Eldorado/Estadão - Por que as entidades envolvidas na soja e nos biocombustíveis não foram consultadas sobre a decisão de manter a mistura do biodiesel em 10% para 2022?
Publicado em 10/12/2021
DivulgaçãoDeixar de plantar 20 milhões de árvores e colocar em risco empregos, custos ao consumidor e desacreditar o Renovabio é o que vale a decisão de manter em 10% a mistura do biodiesel, foi o que ouvi do ex-ministro Francisco Turra, atual presidente do Conselho da Aprobio, Associação dos Produtores de Biocombustível do Brasil. “Essa decisão sepultou as esperanças do setor de que poderíamos com o Renovabio ter uma política de estado definitiva”, registrou Francisco Turra.
Por que o governo conseguiu tomar uma decisão que desagradou a toda unanimidade do agronegócio brasileiro sobre a mistura do biodiesel, mantendo 10% para 2022?
Conversei com o ex-ministro Francisco Turra, presidente do Conselho da Aprobio, que me disse: “o setor está constrangido com a manutenção do B10. As alegações do governo são inconsistentes”.
Essa decisão foi tomada pelo CNPE - Conselho Nacional de Política Energética no último dia 29 de novembro, com a alegação de combate à inflação. Porém, não é o que diversas entidades entendem. Desde a Aprosoja, representando os produtores rurais da soja, passando pela Abiove, Associação Brasileira das Indústrias dos Óleos Vegetais que informa: “isso vai gerar uma redução de US$ 2,5 bilhões de renda para o Brasil por que esse biodiesel será substituído pelo diesel importado e aí nós vamos gastar US$ 1,2 bilhão em importação de diesel fóssil”, declarou André Nassar presidente da Abiove.
Pela ABPA, Associação Brasileira da Proteína Animal, representando criadores, trazem outro problema, que é o da extração do óleo que sobra o farelo. Com menos farelo teremos custos mais altos e impactos negativos também sobre o consumidor.
Donizete Tokarski, diretor superintendente da Ubrabio, Biodiesel e Bioquerosene, declarou que a medida reduz empregos e pode até fechar indústrias de biodiesel, onde já temos 54 no país.
Francisco Turra vê que haverá mais soja grão para vender para a China e menos oferta de óleo e de farelo de soja no país, e ainda considera que sob o ponto de vista da sustentabilidade seria como “deixar de plantar 20 milhões de árvores”.
Pergunto: por que uma medida como esta, que incomoda a todo agronegócio, o Ministério da Agricultura não é consultado e as entidades que representam o setor também não? Há uma expectativa das entidades em levar os dados ao presidente Bolsonaro para que possa ser revertida a decisão. Muito estranho tudo isso.
José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão.