CABEÇA
DE LÍDER

José Luiz Tejon

Eldorado/Estadão - Política agrícola + política industrial: está na hora de uma convergência consciente agronacional.

Publicado em 29/01/2024

Divulgação
Ivan Wedekin, ex-secretário de Política Agrícola

Conversei com Ivan Wedekin, que foi secretário de política agrícola ao lado do ministro Roberto Rodrigues no primeiro governo Lula e que instituiu pilares importantes e até hoje mantidos e reforçados ao longo dos governos. Sua entrevista completa está na sonora abaixo.

Estamos vivendo uma daquelas situações onde o campo sofre por um lado com os custos elevados, com diminuição da produção em função do clima e com preços retornando a patamares pré-pandemia. Por outro lado, a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos e Bebidas (ABIA), o maior freguês, cliente do produtor brasileiro comprando cerca de 60% da produção agropecuária nacional, informa redução nos preços de todos os derivados dos três principais grãos, trigo, milho e soja, aos consumidores finais.

Segundo a ABIA entre dezembro de 2023 e 2022 o valor do trigo caiu 27,5%. O preço do milho caiu 22,4%. E a soja caiu 21,5%, nesse mesmo período. Então, bom para o consumidor e terrível para o agricultor. Nesse desequilíbrio sistêmico, identificado há 70 anos pelos professores John Davis e Ray Goldberg, em Harvard, onde o conceito do agribusiness foi visualizado exatamente para a busca de uma melhor coordenação das cadeias produtivas, continuamos vivendo ao mar e às  marés das incertezas.

Ivan Wedekin aborda três desafios para uma política agrícola 2024: 1 – Preservar no orçamento do governo em tempo de ajuste fiscal os valores necessários à manutenção da política agrícola nacional considerada uma das melhores do mundo e “barata”. 2 – Fortalecer significativamente o seguro rural, pois está evidente nestes tempos de mudanças climáticas que somente o seguro poderá dar aos produtores condições de assumir riscos para a nova safra. 3 – Estímulos ao crédito privado para depender menos de governo, estimulando os títulos do agronegócio instituídos em 2004, e um aporte muito mais robusto para os investimentos.

Ivan Wedekin ainda enfatiza que a política industrial com R$ 300 bilhões se inspire na política agrícola brasileira, “uma das mais eficientes no mundo”.

E aqui vai a minha provocação: “não estaria na hora de uma verdadeira política de agronegócio brasileira, interligando e conectando a agropecuária com indústria, comércio e serviços, onde empreendedores, cooperativas, agroindústrias, produtores rurais de todos os portes num planejamento estratégico com metas claras no crescimento do PIB do país, pudessem participar dessa orquestra de negócios, investimentos a partir do macro setor, o agro, que representa 1/3 do PIB, e que impacta outro tanto indiretamente?”

O economista Paulo Rabello de Castro, na mesma linha, tem sempre cobrado um plano de crescimento do país com detalhes e definições claras com números e responsabilizações. Da mesma forma como realizamos no universo das corporações empresariais, o agronegócio brasileiro é uma “multinacional brasileira” que movimenta mais de US$ 500 bilhões anuais, com influência total na vida de todos nós, consumidores, comerciantes, industriais, prestadores de serviços, agricultores, e seres humanos do mundo inteiro.

Que o ministro Fávaro se reúna com o VP ministro Alckmin. Temos aí nos dois ministros a agropecuária + comércio, indústria e serviços. O agro no seu conceito original.

Que os R$ 300 bilhões da política industrial se integrem aos R$ 364 bilhões da política agrícola e que essa soma resulte sinergicamente em mais de R$ 1 trilhão de custeio, investimento, seguro, para uma meta que possibilite o agronegócio brasileiro superar  US$ 1 trilhão. Aí, sim, vamos crescer o PIB e diminuir as incertezas e que a falta de coordenação do sistema do agronegócio traz aos seus agentes envolvidos.

Um ano lucra A, perde B. No outro ano lucra B e perde A, e na soma dos anos entre perdas e ganhos sofremos todos por uma desconexão com crescimentos muito abaixo do potencial legítimo a ser transformado em realidade. Polarização é o debate da desgraça onde a má emoção mata a boa razão. Está na hora de uma convergência consciente agronacional.

Ouça a entrevista completa de Ivan Wedekin 👇

José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão.

Também pode interessar

Quando falamos de agronegócio estamos olhando para um sistema agrícola, industrial, comercial e de serviços, totalmente exigente de ciência e tecnologia. A agricultura brasileira é totalmente globalizada.
Estou aqui em Brasília no 2º Fórum Nacional do Leite com Geraldo Borges, presidente da Abraleite – Associação Brasileira dos Produtores de Leite – e temos aí no país cerca de 1 milhão e 200 mil produtores de leite em tudo que é cidade, o consumo per capita eu não sei como é que anda, mas em síntese, perguntei ao Geraldo Borges quais as principais ações do setor do leite brasileiro.
No debate dos presidenciáveis muito se falou da fome, do desemprego e do crescimento do país, e ninguém explicou o papel do agronegócio nisso, nem o mencionou num projeto de governo.
Com a guerra, as narrativas mundiais convergem para afirmações como: “o pior está por vir”. Inflação será mundial. Protecionismo agrícola voltará. Vai faltar alimento na Europa. Nunca dependemos tanto da China para acabar com uma guerra como hoje. Putin é um líder do século XIX atuando no século XXI”.
© 2024 José Luiz Tejon Megido. Todos os direitos reservados. Desenvolvido por RMSite