato de não nos perdermos nos desvios das distrações. Significa termos o foco em objetivos concretos, com análise de situações concretas, e que não basta criar uma “rede de ação política pela sustentabilidade, com gente qualificada, técnicos entusiasmados, convívio dentro de uma amizade cívica”, quer dizer Jorge Caldeira: “não venceremos uma luta para o progresso e o crescimento do Brasil somente com trabalho voluntário” e nesse artigo Jorge Caldeira mostra que a economia chinesa cresceu 5,2% no ano passado e as análises demonstraram que 40% desse crescimento foi impulsionado por investimentos de US$ 890 bilhões - equivalente ao PIB da Suíça, e isso devido ao mercado de soluções ambientais.
A China teria crescido apenas 3% sem o desenvolvimento dessa economia circular e ambiental com toda uma constelação de ciência, tecnologias, equipamentos, inteligência artificial, painéis solares, etc, onde poderíamos acrescentar biogás, eólicos, biocombustíveis, etc. A China, ainda o maior emissor de gases na atmosfera, encontrou meios de reflorestar 68 milhões de hectares em 10 anos. Rolf Kuntz, em seu artigo, salienta que só iremos crescer, e que sem crescimento não teremos país novo, se tivermos objetivos claros e bem definidos.
Precisamos de um planejamento para darmos saltos expressivos no PIB do país. E temos todas as condições se reunirmos uma visão integrada da economia ambiental, colocando o Brasil no foco do mercado de carbono aliado à inteligência tecnológica dominada de um sistema de agronegócio com Plano ABC, agricultura de baixo carbono, de ILPF integração lavoura, pecuária e florestas, do combustível do futuro, de uma agroindustrialização que acompanhe esse movimento agregando valor, e com uma sabedoria cooperativista que permita dar prosperidade não somente as grandes empresas, mas também aos pequenos e médios.
Estamos as portas de conhecer e detalhar o programa de conversão de 40 milhões de hectares de áreas de pastagens degradadas em produção agropecuária e florestal sustentável. Sem cortar uma árvore, ao contrário, reflorestando numa integração com alimentos e energia.
Qual o valor no mercado de carbono a conversão de 40 milhões de hectares de áreas que emitem gases efeito estufa em função de um solo desprotegido e abandonado, versus uma cobertura sustentável com reflorestamento e derivados econômicos e sociais além do mercado de carbono em si? E qual a dimensão desse foco essencial para o PIB brasileiro também para a imagem do Brasil no mundo?
De fato, Titãs criaram um Epitáfio maravilhoso nessa letra e melodia. O acaso vai me proteger enquanto eu andar distraído. Desde que eu me importe menos com problemas pequenos, por exemplo, os bullyings trocados entre as extremaduras ideológicas, as distrações que nos tiram o foco da maior de todas as essências: o amor ao Brasil, onde só haverá um novo país, com crescimento, indo para frente.
Esse crescimento sabemos como fazer, está num agroconsciente, mas não bastam voluntários, intelectuais e escritores, é hora de uma governança e liderança executiva intrépida corajosa, e de estado, com objetivos claros, pois se andarmos distraídos, nem sempre o acaso irá nos proteger, principalmente se dermos grande importância a problemas pequenos.
José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão.