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DE LÍDER

José Luiz Tejon

Eldorado/Estadão - Os maiores produtores de commodities do mundo não dominam as mesas e as “mentes” dos consumidores do mundo. Precisamos “uma revolução de marketing, os agronautas”

Publicado em 17/06/2024

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Livro Agroconsciente, de José Luiz Tejon e colaboradores.

Conquistar as mesas dos consumidores mundiais com saúde e sabor indo além de produtores de commodities é o desafio estratégico de marketing do sistema agroalimentar dos próximos 10 anos. Duas visões. Uma para a base da pirâmide social do mundo, mercados de baixa renda. E outra para os mercados com renda e que exigem experiências culturais e de prazeres nos alimentos e bebidas.

Um brilhante amigo engenheiro agrônomo, Adonay Anthony Evans, “esalqueano”, está criando um conceito o qual chama de “agronautas”. Significa o aproveitamento da lenda dos “argonautas”, da Grécia clássica, que saíam pelos mares em busca da cura, através dos alimentos saudáveis.
A sua proposta envolve a criação de um sistema agroindustrial,  comercial e de serviços, incluindo a produção agropecuária brasileira, onde ofereceríamos as populações do mundo um “marmitex bom e saudável” pronto para consumo, ou pré-pronto através de uma rede de micros pontos de distribuição. “ Precisamos de uma revolução de marketing”, afirma.

Trata-se de uma visão espetacular quando compreendemos a existência de 4 bilhões de seres humanos na terra com insatisfação e insuficiência alimentar básica. As cooperativas seriam vitais para um projeto como esse.

Outro ângulo da mesma história, de irmos além da venda de commodities, está na proposta do alimento como saúde. Conceito proposto hoje pelo prof. dr. Ray Goldberg o próprio criador da visão de agribusiness em Harvard nos anos 50.

Um estudo feito pelo Journal of Cultural Economics mostra quem são os países que “exportam e dominam as mesas do mundo”, versus os importadores da cultura alimentar do planeta.

Maiores exportadores da gastronomia cultural alimentar são: Itália, disparado na frente, Japão, uma conquista dos últimos 30 anos, e depois vem Turquia, México, Tailândia, França, Egito, Grécia, Venezuela e Vietnã.

No mesmo estudo são apontados os “importadores das culturas alimentares”. Estados Unidos, o campeão mundial da importação da “cozinha” do mundo, a China em segundo lugar. E surge o Brasil curiosamente na terceira posição, revelando que apesar de sermos hoje a quarta maior agropecuária do mundo, o maior exportador industrial em volume do mundo (Fonte ABIA), os líderes em cerca de 10 grandes commodities, como soja, milho, carnes, suco de laranja, açúcar. Não vendemos os nossos “terroir”.

E sobre isso destacamos um extraordinário trabalho do Sebrae criando as indicações geográficas, as denominações de origem, e valores que ficam impregnadas de cultura, prazer, saúde, sabor considerando cada microbioma e culturas do país.

Exemplos excelentes encontramos em Espírito Santo do Pinhal, São Paulo, Monte Carmelo com cafés especiais, queijo canastra em Minas, Holambra a cidade das flores com a quarta maior cooperativa de flores do mundo e denominações de origem como vinhos Merlot ou Chardonnay, do Vale dos vinhedos no Sul, o mel de abelhas de Ortigueiras no Paraná etc. Temos 94 indicações geográficas no país, 71 indicações de procedência e 23 denominações de origem. No mundo são cerca de 10 mil indicações geográficas registradas e 90% delas em países desenvolvidos.

Então, podemos produzir commodities mas ninguém come commodities, o mundo quer consumir saúde, sabor, prazer e contar com segurança alimentar.

O mercado atual mundial de todo agribusiness é de cerca de mais de US$ 20 trilhões anuais. O Brasil movimenta em torno de US$ 500 bilhões. Somos algo como 2,5% do mercado mundial do agro.

Com certeza, precisamos passar a disputar com inteligência de marketing a preferência nas gôndolas dos supermercados e também nas mesas e refeições dos consumidores mundiais.

Tanto para os exigentes consumidores do melhor dos “terroir” do mundo, quanto para os bilhões mal nutridos e famintos onde a ideia do agrônomo Adonay Evans, pode parecer hoje um sonho impossível, mas por que não? Brazilian food ready to eat for all?

Então, desde os refinados chefs como veremos no Congresso Nacional das Mulheres do Agro este ano, junto com o grupo Band, o evento “Prato Brasil” até uma “marmitex” para o mundo. São oportunidades que o Sebrae tem liderado e trabalhado ao lado do Senar, e Sescoop.

Para um novo olhar colocando metas, foco e planejamento estratégico onde possamos dobrar o agro de tamanho sem concorrer com o que já fazemos e, sim, vendendo muito mais do que já sabemos, mas que ainda não vendemos.

O Brasil pode ser também um campeão mundial das mesas do mundo. Vender sabor, saúde e prazeres dos alimentos e bebidas, além das commodities.

E pra não esquecer, viva a gastronomia das festas juninas! São João, São Pedro e Santo Antônio, festas nascidas para pedir boas safras, e que assim sejam para o próximo ano safra do Brasil.


José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão.

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