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José Luiz Tejon

Eldorado/Estadão - “Velocidade com rentabilidade”, afirma o embaixador Roberto Azevedo para a transição verde, pela ABAG na COP28

Publicado em 11/12/2023

Divulgação
Roberto Azevedo, representante da ABAG na COP 28

O embaixador Roberto Azevedo, ex-diretor da  Organização Mundial do Comércio (OMC), e representante da Associação Brasileira de Agronegócio (ABAG) na COP 28, chegando em Doha e vindo de Dubai, me respondeu a três perguntas:

1 – A COP 28 foi bom, ruim ou depende na sua visão?

Roberto Azevedo: Eu acho que os trabalhos da COP 28 e os avanços feitos até agora são preocupantes, mas não apenas para o Brasil. São preocupantes para o mundo inteiro porque não há sequer acordo mínimo sobre conceitos básicos, por exemplo, como dar tratamento adequado aos combustíveis fósseis. Não entender que o combustível fóssil é talvez o coração do problema é sério e, aparentemente, nós demoraremos até acordos que levem a resultados concretos, palpáveis, importantes, consequentes, e isso vai demorar e o mundo não vai esperar. Os países vão agir por conta própria, de forma unilateral, sem coordenação e, claramente, serão introduzidas medidas que no fundo serão contraproducentes e que podem em vez de ajudar, comprometer a consecução das nossas metas climáticas.

2 – O plano de transformar 40 milhões de hectares de pastagem degradada em ativo sustentável como será percebido no país e no mundo?

Roberto Azevedo: Recuperar 40 milhões de hectares de terras degradadas é, sem dúvida, uma ambição muito importante, muito necessária, até porque a população mundial continua crescendo. Nós temos que oferecer segurança alimentar para essa população que se expande e os sistemas alimentares precisam responder com aumento de produtividade e não com aumento de área plantada. Isso é viável, sobretudo se houver um compromisso político firme. Todos têm de estar engajados. Vai ser um montante de recursos financeiros bastante vultoso. Recuperar essas terras não vai acontecer de graça, não é uma coisa que vai acontecer de forma natural, serão necessários investimentos importantes, será necessário um plano de ação para que isso aconteça de forma efetiva, mas é viável. De novo, havendo esse compromisso político, a visão, uma estratégia bem definida e o engajamento de todos, sem dúvida, isso será possível.

3 – A sua frase e a sua visão de como devemos estruturar esse novo agro do futuro! O Agroconsciente.

Roberto Azevedo: Eu complementaria essa frase dizendo que o nosso caminho, doravante, é desenvolver uma estratégia consistente de ação com base em estudos científicos sólidos e com os estímulos e apoio necessários ao nosso produtor. Eu complementaria, assim, porque eu acho que tem muitos elementos que são importantes. O primeiro deles é que nós precisamos agir. Nós não podemos continuar esperando. A agenda climática é urgente, os países estão agindo de forma muito rápida e, mais do que isso, o impacto dessas medidas que são adotadas lá fora  pode chegar com muita velocidade ao nosso agronegócio. Então nós precisamos claramente agir com celeridade. Outro ponto importante é desinformação. Nós precisamos de estudos críveis, isentos, estudos que estejam acertados na realidade da agropecuária tropical, porque os números aqui hoje se veiculam como verdade absoluta em vários fóruns, em vários meios que eu tenho visto, pelo menos, é que muitas vezes são baseados na realidade em extrapolações ou simplificações com muita margem de erro. Extrapolações, inclusive, baseado em estudos que são feitos com uma agricultura temperada do hemisfério norte e que não tem e experimentam uma realidade muito diferente da nossa. E o assunto que nós estamos tratando é sério, a vida e a segurança alimentar de milhões de pessoas estão em jogo. Então nós precisamos tratar isso com toda a seriedade e com base científica muito sólida. E finalmente outro ponto muito importante é que a transição para a economia verde, ela só vai acontecer, e eu estou falando aqui especificamente da recuperação dessas terras degradadas, essa transição só vai acontecer com uma equação econômica que traga rentabilidade ao produtor. E isso eu estou falando aqui, mas se aplica a qualquer setor. A transição para a economia verde só será viabilizada se o agente econômico vir nessa transição uma rentabilidade, um ganho de alguma forma, porque o setor privado, de novo, em qualquer setor, ele vai sempre responder a um estímulo financeiro. Ninguém vai fazer isso pelo bem do clima, pelo bem do meio ambiente, embora até fosse desejável que isso acontecesse, mas não é a realidade porque investir dessa forma retira a competitividade. Então a equação econômica tem de fazer sentido para o produtor.

A visão do embaixador Roberto Azevedo, representando a ABAG na COP 28, é que tem uma falta de governança e parece que vai cada país por si só.

José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão.

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